segunda-feira, 2 de maio de 2011


A pastoral vocacional do Papa João Paulo II

A proposta vocacional no magistério do Papa
O Santo Padre, assim como Pedro, levou a sério a sua missão de pescador de homens. No seu magistério, viagens, encontros com jovens, ele aproveita todas as oportunidades para lançar as redes. Ofereço a seguir algumas reflexões sobre o que chamo de pastoral vocacional de João Paulo II.

1. A partir da iniciativa de Deus.

A vocação ao sacerdócio e à vida consagrada é uma iniciativa de Deus. Ele, com o seu chamado, vai ao encontro do jovem, pedindo-lhe uma mudança radical no seu caminho existencial. Isto exige de todo promotor vocacional um modo especial de trabalho. Deve-se ajudar a alma a entrar em intimidade com Deus através da oração; porque é nesta intimidade que a alma vai descobrir a vontade concreta de Deus para ela. Tanto o jovem com inquietação vocacional como o promotor que o acompanha devem orar para entrar em sintonia com o Espírito Santo e escutar a sua voz. O diálogo amigável do jovem com Jesus é o ambiente mais propício para escutar, acolher e responder ao plano de Deus. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que quando Jesus chama uma alma não o faz somente para “estar com Ele”, mas também para “enviá-la a pregar”. Jesus quer fazer do vocacionado um mensageiro da sua verdade, testemunha sua no mundo, a serviço do bem espiritual de todos os homens. Conseqüentemente, o promotor vocacional deve alimentar a consciência missionária do jovem.


2. O chamado universal à amizade com Cristo.
O Papa chama todos os jovens, sem exceção, a uma amizade com Jesus. Esta vocação é universal, ou seja, para todos. E já que toda amizade verdadeira é, por sua própria natureza, pessoal, esta vocação universal é, ao mesmo tempo, específica, ou seja, singular e irrepetível na experiência de cada um.
Antes de propor a vocação sacerdotal ou consagrada, o Santo Padre chama os jovens para esta amizade pessoal com Jesus Cristo. A amizade com Cristo traz consigo todos os valores que os jovens estão procurando. Cristo se apresenta como amigo, como companheiro de luta. Ele é o único amigo que nunca falha, porque é o único capaz de nos acompanhar até nas misérias mais íntimas e secretas, naquelas experiências em que ninguém mais pode nos acompanhar: “Meus queridos jovens: a luta contra o mal está presente no próprio coração e na vida social. Cristo, Jesus de Nazaré, nos ensina como superá-la no bem. Ele nos ensina e nos convida com tom amigável, de amigo que não falha, que oferece uma experiência de amizade, tão necessitada pela juventude de hoje, ansiosa por amizades sinceras e fiéis. Façam a experiência desta amizade com Jesus. Vivam na oração com Ele, na sua doutrina, no ensinamento da Igreja”.
É precisamente sobre este fundamento da vida de amizade pessoal com Jesus que o Papa apóia o convite específico ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para aqueles que se sentem chamados no seu diálogo com Jesus amigo.



3. Consciência das dificuldades.
O Papa sempre apresenta a sua proposta partindo do ambiente em que o jovem se encontra, e os ajuda a tomar consciência disto. É dentro deste ambiente concreto que Cristo pede uma resposta; resposta que, antes de mais, conta com a graça de Deus.
“Queridos jovens, num mundo como o nosso é difícil crer? No ano 2000 é difícil crer? Sim, é difícil. Não podemos esconder. É difícil, mas com a ajuda da graça é possível, tal como Jesus disse a Pedro: não foi a carne nem o sangue que te revelaram isto, e sim o meu Pai que está nos céus” (Mt 16, 17).
Não podemos conceber a juventude sem o seu ímpeto entusiasta. No meio de uma situação de perplexidade, o Papa anima os jovens a buscar com paixão a vocação para a santidade. Nada de pessimismo. Ele faz isto porque conhece quem faz o chamado: é Cristo.
“Jovem, levanta-te! Es-tás chamado a procurar apaixonadamente a verdade, a cultivar incansavelmente a bondade, homem ou mulher com vocação para a santidade. Que as dificuldades em que vives não sejam obstáculo ao teu amor e generosidade, mas sim um forte desafio. Não te canses de servir, não silencies a verdade, supera os teus temores, sê consciente dos teus limites pessoais. Tens de ser forte e corajoso, lúcido e perseverante ao longo do caminho”.
O Papa interpreta tudo positivamente. Desta maneira, o ambiente negativo e as dificuldades não são obstáculos, são desafios, metas a alcançar, objetivos que mostram a qualidade daqueles que levam a sério a amizade de Cristo, daqueles que querem dar um sentido para a própria vida e chegar à plena realização.
É verdade que nestes momentos decisivos vocês não estão sozinhos. Deus está presente e é o primeiro interessado; portanto, com serenidade e plena confiança vocês podem dar uma resposta valente e decidida a Ele, digna de todos os chamados à santidade.




4. Nenhum medo de propor.
Na XV Jornada Mundial da Juventude achamos um exemplo muito claro do Papa propondo a vocação com clareza e sem medo. Somente a sua presença já é um chamado. Ele age como João Batista, convidando a seguir Aquele que é o “Cordeiro de Deus". É o início deste desenvolvimento gradual da vocação: “procurar Jesus, segui-lo, permanecer com Ele”.
“Queridos amigos, que através de todo tipo de meios de transporte percorreram tantos quilômetros para vir até Roma, até a tumba dos apóstolos, [...] O que vocês vieram buscar? [...] Esta não é uma viagem qualquer: [...] Permitam-me repetir a pergunta: o que foi que vocês vieram buscar? Ou melhor: quem vocês vieram buscar? [...] A resposta não pode deixar de ser outra: vieram buscar Jesus Cristo! Porém, é Jesus quem busca vocês primeiro. Celebrar o Jubileu não tem mais significado que celebrar e encontrar Jesus”.
A vocação é um chamado pessoal. Deus chama quem Ele quer, com a livre iniciativa do seu amor. Mas Ele também quer chamar através das nossas pessoas. É assim que Jesus quer fazer. Podemos notar isto em André, que leva o irmão Pedro até Jesus, e ainda quando Jesus chama Filipe, que por sua vez chama Natanael e o leva até Cristo.

5. Um chamado direto e explícito.

Em todos os encontros que tem com os jovens, o Papa estabelece com eles um diálogo muito cordial e próximo, e consegue assim tocar pessoalmente no interior de cada um deles. O Santo Padre vai, pouco a pouco, preparando este ambiente de mútua confiança para poder fazer o convite ao encontro pessoal com Cristo de forma clara e direta. Assim o jovem se sente pessoalmente convidado porque realmente se encontrou com Cristo, que o chama e espera dele uma resposta.
Na Jornada Mundial da Juventude celebrada em Roma, em agosto de 2000, o Papa, depois de convidar todos os jovens a se converter em “sentinelas da manhã” e do novo milênio, fiéis a Cristo, entregues a Ele sem medo, fez este chamado vocacional direto e explícito: “Peço ao Senhor que brote entre vocês numerosas e santas vocações ao sacerdócio. [...] Que a participação na Eucaristia frutifique, especialmente, num novo florescer de vocações para a vida religiosa [...]. Se algum de vocês, queridos jovens, sente em si o chamado do Senhor a se entregar totalmente a Ele para amá-lo ‘com o coração indiviso’ (cf 1Cor 7, 34), não se deixe paralisar pela dúvida ou pelo medo. Pronuncie com valentia o ‘sim’ sem reservas”.
No encontro de 1989, em Santiago de Compostela, Espanha, João Paulo fazia o mesmo convite aos jovens: “Convido vocês, queridos amigos, a descobrir as suas autênticas vocações a fim de colaborar na difusão deste Reino de verdade e de vida [...] Não tenham medo de ser santos! Esta é a liberdade com a qual Cristo os libertou. [...] Esta mesma liberdade [...] ajudará vocês a descobrir o autêntico amor. Fará de vocês pessoas abertas a um eventual chamado de doação total no sacerdócio ou na vida consagrada”.
Parece que o Papa sempre tem como prioridade o tema vocacional e, por isso, não duvida em fazer um chamado direto e motivado, bem fundamentado na verdade. E o apresenta com clareza, ganhando a confiança dos jovens cansados de ideais falsos. “Digo a cada um de vocês: escutem o chamado de Cristo quando Ele disser: ‘Segue-me; acompanha os meus passos; fica comigo! Permanece no meu amor!’. É uma escolha que deve ser feita: a escolha por Cristo e pelo seu modelo de vida, pelo seu mandamento de amor! [...] A vocês, em nome de Cristo, eu estendo o chamado, o convite: vem e segue-me! Por isso eu vim para os Estados Unidos e por isto estou esta noite em Boston: para levá-los a Cristo, para chamar todos e cada um de vocês a viver no seu amor, hoje e sempre”.
Como podemos ver, João Paulo II propunha a todos o seguimento de Cristo; mas também faz sempre uma proposta explícita a segui-lo no sacerdócio e na vida consagrada.

6. Motivar sobrenaturalmente.

A vocação é um convite de Deus a uma alma para colaborar com Ele na salvação eterna das almas. A vida sacerdotal e consagrada comporta os mais belos e nobres ideais; mas ao mesmo tempo traz consigo algumas dificuldades próprias que o Papa, como já vimos, não desconhece.
A proposta vocacional não pode ser feita com razões meramente humanas, que escondam essas dificuldades. O Papa sempre apresenta motivações sobrenaturais aos jovens quando lhes propõe a vocação, porque somente elas justificam esta vida. “Convido vocês, queridos amigos, a descobrirem a sua real vocação [...] Deixem que Cristo reine no seu coração, que os ajude a discernir e crescer no domínio de si mesmos, que os fortaleça nas virtudes, que os encha de caridade, que os conduza pelo caminho que leva à ‘condição de homem perfeito’. Não tenham medo de ser santos! Esta é a liberdade com que Cristo os libertou. Não como os poderes deste mundo a prometem, com a ilusão e o engano”.
O jovem com vocação deve responder com o próprio amor ao chamado de amor de Deus. Amor a Deus e às almas, que vai amadurecendo no contato freqüente com Deus na oração e nos sacramentos. Este chamado a não ter medo de ser santo é um convite do amor misericordioso de Deus por cada uma das almas. “A vocação ao ministério sacerdotal é essencialmente um chamado à santidade, na forma que brota do sacramento da Ordem. A santidade é intimidade com Deus, é imitação de Cristo [...]; é amor sem reserva pelas almas e doação ao verdadeiro Bem; amor pela Igreja que é santa e que nos quer santos, porque tal é a missão que Cristo nos confiou” (Pastoris dabo vobis, 33). Jesus chamou os apóstolos “para estarem com Ele (Mc 3, 14) e numa intimidade privilegiada (cf. Lc 8, 1-2;22,28). Não só os faz partícipes dos mistérios do Reino dos céus (cf. Mt 13, 16-18), mas também espera deles uma fidelidade maior segundo o ministério apostólico para o qual os chama”(9).
As motivações sobrenaturais ajudam a manter o olhar fixo em quem nos chamou, na missão e nas almas que foram confiadas a nós, e nos ajudam a perceber que, apesar das nossas limitações, é Deus quem age e nós somos os seus instrumentos, as suas testemunhas.

7. Indicar e apresentar os meios oportunos para sustentar a resposta do jovem.

Já que a vocação é um chamado pessoal de Deus à alma, quem está acompanhando o discernimento vocacional não pode se esquecer de que Deus está chamando a alma para cumprir uma missão muito particular e concreta. Portanto, tem a obrigação de ajudá-la a escutar a voz de Deus que chama e mostra o caminho. “A Igreja recebeu de Cristo o direito e o dever de chamar e propor a vocação consagrada: não para impor carismas e ministérios àqueles que não os tenham recebido do Espírito Santo, mas para revelar o projeto de Deus inscrito no coração de muitos jovens, freqüentemente abafado pelas circunstâncias ambientais. Por outro lado, os jovens e as jovens têm o direito e o dever de ser ajudados para descobrir e viver o chamado de Deus”.
O jovem que está por tomar a sua decisão vocacional, ao pronunciar com coragem o próprio “sim” sem reservas(11), se acha diante de uma decisão que envolverá toda a sua vida. Por isso, é oportuno oferecer a eles meios de cultivo espiritual e experiências apostólicas para ajudar a amadurecer a sua resposta pessoal ao chamado de Cristo.

8. Acompanhar.

O Papa lembra que neste processo de discernimento os jovens precisam de um orientador experiente, para descobrir a voz de Deus: “No trabalho de discernir, o diretor espiritual ajuda muito: escolher uma pessoa competente e recomendada pela Igreja, que escute e acompanhe ao longo do caminho da vida, que esteja ao lado de vocês tanto nas opções difíceis como nos momentos de alegria. O diretor espiritual ajudará a discernir as inspirações do Espírito Santo e a progredir num caminho de liberdade: liberdade que deve se conquistada através de uma luta espiritual (cf. Ef 6, 13-17) e que deve ser vivida com constância e perseverança”.
Compete a nós estar ao seu lado, ensinando o caminho que leva a Cristo, resolvendo as suas dúvidas e medos para que eles respondam com plena liberdade e coragem ao convite do Senhor: “Vem e segue-me.


Fonte: www.catholic.net

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