Fiéis ao compromisso
ABRINDO O JOGO
Hoje, mesmo que as várias instituições tenham inventado contratos e mais contratos, juramentos, etc., com facilidade extrema se volta atrás depois de uma promessa feita. É normal, portanto, que duas pessoas que declararam fidelidade para a vida inteira, depois de pouco tempo decidam se separar. Isso acontece até com sacerdotes que, descobrindo depois de um certo tempo que a promessa feita a Cristo e à sua Igreja perdeu a intensidade, decidem deixar o sacerdócio.
Em lugar de fazer aqui uma análise detalhada sobre os “porquês” e as causas de tantos “abandonos”, pois muitos sociólogos já estão pensando nisto, gostaríamos de suscitar algumas provocações ou perguntas que, auxiliados por alguns dados psicológicos, poderiam nos ajudar a entender mais o valor da fidelidade.
É POSSÍVEL SER FIEL?
É claro que a pessoa pode sempre rever ou modificar o seu compromisso, mas as mudanças não significam que a fidelidade é impossível ou que a pessoa não esteja conseguindo ser fiel. Significa que ela é livre para assumir o compromisso “por toda a vida” e, ao mesmo tempo, livre para voltar atrás.
Por exemplo, na vida matrimonial, os adultérios, com suas atitudes, demonstram que a fidelidade é fruto de uma decisão que permanece livre
mesmo depois da decisão tomada.
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA
Na pessoa existe algo que permanece, um “fio de ouro” que permanece mesmo com o passar do tempo e o mudar das situações. Este elemento é o seu “eu” que quer afirmar-se sempre mais através dos compromissos assumidos.
Na pessoa este “eu” pode se comprometer com o futuro, desde que, nas mudanças, permaneça fiel a si mesmo, consolidando-se e empenhando-se por valores objetivos.
Para ser mais concretos, vamos ver um pouco como isso acontece na vida de quem é chamado para uma vocação de consagração.
O consagrado é chamado a viver alguns valores como: união com Deus, seguimento de Cristo através de uma vida pobre, casta e obediente, doação da própria vida ao serviço dos irmãos... Se a vida do consagrado não se comprometer com estes valores, aos poucos ela se torna sem sentido, o seu “eu” se fragmenta, a pessoa perde a própria identidade e se dissolve nos vários acontecimentos do dia-a-dia.
A pessoa pode, portanto, ser fiel, pois o seu “eu” pode se comprometer e apostar nos valores “para sempre”. Uma pessoa consagrada que aos poucos vai perdendo o gosto pela oração, que não procura mais a vida sóbria como caminho para as próprias escolhas, que quer ser dona da própria vida e não confia mais nas mediações que a Igreja lhe oferece, que favorece um certo aburguesamento, distanciando-se do povo, com o tempo corre o sério perigo de comprometer a sua fidelidade ao próprio chamado e à própria vocação. A vida dela começa a perder significado e surgem as perguntas: Por que estou fazendo tudo isso? Por que enfrentar um desafio tão difícil para mim? Nesta altura do campeonato, a pessoa não está mais lançada em viver o valor, mas tenderá sempre mais a reduzir a sua importância.
O QUE DIZ A FÉ?
Devemos reconhecer continuamente este fato primário em todo o momento da fidelidade do cristão, e ainda mais da pessoa consagrada que é chamada a doar-se por meio de valores que vão além da situação momentânea e merecem que a pessoa se consagre a eles por toda a vida.
“Se estes conseguiram chegar à santidade, porque não posso chegar lá também eu?” (Santo Agostinho)
Por Pe. José Negri - PIME
Psicólogo e Sacerdote
Fonte: http://www.pime.org.br
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