O zelo de Jesus
Operação limpeza! O Evangelho de João relata a expulsão dos vendilhões do templo no início da vida pública de Jesus à diferença de Marcos que a coloca no fim. Para os dois evangelistas, a mensagem é a mesma: Jesus é “cabra marcado para morrer”. Jesus faz um gesto profético e corajoso para salvaguardar a pureza da verdadeira religião contra o ritualismo dos sacerdotes do templo que obviamente não podiam e nem queriam entender uma tomada de posição como esta. Para João, este episódio, é o começo do fim (humano e temporal) de Jesus, mas, é também, o começo do fim (finalidade) de sua mensagem que é... “escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos” (I Cor 1,23). Jesus podia se permitir isto, pois, somente seus ensinamentos e suas palavras são “perfeitas”, “sabedoria”, “precisas”, “brilhantes”, “refinadas”, “mais doces que o mel”.(Salmo 18). Elas são, de fato, o aperfeiçoamento das dez palavras que Deus deu a Moisés (Ex 20, 1-3.7-8.12-17).20,1-3
O que diz o texto- Jo. 2, 13-25
a)Estamos num contexto pascal (a primeira das 3 Páscoas de Jesus em João) e no templo, onde os cambistas faziam “os seus negócios”. Segundo a lei não se podia entrar no templo com moeda estrangeira (ex. romana) e os cambistas judeus faziam estas “trocas” também na compra de pombas, ovelhas e bois para o sacrifício. Jesus fica indignado com este comércio nada “admirável” e toma esta posição dura e corajosa de expulsar estes vendilhões (v.15). Este episódio é conhecido, eufemisticamente, como “purificação do templo”.
b)Naturalmente “comprou briga” com este pessoal todo que lhe pedem “sinais”.. Esta palavra sinal está presente 76 vezes no NT e oitenta no VT. Os judeus muitas vezes pediam sinais a Jesus (Cfr. a primeira leitura I Cor 1,22) porque a história deles era marcada por milagres estrondosos e não conseguem ver isto em Jesus. Jesus fará entender- e a segunda leitura explicita ainda mais - que ele oferece um sinal diferente, a cruz, “escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos” (I Cor. 1,23), de fato Jesus afirma “Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei” (v.19) querendo falar da morte e ressurreição de seu corpo. O texto usa de propósito o verbo “reerguer”, que indica ressurreição. Mas isto só foi entendido pelos apóstolos bem mais tarde enquanto os judeus tomaram estas palavras de Jesus ao pé da letra. Ele, o Verbo Encarnado, é o verdadeiro e definitivo templo no seu corpo morto e ressuscitado.
c) É bem verdade que alguns acreditaram nos “sinais” de Jesus (v 23-24), mas Jesus não deu muita bola para eles, pois, “não precisava do testemunho de ninguém acerca do ser humano, porque ele conhecia o homem por dentro”. Uma fina consideração de psicologia e sabedoria de Jesus que obviamente vale também para os nossos dias!
O que o texto diz para nós
Imaginemos hoje alguém fazer isto em nossas igrejas! Seria considerado louco “varrido”. Jesus quer dizer com esta profecia, que o culto judaico perdeu sentido, mostra o vazio das liturgias do templo realizadas sem misericórdia e amor e antecipa sua morte e ressurreição. Ele se coloca na linha profética do AT, sempre voltada para uma religião mais pura e verdadeira e hoje, esta alerta de Jesus é também para nossas Igrejas, católica e não, que voltando- se para o mercado, deixam de lado o aspecto comunitário, bíblico e social, e não incomodam mais ninguém. Como você vive esta dimensão em sua comunidade?
A profecia não pode faltar nunca na Igreja que não pode fazer média com o poder e as elites para “comer mais milho!”. A CF, este ano, toca um tema ligado ao público, ao poder e sonha com um bom sistema de saúde voltado realmente para o povo, nos convocando todos nós para um engajamento, sinal quaresmal de conversão.
Outro convite, que nos faz o Evangelho, é aquele de avaliar nossa mística, nossa espiritualidade e oração que não pode ser apenas bonita, intimista, mas aberta aos outros e ao mundo.
Nós somos em Cristo o novo Templo de Deus, do E.S! O Templo de nossa vida e do nosso corpo, já foi “levantado” ressuscitado pelo Batismo. Todavia, precisamos estar atentos\as para que não caia de novo sem esquecer que temos o dever missionário de levantar os “templos” de todos os irmãos e irmãs, seja espiritualmente que fisicamente. Mais uma vez a CF é “prato cheio” para isso.
A Palavra nos faz viver
Podemos resumir este terceiro domingo de Quaresma nestas três palavras.
“Eu sou o Senhor teu Deus...não terás outros deuses além de mim.” (Ex 20,2-3). Uma sacudida forte contra toda idolatria! Portanto o poder, o dinheiro, o prazer, o esporte, os contra - valores em geral não devem tomar o lugar de Deus. Os mandamentos - e acima de todos eles o amor- apresentados na I leitura, devem ajudar a viver este Absoluto, claramente segundo a vocação de cada um\a.
O “Zelo” (Jo 2,17) pelas coisas de Deus, pelo Evangelho, pelo Reino, pela santidade, pela vida contra o mercantilismo da fé ou contra uma fé fácil e diet sem compromissos com a verdade e justiça. Eis o convite da CF:
“As religiões sempre ofereceram respostas à busca de um sentido para a existência e seus grandes desafios, particularmente em relação à dor, ao sofrimento, ao mal e à morte, que afligem a humanidade indistintamente. Nesse sentido, procuremos ouvir não só os ensinamentos bíblicos, como também os, da teologia e da prática pastoral da Igreja, a fim de iluminar esta questão vital para todos (Texto base da CF n. 146)
A Cruz que é o escândalo e insensatez também para nós hoje não pode mesmo ser banida de nossa vida. Não existem páginas que podem ser rasgadas na mensagem de Jesus. Ou pegamos o “pacote” todo ou, rejeitando uma página, rejeitamos Jesus inteiro! Paulo no seu tempo tinha que combater a sabedoria humana e apontou para uma loucura: a cruz de Jesus. Quando não entendia esta loucura perseguiu os cristãos, mas agora, “conquistado por Cristo Jesus” (Fl 3,12) faz dela mensagem de vida e salvação com audácia incrível.
Têm comerciantes e ladrões no Templo de sua vida? Olhe “Ele conhece por dentro”!
A Palavra nos faz orar
A oração da Coleta deste domingo se volta de novo para o jejum, para a esmola e oração, mas, vividos com um coração novo:
Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta profissão de nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia.
Um convite amigo(a): procurar o “temor do Senhor” (salmo 18) que é puro verdadeiro, em nossa oração e intimidade com Deus nesta semana. Uma oração de alegria, de respeito de Deus, de amor, que se abre à comunidade e ao mundo como os braços de Jesus na cruz.
Padre Mário Guinzoni OSJ
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