segunda-feira, 9 de abril de 2012

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

A pessoa que se abre ao mistério entra na lógica da vocação. Descobre que o ser “eu”, enquanto ser vivente está envolvido pelo mistério de amor, o qual possibilita compreender e saborear uma verdade extraordinária, de que a vida é um bem recebido

Aquele mistério que chama

Quem se abre ao mistério descobre o como a fonte do seu próprio ser, mas na realidade sente-se totalmente e constantemente envolvido por ele. Se o amor, de forma misteriosa e concreta, determinou a existência da criatura, tal amor não pode não continuar a acompanhar esta vida existencial, não pode deixar de se colocar ao centro da vida e do coração do vivente, não pode, ainda, deixar de imprimir um significado correspondente aquela vida, a vida de todos.
Qual significado? Aquele que brota inevitavelmente da descoberta do amor como fonte do existir e do próprio existir: a vida é um bem recebido que tende, por natureza própria, a se tornar bem doado. Este é o sentido e a verdade da vida, de toda vida, é o seu sentido eucarístico, como se pode observar na reflexão do texto de Emaús, quando os dois discípulos reconheceram Jesus no partir o pão: “...tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a eles” (Lc 24,30). Este sentido é, pois, aquilo que realiza o ser humano, promove-o e lhe dá liberdade, e aquele senso natural de gratificação e felicidade que todos nós buscamos, mas que se pode atingir apenas quando se respeita a verdade da vida.Isto é aquilo que todo ser humano é, eque é chamado a ser. É aquela verdade que o torna livre, livre de cumprir coisas extraordinárias (fazer-se dono de si) e, ao mesmo tempo, ordinárias, pois é totalmente natural e normal que o bem recebido transforme-se em bem doado, ou continue sendo dom, ou que a gratidão transforme se em gratuidade. É lei psicológica antes de ser norma evangélica; não é heroísmo oferecer a vida em dom, é algo lógico que alguém possa fazê-lo, na absoluta certeza
que por mais que doe sua vida aos outros, nunca chegará a sequer empatar com o dom da vida que recebeu do Outro. Também isto é parte do mistério. Parte daquele amor misterioso que surge de dentro, daquele amor que nos gerou e que ainda gera em nós vidas novas e nova alegria em viver.

Vocação e liberdade
Prezado leitor, esta é a sua vocação. Sim, afirmo a você com absoluta segurança.
Eu não o conheço como não conheço o seu nome, nem conheço o seu passado, nem posso prever seu futuro, mas certamente sei que também você é chamado a viver desta forma a sua vida, porque é verdade que também a sua vida é um bem recebido
que tende, por sua própria natureza, a se tornar bem doado. E você sabe que é livre para fazer a escolha que deseja em relação ao seu futuro, mas não é livre, em todo caso, para sair desta lógica ou de contradizer o sentido fundamental da vida; você não é livre para fazer uma escolha que contradiz, na prática, aquele nexo fundamental e misterioso que une a consciência do bem recebido à decisão de doar o amor e o bem recebido.
Você não é livre para ter a vida pra si, de usá-la como um possuidor, de pensar o futuro apenas em termos mesquinhos de organização profissional, sentimental, econômica... Você não é livre para fazer tudo isto porque em seu interior uma força misteriosa o empurra para outra direção. Se você a sufoca, apaga a luz de seu interior; se a omite, não sabe mais quem você é; se a ignora ou a contradiz, é como se você se suicidasse, ou fizesse algo contra seus interesses,
tornando-o infeliz, um verdadeiro monstro, um ser deformado, que nega a própria verdade.

Vocação e felicidade

Parafraseando o evangelho podemos dizer que a verdade não apenas torna você uma pessoa livre, mas lhe dá felicidade, uma felicidade genuína, profunda e estável, que nasce da certeza de ser verdadeiro, ser você mesmo, e do prazer maravilhoso de circular o amor na sua vida e através de sua vocação. E isto para torná-lo à disposição de todos. Esta alegria encontra-se pacata dentro de seu coração. Ninguém poderá tirá-la, mas também não poderá deixar de ser contagiado. É a felicidade do chamado.

Pe. Amedeo Cencini, FC
Fonte: Revista Rogate- maio de 2007

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