ANIMAÇÃO VOCACIONAL
A pessoa que se abre ao mistério
entra na lógica da vocação. Descobre que o ser “eu”, enquanto ser vivente está envolvido
pelo mistério de amor, o qual possibilita compreender e saborear uma verdade extraordinária,
de que a vida é um bem recebido
Aquele mistério que chama
Quem se abre ao mistério descobre
o como a fonte do seu próprio ser, mas na realidade sente-se totalmente e
constantemente envolvido por ele. Se o amor, de forma misteriosa e concreta, determinou
a existência da criatura, tal amor não pode não continuar a acompanhar esta
vida existencial, não pode deixar de se colocar ao centro da vida e do coração
do vivente, não pode, ainda, deixar de imprimir um significado correspondente
aquela vida, a vida de todos.
Qual significado? Aquele que
brota inevitavelmente da descoberta do amor como fonte do existir e do próprio
existir: a vida é um bem recebido que tende, por natureza própria, a
se tornar bem doado. Este é o sentido e a verdade da vida, de toda vida, é o
seu sentido eucarístico, como se pode observar na reflexão do texto de Emaús, quando
os dois discípulos reconheceram Jesus no partir o pão: “...tomou o pão,
abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a eles” (Lc 24,30). Este sentido é,
pois, aquilo que realiza o ser humano, promove-o e lhe dá liberdade, e aquele
senso natural de gratificação e felicidade que todos nós buscamos, mas que se
pode atingir apenas quando se respeita a verdade da vida.Isto é aquilo que todo
ser humano é, eque é chamado a ser. É aquela verdade que o torna livre, livre
de cumprir coisas extraordinárias (fazer-se dono de si) e, ao mesmo tempo,
ordinárias, pois é totalmente natural e normal que o bem recebido transforme-se
em bem doado, ou continue sendo dom, ou que a gratidão transforme se em
gratuidade. É lei psicológica antes de ser norma evangélica; não é heroísmo oferecer
a vida em dom, é algo lógico que alguém possa fazê-lo, na absoluta certeza
que por mais que doe sua vida aos
outros, nunca chegará a sequer empatar com o dom da vida que recebeu do Outro.
Também isto é parte do mistério. Parte daquele amor misterioso que surge de
dentro, daquele amor que nos gerou e que ainda gera em nós vidas novas e nova
alegria em viver.
Vocação e liberdade
Prezado leitor, esta é a sua
vocação. Sim, afirmo a você com absoluta segurança.
Eu não o conheço como não conheço
o seu nome, nem conheço o seu passado, nem posso prever seu futuro, mas
certamente sei que também você é chamado a viver desta forma a sua vida, porque
é verdade que também a sua vida é um bem recebido
que tende, por sua própria
natureza, a se tornar bem doado. E você sabe que é livre para fazer
a escolha que deseja em relação ao seu futuro, mas não é livre,
em todo caso, para sair desta lógica ou de contradizer o sentido fundamental
da vida; você não é livre para fazer uma escolha que contradiz, na
prática, aquele nexo fundamental e misterioso que une a
consciência do bem recebido à decisão de doar o amor e o bem recebido.
Você não é livre para ter a vida
pra si, de usá-la como um possuidor, de pensar o futuro apenas em termos
mesquinhos de organização profissional, sentimental, econômica... Você não é
livre para fazer tudo isto porque em seu interior uma força misteriosa o
empurra para outra direção. Se você a sufoca, apaga a luz de seu interior; se a
omite, não sabe mais quem você é; se a ignora ou a contradiz, é como se você se
suicidasse, ou fizesse algo contra seus interesses,
tornando-o infeliz, um verdadeiro
monstro, um ser deformado, que nega a própria verdade.
Vocação e felicidade
Parafraseando o evangelho podemos
dizer que a verdade não apenas torna você uma pessoa livre, mas lhe dá
felicidade, uma felicidade genuína, profunda e estável, que nasce da certeza de
ser verdadeiro, ser você mesmo, e do prazer maravilhoso de circular o amor na
sua vida e através de sua vocação. E isto para torná-lo à disposição de todos. Esta
alegria encontra-se pacata dentro de seu coração. Ninguém poderá tirá-la, mas
também não poderá deixar de ser contagiado. É a felicidade do chamado.
Pe. Amedeo Cencini, FC
Fonte: Revista Rogate- maio de
2007
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