Eu “sou o bom
pastor” – afirma Jesus neste domingo.
Jesus, o pastor por excelência, é aquele que o próprio Deus pela boca dos
profetas tinha prometido (Ez, 34, 11-31;
Jr 3,15 etc.). Neste domingo somos chamados
a avaliar, diante de Cristo,
nosso pastoreio como cristãos e como lideranças, e denunciar os mercenários, na
escola, na política, na economia, na saúde, na justiça, na comunicação e em
outros seguimentos da sociedade, que sufocam a vida, os ideais, a esperança.
Hoje também celebramos o 49° dia Mundial de Oração pelas Vocações, e o
Papa convida-nos a refletir sobre o tema “As vocações, dom do amor de Deus”. Diz o papa: “Cada vocação
específica nasce da iniciativa de Deus, é
dom do amor de Deus! É Ele que realiza o primeiro passo, e não o faz por
uma particular bondade que teria vislumbrado em nós, mas em virtude da presença
do seu próprio amor “derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5, 5). Minha gente tem muito para
refletir, orar e para se comprometer. Muita coragem e fé para todos (as)!
O Evangelho nos
fala: Jo 10,11-18
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas
suas ovelhas” (v. 11)
Ao dizer “eu sou” Jesus se declara Deus. Lembrar o “Eu sou”
do AT quando Javé apareceu a Moisés em Ex 3,6. 14. A tradução poderia ser o bom
pastor e o “belo” pastor, pois, “καλός”
significa belo e também
bom. A beleza que caracteriza o pastor que nos guia com firmeza é justamente
sua bondade seu amor, ternura, o estar totalmente pronto a dar a vida. Exatamente
como quando nós dizemos: “aquele cara é bom”! A imagem do bom pastor é
encontrada já no AT, entre outros textos, em Zc. 12,10 e 13,7, que são
profecias depois retomadas e aplicadas a
Jesus (Mt.26,31; Jo 19,37). Em João 10,11-15 a imagem é de um
pastor salvador das ovelhas, pois, a característica principal do pastor é “dar
a vida” pelas ovelhas e a salvação para humanidade inteira (Jo 3,17;
12,47). Jesus não somente dá a vida, mas a “depõe”: liberdade extrema de
Cristo de sacrificar livremente a sua vida pelas ovelhas. João usa o mesmo
verbo “depor” 5 vezes nestes poucos versículos para mostrar a
importância e o grande amor do pastor pelas ovelhas.
“O mercenário, porém, que não é pastor, a quem não
pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo, abandona as ovelhas e
foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. O mercenário, porém, foge, porque é
mercenário e não se importa com as ovelhas”. (v. 12-13)
O mercenário se caracteriza por 5 coisas: 1) não é pastor;
2) as ovelhas não são suas, não lhe pertencem; 3) abandona e sai correndo; 4)
trabalha por dinheiro; 5) não se importa com as ovelhas. Nestes dois versículos
é muito clara a figura de Judas que não tinha nenhum interesse pelos pobres “porque
era ladrão” (12,6), ou seja, era mercenário.
“Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas e as
minhas ovelhas conhecem a mim, como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai. Dou
a minha vida pelas minhas ovelhas”. (v. 14-15).
A beleza - bondade do pastor é aqui expressa com o verbo
conhecer (4 vezes!) = amar com imenso amor. Entre o pastor e as ovelhas se
instaura um relacionamento íntimo de conhecimento e de comunhão de vida, o
mesmo entre Jesus e o Pai! Lembrar também, para confirmar Jo 13,1 e 15,3.
“Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco.
Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um
só pastor”. (v. 16).
O pensamento do bom pastor vai às outras ovelhas que não
fazem parte do redil, mas ele deve conduzi-las junto ao rebanho, porque esta é
a sua missão, “dar a vida eterna” (v.28).
“O Pai me ama, porque dou a minha vida para retomá-la.
Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como
tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai”. (v. 17-18).
Jesus oferece a sua vida na adesão filial ao Pai, no “mandamento” que recebeu dele! Mas assim
como ele tem o poder de depor a vida, tem também o poder de retomá-la;
Duas vezes repete a palavra poder “έξουσίαν”
que significa liberdade, faculdade, capacidade, potestade, poder,
autoridade. Este termo é característico
do NT, de forma especial em Atos.
A Palavra ilumina nossa vida
1) Todos nós queremos
ser livres e não ovelhas que vão atrás de um pastor! Muito embora nos possa
parecer um pouco estranho sermos comparados com um rebanho, esta imagem reflete
a nossa CONDIÇÃO ESPIRITUAL INAPELÁVEL:
sem meios de defesa e sem um guia que se revele um pastor verdadeiro, podemos
ser arrebatados pelos “lobos”. Por falar em lobos: faça uma lista de lobos no
mundo de hoje e até uma sua pessoal, afinal, é bom lembrar que cada um\a de nós
tem lobos de “estimação” que criamos bem
dentro de nós. Ou se prefere faça uma lista de maus pastores que querem tomar
conta de nossas consciências, costumes, sonhos....Mas, espera um pouco, você é
um bom pastor\a?
2)Jesus é sem dúvida o único BOM PASTOR! Mas temos nesta
liturgia, também um exemplo de Bom Pastor na pessoa de PEDRO com estas peculiaridades:
a) “Cheio de ES” (v. 8);
b) Fala
e age em “nome de Jesus” (v. 10)
centrando a vida nele;
c)
Age com ousadia, coragem.
3) Somos FILHOS\AS DE DEUS! E há um presente maior do que ser Filho (a) de
Deus? Certamente não! É a nossa condição de filhos\as, pura gratuidade do amor
de Deus ( I Jô 3,1) que nos torna, cada um\a de seu jeito e condição pastores
de pessoas: filhos, esposo\a, membros da comunidade, companheiros de trabalho,
na escola ou faculdade..Em qualquer lugar posso exercer a missão do pastoreio e
do missionário\a: cuidando dos interesses de Jesus como filho e filha de Deus.
4) “VOCAÇÕES DOM DE AMOR DE DEUS”. É
muito bom, neste domingo do Bom Pastor, refletir que somos objeto de amor de
Deus em toda nossa caminhada vocacional e que Ele nos ama desde sempre
sobretudo:
a) na vida;
b) no batismo;
c) na nossa
vocação específica.
Um mergulho no
amor de Deus para agradecer e assumir com mais garra o projeto dEle sobre nós.É
uma forma concreta para ser “pastor-pastora” do nosso próprio coração. Mais um
trecho da mensagem do papa:
“Amados irmãos e irmãs, é ao amor que devemos abrir a nossa
vida; cada dia, Jesus Cristo chama-nos à perfeição do amor do Pai (cf. Mt
5, 48). Na realidade, a medida alta da vida cristã consiste em amar “como”
Deus; trata-se de um amor que, no dom total de si, se manifesta fiel e fecundo.
À prioresa do mosteiro de Segóvia, que fizera saber a São João da Cruz a pena
que sentia pela dramática situação em que ele então se encontrava, este santo
responde convidando-a a agir como Deus: “A única coisa que deve pensar é que
tudo é predisposto por Deus; e onde não há amor, semeie amor e recolherá amor”
(Epistolário, 26).
Orar e contemplar: o Salmo do Bom Pastor
“Senhor é meu pastor,
nada me faltará. Em verdes prados ele me faz repousar.
Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma. Pelos
caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome. Ainda que eu atravesse o vale
escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bordão e vosso cajado são o meu
amparo. Preparais para mim a mesa bem à vista de meus inimigos. Derramais o
perfume sobre minha cabeça, e cálice transborda. A vossa bondade e misericórdia
hão de seguir-me por todos os dias de minha vida. E habitarei na casa do Senhor
por longos dias.”
Pergunte-se: o que eu
fiz, o que estou fazendo, o que eu vou fazer para promover as vocações na
Igreja?
Bom final de semana
para todos e todas- Padre Mário Guinzoni OSJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário