AFIRMAÇÃO
DA IDENTIDADE JUVENIL A PARTIR DOS CONSELHOS DE JUVENTUDE
Todos os jovens procuram um
espaço para exercer seu protagonismo, seja na escola, família, igreja, bairro
ou no grupo de amigos. Ele anseia e necessita desse espaço de afirmação de sua
identidade. Ele precisa ser ele mesmo, se sentir alguém que ama que tem amigos,
alguém que mantém relações com outras pessoas seja essas relações de amizade,
afetiva, sexual ou grupal. Como dizia Erikson (1976, p. 136) que “o jovem que
não está seguro da sua identidade furta-se à intimidade ou lança-se em atos de
intimidade que são ‘promíscuos’, sem uma verdadeira fusão ou real entrega de si
próprio” é necessário então compreender a busca da Juventude por esses espaços
de participação e protagonismo como elemento importante para a vivência de sua
identidade.
Essas relações consigo mesmo e
sua capacidade de se relacionar com os outros proporciona ao indivíduo no final
de sua adolescência ou no início de sua vida adulta a capacidade de aceitar-se e
manter relações de equilíbrio ficando longe do sentimento de isolamento caso
esse processo não acontecesse (ERIKSON, 1976).
Os Conselhos de Juventude2 são
espaços que proporcionam ao jovem uma atuação no que diz respeito às políticas
públicas destinadas a ele. É espaço onde os mesmos têm vez e voz, podendo
exercer e potencializar sua identidade, como espaço de afirmação do “eu” e
caracterização da pessoa do outro. Também são espaços onde é possível manter
relações com outras pessoas de sua faixa etária, que tem os mesmos sonhos,
projetos, os mesmos gostos, usam as mesmas gírias, se vestem da mesma forma. É
então nesse espaço que à medida que vão descobrindo o outro, vão se assumindo.
Ao passo que o jovem está seguro do seu próprio “eu” ele consegue manter
relações seguras, suportar as diferenças, conviver com os outros, pois não se
sentem ameaçados em seus próprios valores, como diz:
É estando seguro do que se é, que
se pode finalmente buscar a relação com o outro sem contaminações; ou seja, o
outro não é visto em relações projetivas, como extensão do eu, mas sim como um
outro com quem se relacionar. Pode-se até suportar as diferenças, entendê-las e
conviver com elas, pois que as divergências já não mais ameaçam os próprios
valores, seguro que está o sujeito por suas aquisições. (RAPAPPORT 1981, p. 30)
O que marca a faixa etária do
jovem é a descoberta de si próprio, a descoberta do outro como elemento
importante em sua construção de personalidade. Além desses Conselhos serem
espaços de protagonismo profissional, o jovem anseia por um momento de se
mostrar como capaz. Capacidade para assumir compromissos. Capacidade para
desenvolver atividades importantes. É o momento da busca e da necessidade da
afirmação de sua identidade, também sua identidade profissional.
Os Conselhos de Juventude são
para os jovens, além de outros aspectos, espaço de oportunidade de sua
realização profissional. Ele precisa dessa realização para se sentir membro
ativo e produtivo na sociedade. Precisa encarar seus próprios desejos, sonhos,
medos e projetos. Antes era sonho aos poucos passa a se tornar realidade. Ele
se depara com muitas novidades. Escolher uma profissão nessa fase da vida é
imprescindível para o empoderamento3 juvenil. Ele precisa sentir-se realizado.
“A realização profissional é o
que dará ao indivíduo a capacidade de sentir-se membro ativo e produtivo dentro
do grupo social” (RAPAPPORT, 1981, p. 30) é o que afirmava quando dizia que o
Jovem precisa se sentir parte do mundo produtivo.
Pensar então num Conselho de
Juventude que proporcione aos adolescentes e jovens espaços de protagonismo e
exercício de sua identidade é compreender que os mesmos estão potencializando e
oportunizando os jovens em sua totalidade e natureza, respeitando suas
necessidades e percebendo suas demandas. Só um Conselho “maduro” conseguirá
proporcionar aos seus conselheiros esse espaço, visto que existe em sua
composição uma diversidade de cultura, raças, credos, conceitos entre outras
particularidades e isso influi na tomada de decisões e na elaboração de
propostas que atinjam as mais diversas camadas de jovens da sociedade.
Quando a Rapapport (1981, p. 30)
diz que “eu sou em grande parte aquilo que faço” ela quis ressaltar a grande
necessidade que os jovens têm de serem protagonistas. A medida que eles anseiam
em afirmar sua identidade também necessitam para isso realizar ações que
contribuam para que seja externado sua capacidade interior de realizar e criar
as coisas. Desejam ser notados pela sociedade, percebidos e utilizam de muitos
meios para conseguirem. O importante então é ser (re)conhecido, respeitado,
principalmente pela capacidade de conseguir realizar as coisas mais difíceis e
mais inusitadas.
O jovem deseja e precisa ser ele
mesmo. Ele precisa experimentar as novidades que passa a descobrir. Ele precisa
aprender, mesmo errando. É momento dele experimentar tudo o que foi lhe foi
privado na infância. Seu desejo de descoberta é muito grande. Suas concepções,
opiniões, suas crenças nesse período da vida está sendo confortada. Cada
momento é indispensável para a sua formação e afirmação de sua identidade.
Gostaria de citar as palavras de
Hilário Dick quando ele fala a respeito do processo de privação das
experiências dos jovens: “Quando o jovem vai descobrindo a beleza da ‘saída’
para o encontro do outro, uma moral ou um catecismo que somente sabe dizer que
isto e mais aquilo é pecado, o jovem se fecha em seu mundo de novidade,
gritando com seu silêncio que não pode ser assim” (DICK 2004, p. 76). Nessa
fase o jovem também está descobrindo o seu corpo, seus desejos eróticos,
fantasia, impulsos sexuais e passar por essas privações ou como diz Hilário
“catecismo” é fatal. “É a forma mais triste de provocar crises e abandonos
[...]” (DICK 2004, p.77).
Então, pensar no protagonismo
juvenil a partir dos conselhos de juventude é possibilitar aos jovens a
oportunidade a partir das experiências de outros jovens potencializarem sua
identidade como forma de aceitar as diferenças, conviver com elas, entendê-las
e respeitá-las.
Um conselho de juventude é criado
para os jovens. Estes por sua vez estão sendo formados a partir de suas
experiências na sociedade. Dessa forma, é necessário olhar para esses espaços
de protagonismo juvenil, como as escolas, igrejas, bairros, grupos de jovens,
assim como os conselhos de juventude como oportunidade de afirmação e
empoderamento de sua identidade, contribuindo para a vivência pacífica e a
chegada tranqüila na fase adulta de sua vida.
Por
José Aniervson Souza dos Santos
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