Profetas: porta-vozes da VOZ
A
liturgia apresenta-nos hoje três profetas. Ezequiel:
um profeta desterrado e rejeitado: “ficarão
sabendo que houve entre eles um profeta”
(Ez 2,5); Paulo: um profeta
que sabe viver no conflito e reconhece suas fraquezas e se define ”fraco e forte”(2 Cor 12,10); Jesus (nada mais nada menos!): “o
carpinteiro” (Mc 6,3), filho de Maria, o santo de casa não estimado “em sua pátria, entre seus parentes e
familiares” (v.4). O profeta deve escutar a Palavra, fazê-la penetrar no
coração, para só em seguida anunciá-la com entusiasmo (= com Deus no coração!);
ter um olho aberto sobre a realidade humana e o outro sobre o Deus da Vida. Tem
uma misteriosa, mas, real, Voz que chama, interpela sempre, os profetas de
ontem e de hoje e de sempre. A Mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a
Palavra, (2010) assim se expressava:
“Temos
antes de tudo a voz divina. [...] É uma Voz que penetra logo na história,
ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. É uma voz que
desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja
sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela”.
A palavra nos fala
1)Ezequiel: o profeta do desterro. (Ez 2, 2-5).
O profeta foi enviado por
Deus para ser “atalaia” (3,17) para o
povo rebelde e obstinado de Israel que estava exilado na Babilônia. A missão
confiada era difícil, porque o povo é de “cabeça
dura e coração de pedra” (v.4), mas, Deus queria fazer saber que "no
meio do Povo havia uma profeta",(v. 5) “quer escutem quer não escutem” (v. 5). Logo em seguida, (v. 6)
Deus fala ao profeta de não ter medo mesmo que esteja “rodeado de espinhos e sentado sobre escorpiões”, mas que assuma
com coragem e sem titubear a missão e que terá também suas responsabilidades!
Ezequiel é chamado por
Deus em três momentos: a) primeiro com uma visão solene do “carro do Senhor” (Capítulo 1); b) em
seguida a chamada propriamente dita e o envio que é o nosso texto (Capítulo 2);
c) no terceiro momento é convidado a comer o rolo da Palavra que na boca “parecia doce como o mel” (Capítulo 3).
Agora está pronto para denunciar os pecados de Israel, anunciar o fim próximo
do Exílio, e o novo coração e o espírito novo sobre os “ossos secos” do povo
(Capítulo 36- 37), se comprometer com a vitória do o Senhor.
2)Paulo:
o profeta da fraqueza forte (2 Cor 12, 7-10)
Paulo
tinha acabado de falar das suas grandes revelações e agora afirma que “para não me encher de soberba- em razão das
grandezas das revelações- foi-me dado um espinho na carne, um anjo de satanás
para me esbofetear, afim de que eu não me torne orgulhoso”. (v. 7). Existem
muitas teorias sobre este espinho na carne. Conflitos na comunidade? Uma doença?
Perseguições e dificuldades que se apresentavam na evangelização? Afinal Paulo
se descobre feito de barro (2 Cor 4,7 ) e este é seu diploma verdadeiro! E Deus
lhe oferece a sua graça para ir adiante: “basta-te a minha graça”. (v.9). A
sua é uma espiritualidade, uma mística e profecia que descobre Deus e faz
experiência da presença dinâmica de Deus no conflito, no fracasso: “é na fraqueza que a força se manifesta”
(v.9) e “quando sou fraco é que sou
forte” (v. 10).O que conta para ele é “a
força de Cristo habite em mim” (v.9).
3)Cristo: o profeta “santo
de casa”... rejeitado (Mc 6, 1-6)
Santo de casa faz ou
não faz milagres? Respiosta “Um profeta
só não é estimado em sua pátria” (v.4). Jesus
retorna a sua cidade depois de ter realizado milagres e de ter alcançado a fama
de jovem pregador na Galileia. É Sábado e vai à sinagoga e começa a ensinar. Os
seus “patrícios” não o acolhem e, aliás, fazem cinco perguntas, (v.2-3) um
pouco maravilhados um pouco até com desprezo e deboche por ser ele do lugar e
não ter feito nenhum estudo especial... Afinal quem pensa que ele é?
É o começo do escândalo (=pedra de tropeço na fé)
da encarnação (ou da inveja?) que esconde numa pessoa comum, num carpinteiro
qualquer, filho de Maria (única vez que é lembrada Maria em Marcos!) (e de
José) o Messias esperado, infelizmente por demais pessoa normal. Jesus é o
profeta que não é estimado em sua pátria. E o “santo de casa” decepcionado, fez
aqui poucas curas e poucos milagres por causa da falta de fé. Ele é por demais
divino e por demais humano para ser acolhido com facilidade, mas é o profeta do
amor!
A palavra ilumina nossa vida
Compromisso: ser profeta do
cotidiano!
Poderíamos também nós hoje, como Diógenes, - que
procurava com uma tocha acesa homens verdadeiros - percorrer o mundo em busca
de profetas, verdadeiros, corajosos, cheios de Deus! Ser profeta é árduo e hoje
em dia, e todos nós que trabalhamos na evangelização direta oi indiretamente,
vivemos estas mesmas experiências de rejeição, fracassos, frustração, conflitos
e, sentimos como Paulo, “espinhos na
carne” e se insinua sorrateiramente em nós a sensação de estar perdendo
tempo.
Que fazer?
- Lembrete: pelo Batismo, todos
somos profetas do Reino no e do cotidiano: da prosa de cada dia,da alegria, das
sombras e luzes da jornada sempre igual e..pelo ardor sempre nova.
- A fé nos ensina, mas é sempre é bom lembrar, que os fracassos,
muitas vezes apenas aparentes são matéria prima nas mãos de Deus, para êxitos
que somente o E.S sabe fazer, ou em outras palavras: a cruz é sempre fonte de vida e a poda produz sempre mais frutos (Jo
15,1-2). Bom lembrar que Jesus chamou gente simples, frágil para
anunciar sua palavra.
- Ezequiel, Paulo e mais ainda Jesus foram até o fim! A perseverança, a confiança em Deus
são os segredos da evangelização. Só podemos contar com a graça de Deus!
- O que vale é o testemunho de vida: coerência, coragem, ousadia, oração, Palavra... Esta é a
primeira forma de profecia: se damos Deus com a vida e com as palavras,
deixemos a Ele o resto!
- Serviço
e humildade: lembrar que seremos sempre mesmo, servos inúteis! (Lc 17,10)
Cantinho da oração
Procuramos Senhor, em nós, na Igreja, e no mundo soluções “
frágeis e caseiras” de profetas:
profetas – pais que saibam gerar Jesus e o Evangelho nas famílias
e nos filhos; profetas – políticos, que
saibam servir de verdade o bem comum; profetas - padres, bispos, que sejam
plenamente pastores; profetas - religiosos (as) que saibam testemunhar Deus
acima de tudo e servir o mundo; profetas- profissionais (médicos, professores,
juízes...) que saibam fazer de seu trabalho um dom de amor; profetas – anônimos,
desconhecidos (mas não a Ti!) que façam da vida
“algo de extraordinário
para Deus” (Madre Teresa) e que se
“contentem” apenas com a tua graça.
Convite: textos para refletir durante a semana: Dt 18,15-24; Col 1,24-29; Lc 4,16-30.
Bom final de semana para todos\as- Padre
Mário Guinzoni OSJ
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