sábado, 7 de julho de 2012

XIVº DOMINGO DO TEMPO COMUM –B


Profetas: porta-vozes da VOZ

A liturgia apresenta-nos hoje três profetas. Ezequiel: um profeta desterrado e rejeitado: “ficarão sabendo que  houve entre eles um profeta” (Ez 2,5); Paulo: um profeta que sabe viver no conflito e reconhece suas fraquezas e se define ”fraco e forte”(2 Cor 12,10); Jesus (nada mais nada menos!): “o carpinteiro” (Mc 6,3), filho de Maria, o santo de casa não estimado “em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (v.4). O profeta deve escutar a Palavra, fazê-la penetrar no coração, para só em seguida anunciá-la com entusiasmo (= com Deus no coração!); ter um olho aberto sobre a realidade humana e o outro sobre o Deus da Vida. Tem uma misteriosa, mas, real, Voz que chama, interpela sempre, os profetas de ontem e de hoje e de sempre. A Mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra, (2010) assim se expressava:
“Temos antes de tudo a voz divina. [...] É uma Voz que penetra logo na história, ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. É uma voz que desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela”.

A palavra nos fala

1)Ezequiel: o profeta do desterro. (Ez 2, 2-5).

O profeta foi enviado por Deus para ser “atalaia” (3,17) para o povo rebelde e obstinado de Israel que estava exilado na Babilônia. A missão confiada era difícil, porque o povo é de “cabeça dura e coração de pedra” (v.4), mas, Deus queria fazer saber que "no meio do Povo havia uma profeta",(v. 5) “quer escutem quer não escutem” (v. 5). Logo em seguida, (v. 6) Deus fala ao profeta de não ter medo mesmo que esteja “rodeado de espinhos e sentado sobre escorpiões”, mas que assuma com coragem e sem titubear a missão e que terá também suas responsabilidades!
Ezequiel é chamado por Deus em três momentos: a) primeiro com uma visão solene do “carro do Senhor” (Capítulo 1); b) em seguida a chamada propriamente dita e o envio que é o nosso texto (Capítulo 2); c) no terceiro momento é convidado a comer o rolo da Palavra que na boca “parecia doce como o mel” (Capítulo 3). Agora está pronto para denunciar os pecados de Israel, anunciar o fim próximo do Exílio, e o novo coração e o espírito novo sobre os “ossos secos” do povo (Capítulo 36- 37), se comprometer com a vitória do o Senhor.






2)Paulo: o profeta da fraqueza forte (2 Cor 12, 7-10)

Paulo tinha acabado de falar das suas grandes revelações e agora afirma que “para não me encher de soberba- em razão das grandezas das revelações- foi-me dado um espinho na carne, um anjo de satanás para me esbofetear, afim de que eu não me torne orgulhoso”. (v. 7). Existem muitas teorias sobre este espinho na carne. Conflitos na comunidade? Uma doença? Perseguições e dificuldades que se apresentavam na evangelização? Afinal Paulo se descobre feito de barro (2 Cor 4,7 ) e este é seu diploma verdadeiro! E Deus lhe oferece a sua graça para ir adiante: “basta-te a minha graça”. (v.9). A sua é uma espiritualidade, uma mística e profecia que descobre Deus e faz experiência da presença dinâmica de Deus no conflito, no fracasso: “é na fraqueza que a força se manifesta” (v.9) e “quando sou fraco é que sou forte” (v. 10).O que conta para ele é “a força de Cristo habite em mim” (v.9).



3)Cristo: o profeta “santo de casa”... rejeitado (Mc 6, 1-6)

Santo de casa faz ou não faz milagres? Respiosta “Um profeta só não é estimado em sua pátria” (v.4). Jesus retorna a sua cidade depois de ter realizado milagres e de ter alcançado a fama de jovem pregador na Galileia. É Sábado e vai à sinagoga e começa a ensinar. Os seus “patrícios” não o acolhem e, aliás, fazem cinco perguntas, (v.2-3) um pouco maravilhados um pouco até com desprezo e deboche por ser ele do lugar e não ter feito nenhum estudo especial... Afinal quem pensa que ele é? 




É o começo do escândalo (=pedra de tropeço na fé) da encarnação (ou da inveja?) que esconde numa pessoa comum, num carpinteiro qualquer, filho de Maria (única vez que é lembrada Maria em Marcos!) (e de José) o Messias esperado, infelizmente por demais pessoa normal. Jesus é o profeta que não é estimado em sua pátria. E o “santo de casa” decepcionado, fez aqui poucas curas e poucos milagres por causa da falta de fé. Ele é por demais divino e por demais humano para ser acolhido com facilidade, mas é o profeta do amor!
A palavra ilumina nossa vida
Compromisso: ser  profeta do cotidiano!
Poderíamos também nós hoje, como Diógenes, - que procurava com uma tocha acesa homens verdadeiros - percorrer o mundo em busca de profetas, verdadeiros, corajosos, cheios de Deus! Ser profeta é árduo e hoje em dia, e todos nós que trabalhamos na evangelização direta oi indiretamente, vivemos estas mesmas experiências de rejeição, fracassos, frustração, conflitos e, sentimos como Paulo, “espinhos na carne” e se insinua sorrateiramente em nós a sensação de estar perdendo tempo.
Que fazer?
 - Lembrete: pelo Batismo, todos somos profetas do Reino no e do cotidiano: da prosa de cada dia,da alegria, das sombras e luzes da jornada sempre igual e..pelo ardor sempre nova.
 - A fé nos ensina, mas é sempre é bom lembrar, que os fracassos, muitas vezes apenas aparentes são matéria prima nas mãos de Deus, para êxitos que somente o E.S sabe fazer, ou em outras palavras: a cruz é sempre fonte de vida e a poda produz sempre mais frutos (Jo 15,1-2). Bom lembrar que Jesus chamou gente simples, frágil para anunciar sua palavra.
 - Ezequiel, Paulo e mais ainda Jesus foram até o fim! A perseverança, a confiança em Deus são os segredos da evangelização. Só podemos contar com a graça de Deus!
 - O que vale é o testemunho de vida: coerência, coragem, ousadia, oração, Palavra... Esta é a primeira forma de profecia: se damos Deus com a vida e com as palavras, deixemos a Ele o resto!
Serviço e humildade: lembrar que seremos sempre mesmo, servos inúteis! (Lc 17,10)
Cantinho da oração
Procuramos Senhor, em nós, na Igreja, e no mundo soluções “ frágeis e caseiras” de profetas:
profetas – pais que saibam gerar Jesus e o Evangelho nas famílias e nos filhos; profetas – políticos,  que saibam servir de verdade o bem comum; profetas - padres, bispos, que sejam plenamente pastores; profetas - religiosos (as) que saibam testemunhar Deus acima de tudo e servir o mundo; profetas- profissionais (médicos, professores, juízes...) que saibam fazer de seu trabalho um dom de amor; profetas – anônimos, desconhecidos (mas não a Ti!) que façam da vida
algo de extraordinário para Deus” (Madre Teresa) e que se “contentem” apenas com a tua graça.

Convite: textos para refletir durante a semana: Dt 18,15-24; Col 1,24-29; Lc 4,16-30.
Bom final de semana para todos\as- Padre Mário Guinzoni OSJ








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