Papo jovem: De malas cheias...
Devemos viver bem cada momento de
nossa vida! Muitas vezes, ao ouvir – ou dizer – esta frase, imaginamos que
“viver bem” é levar a vida sem compromissos, “curtindo na boa”, fazendo tudo o
que “dá na telha”... Porém, não é bem assim; ao contrário, é ter a consciência
de que só temos uma vida à nossa disposição, por isso não podemos nos aventurar
em gastá-la de qualquer maneira, irresponsavelmente. É preciso realizar bem
nossas tarefas, desempenhá-las da melhor forma que nos é possível.
Nós, jovens, porque sabemos ter
“a vida pela frente”, nem sempre aproveitamos bem o momento presente da nossa
vida. Muitas vezes adiamos o que devemos fazer agora. É claro isso quando
olhamos para nossa vida estudantil: a maioria de nós deixa para “estudar” na
véspera da prova. Até vamos ao colégio – ou à Universidade – todos os dias, mas
não lemos nossos textos, não compramos nem alugamos livros para aprofundar o
conteúdo visto em sala; fugimos das conversas com professores ou pessoas mais
maduras e mais experientes... Adiamos o quanto podemos os cursos de computação,
língua estrangeira, música etc. E isso é muito sério! Vivendo assim, não
estamos cumprindo a vontade de Deus para nós, e chegaremos à vida adulta de
malas vazias.
Outro dia, conversando com uma
amiga, ela dizia o quanto se arrependia por não ter se dedicado como devia aos
estudos, por ter feito estudos rasos, contentado-se com pouco na Universidade;
essa pouca dedicação hoje rendia-lhe muitas vezes uma atuação profissional
medíocre. Essa conversa mexeu muito comigo, pois acredito que devemos dar
testemunho de cristianismo também na vida profissional, sendo capazes e bem
preparados.
Na juventude, compete-nos estudar
– esta é a vontade de Deus a nosso respeito! – encher as malas a fim de chegar
à vida adulta preparados, capazes de dar nosso contributo para o
desenvolvimento da humanidade e progresso do mundo. Muitas vezes, quando os
pais nos cobram a quantas anda nossa vida estudantil, chateamo-nos e ignoramos
a “cobrança”. Entretanto, devemos refletir sobre isso.
Como você se sentiria, por
exemplo, se fosse a um consultório médico e não sentisse segurança naquele
profissional? Confiaria sua saúde a ele? Ou quando começa um curso e percebe
que o professor não está bem preparado? O que você faz? Assim é com todos os
profissionais: quando procuramos os serviços de alguém, queremos o melhor;
queremos sentir que ele sabe o que faz, para, assim, poder confiar-nos a ele.
Penso nisso sempre que vou ao consultório de minha dentista – há algum tempo
faço um tratamento ortodôntico e uma vez por mês vou “visitá-la”. Converso com
ela sobre o tratamento, pergunto e ela sempre sabe o que está fazendo; isso me
faz confiar inteiramente nela. E como é bom estar nas mãos de um profissional
desse gabarito! Em contrapartida, quando vou a um consultório e percebo o
profissional inseguro não volto mais lá.
Com certeza, os bons
profissionais investiram em suas vidas desde cedo, levando a sério os estudos,
lendo, pesquisando, conversando com outras pessoas, viajando...
A maioria de nós, infelizmente,
acha que estudar é chato. E falta-nos versatilidade para dedicar-nos a muitas
coisas: então, só escuto música, ou só rezo, ou só namoro, ou só estudo. Porém,
em nossa vida deve haver espaço para cultivar a espiritualidade, o lazer, os
estudos.
Devemos também aprender a romper
com os estigmas que são criados entre nossos próprios colegas. Por exemplo, se
chegamos na sala de aula com um livro de poesia, nossos colegas dizem logo: “Tu
vai lê isso? Isso é muito chato!”. Quando nos veem com um livro de literatura:
“Cara, tu é doido mesmo”. Leitura, só as que são “obrigadas”. Entretanto,
devemos saber encontrar prazer naquilo que nos enriquece intelectual e
humanamente e, em tudo o que fazemos, devemos preparar-nos para o futuro. Isto
é, viver bem o presente! E aprender a pensar, a olhar além das aparências e
daquilo que está óbvio. Se vivemos bem o presente, construímos melhor ainda o
futuro.
Disse há pouco que estudar é a
vontade de Deus para nós. Todavia, seu maior desígnio ao nosso respeito é o
amor: fomos criados por amor e para amar. Estudar é também um ato de amor a
Deus e à humanidade. Devemos ter sempre diante de nós o sentido do nosso
estudo: É para ganhar muito dinheiro? É para saber mais que os outros? É para
tirar notas boas? É para passar de ano? Ou é para dar um contributo à
construção de um mundo mais humano, mais justo, mais cristão?
Com certeza, Deus aposta muito em
nós e espera que correspondamos à altura. Portanto, devemos ter sempre como
meta e mola propulsora do nosso estudo o amor. Marisa, uma das primeiras
focolarinas, falando sobre os estudos às jovens do Movimento dos Focolares,
disse: “Se permanecerem na caridade, o que acontecerá? Algumas das ideias que
preencheram a mente de vocês durante o estudo, cairão; permanecerão as mais
válidas. Não só o amor que vocês continuarão a viver organizará as ideias
dentro de vocês. Talvez, vocês nem percebam isso”.
A sociedade em que vivemos, que
supervaloriza o ter em detrimento do ser, faz-nos viver como vegetais, que não
pensam, não sentem, não sabem o que querem, não sabem por que vivem: a mídia
que dê o “ponto de vista” para eu absorver; a propaganda que me diga o que devo
comprar; o marketing que me diga quais são as minhas necessidades e por aí vai.
Acostumados que somos a não pensar, concordamos com tudo o que lemos, não
refletimos diante de um filme que assistimos, mas apenas absorvemos o que nos é
apresentado.
Eu, particularmente, criei o
hábito de fazer um resumo de todos os livros que leio, resumindo a história e
dando meu ponto de vista a respeito. Posso afirmar que, além de fazer-me
entender melhor o que o autor diz e ajudar-me a posicionar-me diante disso, é
também um exercício muito gostoso! Também tenho o hábito de “colher” uma
mensagem dos filmes que assisto, analisar o que eles me ensinam. Outro dia,
saindo do cinema com uns amigos, comecei a conversar sobre o que havíamos
visto, de repente alguém disse: “Por que falar sobre isso? Filme se assiste e
pronto”. Será?
A juventude é o preciosíssimo
tempo que temos para, como disse antes, encher nossas malas. Portanto, devemos
aproveitar bem os estudos, cursos, amizades, lazeres e tudo mais para crescer
como pessoa. Isso, porém, não consiste em ficar “neurótico” pelos estudos, ou
colocá-los no lugar de Deus, como centro da nossa existência. Mas é preciso
“dar a Deus e o que é de Deus e a César o que é de César”, ou seja, colocar as
coisas no seu devido lugar, sem super nem subestimá-las. Afinal, os estudos são
um meio importantíssimo, mas nunca um fim em si mesmo. Se, de fato,
acreditarmos nisso e vivermos dessa forma, teremos mais facilidade em nos
posicionar diante do mundo – sem nos deixar engolir por ele; fazer escolhas,
ser independentes e amar de forma livre e verdadeira.
Maria Auristela B. Alves
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