sexta-feira, 28 de setembro de 2012


De olho nas aspirações - O que eu quero ser na Vida?

As aspirações existem! Algumas são estáveis, outras mudam conforme as estações da vida. Outras ainda dominam sobre outras que se revelam secundárias.
As aspirações vivem e morrem. Elas inspiram as nossas escolhas, mexem com os nossos costumes e nossos hábitos. Às vezes são grandes como sonhos, outras vezes se revelam pequenas e até mesquinhas. As aspirações podem se expressar nos mais diversos desejos: de comunicação, de realização, de liberdade.
Pode acontecer que um jovem ou uma jovem aspire ser consagrado, a doar a própria vida pelo Reino: aconteceu com Pedro. Um dia chegou em casa todo feliz e bem disposto. Ele tinha os olhos lúcidos como se tivesse algo para comunicar de muito profundo de si. Sentou, olhou antes no rosto da mãe, depois do pai e, finalmente, disse: “Vou ser um padre!”. Naquele momento parecia que o teto desabaria em sua cabeça: pai brigando com ele, mãe brigando com o pai, um questionando o outro e assim por diante.

O que é isso!

Sim, um questionamento pode colocar em xeque uma aspiração. De fato, os pais de Pedro falavam em nome da sabedoria:
“Será fogo de palha? Será um sonho de adolescente? Pedro, veja bem que se trata de uma vida. Não faça escândalo!”
Há jovens que renunciam a aspirações verdadeiras. Pode acontecer que um jovem, que está prestes a chegar ao sacerdócio, saia do seminário, renunciando à vida sacerdotal, como aconteceu com Jenilson.
Alguém perguntou-lhe: “Por quê? Não aspira, não deseja mais isso?” Jenilson falou com os formadores, fez uma releitura da própria história e decidiu por outra escolha.
Mas é legítimo que alguém se pergunte:

• Afinal, o que aconteceu com aquelas aspirações que pareciam bem consolidadas?

• Por que mudaram? Uma ilusão? Uma inútil obstinação? Uma infidelidade à vocação?

São Gregório afirmava: “Quem satisfez um desejo, uma aspiração, sente-se levado para um novo objeto que ainda não foi satisfeito. Quando a alma, obtendo o que desejava, encheu este vazio, outras aspirações vão surgindo nela criando assim outros novos vazios. E a sucessão de aspirações não realizadas permanecerá em nós até o fim da vida”.
Vivemos porque somos movidos por aspirações, ideais, sinais esses que medem a qualidade da nossa vida.
As aspirações devem ser apreciadas, reconhecidas e interpretadas. Outras vezes precisamos desmascará-las, sobretudo quando estão bem escondidas e percebemos que agem em profundidade, fingindo expressar uma necessidade, quando, na realidade, manifestam bem outra coisa. Dessa forma, as aspirações adoecem, se chocam entre si, podendo morrer aos poucos ou explodir novamente com nova intensidade.

“... Pois é Deus quem realiza em nós o querer e o fazer”
(Fil 2,13)
Em todas as histórias de vocação não está sempre claro quem começa a desejar. Se é Deus que olha para o homem, se aproxima dele, o torna inquieto como diz Santo Agostinho; ou se o homem, insatisfeito, eleva as suas aspirações até Deus. Todavia, como num diálogo amoroso, os dois desejos, se forem verdadeiros, se encontram num só. A pessoa, quando é ajudada a entrar no profundo de si mesmo, pode descobrir que a sua vontade e a de Deus são unidas desde o princípio.
O chamado, que é “divinamente humano”, já brotou na pobreza da história de cada um. Precisamos nos colocar à escuta dos nossos desejos e aspirações e dos desejos de Deus.
O Senhor Jesus se encarna em nossos desejos e, com a sua ação, efunde o seu Espírito. Ele não quer que desejemos pouco ou desejemos mal, pois Ele sabe que nós nos tornamos o que aspiramos ser. Como já dissemos no primeiro encontro da edição de Março do MJ, o que mais e primeiramente devemos desejar é o próprio Deus. Só Ele nos completa, pois Deus não nos deu um coração de pedra, mas um coração feito para Ele.
Quando lemos a origem de uma aspiração, descobrimos coisas curiosas. Por exemplo, a aspiração de se tornar padre ou religiosa pode florescer aos poucos de um compromisso assumido na dedicação aos outros, amadurecido num trabalho de voluntariado ou na sensibilidade às missões.
A descoberta se evidenciará sempre mais, em seguida, na escuta da Palavra, no silêncio e na contemplação do Rosto de Cristo, experimentado com amor, que chama no hoje da vida do jovem.
Todavia, também as aspirações mais autênticas podem “adoecer”, ou até se “apagar”, quando não se deixam moldar e nutrir pela escuta da Palavra.

QUANDO AS ASPIRAÇÕES ESTÃO DOENTES ...

As aspirações podem ser poluídas. A decepção, a incapacidade de resistir nas dificuldades, a fadiga de alcançar ideais, a descrença para com os meios que não seriam adequados para realizar certos objetivos, etc, podem juntas sufocar a tensão do jovem na tentativa de realizar o objetivo da sua vida.
Uma desconfiança pode tirar-lhe a confiança em si mesmo acerca daquilo que vai fazer ou realizar. Muitas vezes a própria preguiça consegue matar muitas aspirações e desejos, para não falar da presunção que faz com que a pessoa se sinta já satisfeita pelo que tem e não a deixa mais se questionar sobre o que fazer em vista de alcançar certos ideais.
Os sofrimentos que acompanham o nosso dia-a-dia no exercício de nossas responsabilidades podem também introduzir aquelas dúvidas que talvez reduzam a força das nossas aspirações.
Os sintomas desta doença podem ser de diversos tipos. Pode tratar-se de indiferença: não se tem vontade de fazer mais nada, porque por nada vale a pena lutar.
O resultado é uma certa apatia para todas as propostas e o conseqüente abandono aos ídolos que aparentemente tornam a vida mais agradável, como também o deixar para fazer “amanhã” tudo aquilo que nos impele a escolher.
Como sair destas doenças? Somente através de um caminho de conversão. Ao cego de Jericó Jesus pergunta: Que queres que te faça? (Mc 10,51). A Graça de Deus se serve de tudo para curar, para não deixar morrer o homem que ama.
Nós vivemos numa cultura que é inimiga do futuro, reduz as aspirações a uma propaganda da TV, decide o que deve ser desejado. Esta cultura oferece produtos como se fossem a resposta fácil e segura a tudo que falta para ser feliz.

A CURA DAS
ASPIRAÇÕES

Devemos ter um cuidado e um carinho especial para com as aspirações, pois nelas o Senhor realiza o que deseja para nós: uma liberdade plena e completa. A vontade de Deus deveria ser também a nossa.
A fé e as aspirações se procuram reciprocamente. Quem busca o Reino de Deus encontra um caminho onde o desejo e as aspirações se tornam a realização da vida em plenitude. Mas para chegar a isso, é necessário um trabalho: cavar e torcer.
O que comporta isso? Sem dúvida, ir mais em profundidade e verificar se as nossas aspirações estão em sintonia com o que Deus quer de nós. São Paulo nos sugere que para termos a certeza de que as nossas aspirações são autênticas, deveriam ser “crucificadas”. “Pois os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e desejos” (Gal 5,24).

Pe. José Negri
Psicólogo e Sacerdote

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