De olho nas aspirações - O que eu
quero ser na Vida?
As aspirações existem! Algumas
são estáveis, outras mudam conforme as estações da vida. Outras ainda dominam
sobre outras que se revelam secundárias.
As aspirações vivem e morrem.
Elas inspiram as nossas escolhas, mexem com os nossos costumes e nossos
hábitos. Às vezes são grandes como sonhos, outras vezes se revelam pequenas e
até mesquinhas. As aspirações podem se expressar nos mais diversos desejos: de
comunicação, de realização, de liberdade.
Pode acontecer que um jovem ou
uma jovem aspire ser consagrado, a doar a própria vida pelo Reino: aconteceu
com Pedro. Um dia chegou em casa todo feliz e bem disposto. Ele tinha os olhos
lúcidos como se tivesse algo para comunicar de muito profundo de si. Sentou,
olhou antes no rosto da mãe, depois do pai e, finalmente, disse: “Vou ser um
padre!”. Naquele momento parecia que o teto desabaria em sua cabeça: pai
brigando com ele, mãe brigando com o pai, um questionando o outro e assim por
diante.
O que é isso!
Sim, um questionamento pode
colocar em xeque uma aspiração. De fato, os pais de Pedro falavam em nome da
sabedoria:
“Será fogo de palha? Será um
sonho de adolescente? Pedro, veja bem que se trata de uma vida. Não faça
escândalo!”
Há jovens que renunciam a
aspirações verdadeiras. Pode acontecer que um jovem, que está prestes a chegar
ao sacerdócio, saia do seminário, renunciando à vida sacerdotal, como aconteceu
com Jenilson.
Alguém perguntou-lhe: “Por quê?
Não aspira, não deseja mais isso?” Jenilson falou com os formadores, fez uma
releitura da própria história e decidiu por outra escolha.
Mas é legítimo que alguém se
pergunte:
• Afinal, o que aconteceu com
aquelas aspirações que pareciam bem consolidadas?
• Por que mudaram? Uma ilusão?
Uma inútil obstinação? Uma infidelidade à vocação?
São Gregório afirmava: “Quem
satisfez um desejo, uma aspiração, sente-se levado para um novo objeto que
ainda não foi satisfeito. Quando a alma, obtendo o que desejava, encheu este
vazio, outras aspirações vão surgindo nela criando assim outros novos vazios. E
a sucessão de aspirações não realizadas permanecerá em nós até o fim da vida”.
Vivemos porque somos movidos por
aspirações, ideais, sinais esses que medem a qualidade da nossa vida.
As aspirações devem ser
apreciadas, reconhecidas e interpretadas. Outras vezes precisamos
desmascará-las, sobretudo quando estão bem escondidas e percebemos que agem em
profundidade, fingindo expressar uma necessidade, quando, na realidade, manifestam
bem outra coisa. Dessa forma, as aspirações adoecem, se chocam entre si,
podendo morrer aos poucos ou explodir novamente com nova intensidade.
“... Pois é Deus quem realiza em
nós o querer e o fazer”
(Fil 2,13)
Em todas as histórias de vocação
não está sempre claro quem começa a desejar. Se é Deus que olha para o homem,
se aproxima dele, o torna inquieto como diz Santo Agostinho; ou se o homem,
insatisfeito, eleva as suas aspirações até Deus. Todavia, como num diálogo
amoroso, os dois desejos, se forem verdadeiros, se encontram num só. A pessoa,
quando é ajudada a entrar no profundo de si mesmo, pode descobrir que a sua
vontade e a de Deus são unidas desde o princípio.
O chamado, que é “divinamente
humano”, já brotou na pobreza da história de cada um. Precisamos nos colocar à
escuta dos nossos desejos e aspirações e dos desejos de Deus.
O Senhor Jesus se encarna em
nossos desejos e, com a sua ação, efunde o seu Espírito. Ele não quer que
desejemos pouco ou desejemos mal, pois Ele sabe que nós nos tornamos o que
aspiramos ser. Como já dissemos no primeiro encontro da edição de Março do MJ,
o que mais e primeiramente devemos desejar é o próprio Deus. Só Ele nos
completa, pois Deus não nos deu um coração de pedra, mas um coração feito para
Ele.
Quando lemos a origem de uma
aspiração, descobrimos coisas curiosas. Por exemplo, a aspiração de se tornar
padre ou religiosa pode florescer aos poucos de um compromisso assumido na
dedicação aos outros, amadurecido num trabalho de voluntariado ou na
sensibilidade às missões.
A descoberta se evidenciará
sempre mais, em seguida, na escuta da Palavra, no silêncio e na contemplação do
Rosto de Cristo, experimentado com amor, que chama no hoje da vida do jovem.
Todavia, também as aspirações
mais autênticas podem “adoecer”, ou até se “apagar”, quando não se deixam
moldar e nutrir pela escuta da Palavra.
QUANDO AS ASPIRAÇÕES ESTÃO
DOENTES ...
As aspirações podem ser poluídas.
A decepção, a incapacidade de resistir nas dificuldades, a fadiga de alcançar
ideais, a descrença para com os meios que não seriam adequados para realizar
certos objetivos, etc, podem juntas sufocar a tensão do jovem na tentativa de
realizar o objetivo da sua vida.
Uma desconfiança pode tirar-lhe a
confiança em si mesmo acerca daquilo que vai fazer ou realizar. Muitas vezes a
própria preguiça consegue matar muitas aspirações e desejos, para não falar da
presunção que faz com que a pessoa se sinta já satisfeita pelo que tem e não a
deixa mais se questionar sobre o que fazer em vista de alcançar certos ideais.
Os sofrimentos que acompanham o
nosso dia-a-dia no exercício de nossas responsabilidades podem também
introduzir aquelas dúvidas que talvez reduzam a força das nossas aspirações.
Os sintomas desta doença podem
ser de diversos tipos. Pode tratar-se de indiferença: não se tem vontade de
fazer mais nada, porque por nada vale a pena lutar.
O resultado é uma certa apatia
para todas as propostas e o conseqüente abandono aos ídolos que aparentemente
tornam a vida mais agradável, como também o deixar para fazer “amanhã” tudo
aquilo que nos impele a escolher.
Como sair destas doenças? Somente
através de um caminho de conversão. Ao cego de Jericó Jesus pergunta: Que
queres que te faça? (Mc 10,51). A Graça de Deus se serve de tudo para curar,
para não deixar morrer o homem que ama.
Nós vivemos numa cultura que é
inimiga do futuro, reduz as aspirações a uma propaganda da TV, decide o que
deve ser desejado. Esta cultura oferece produtos como se fossem a resposta
fácil e segura a tudo que falta para ser feliz.
A CURA DAS
ASPIRAÇÕES
Devemos ter um cuidado e um
carinho especial para com as aspirações, pois nelas o Senhor realiza o que
deseja para nós: uma liberdade plena e completa. A vontade de Deus deveria ser
também a nossa.
A fé e as aspirações se procuram
reciprocamente. Quem busca o Reino de Deus encontra um caminho onde o desejo e
as aspirações se tornam a realização da vida em plenitude. Mas para chegar a
isso, é necessário um trabalho: cavar e torcer.
O que comporta isso? Sem dúvida,
ir mais em profundidade e verificar se as nossas aspirações estão em sintonia
com o que Deus quer de nós. São Paulo nos sugere que para termos a certeza de
que as nossas aspirações são autênticas, deveriam ser “crucificadas”. “Pois os
que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com suas paixões e desejos” (Gal
5,24).
Pe. José Negri
Psicólogo e Sacerdote
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