domingo, 7 de outubro de 2012


Apaixonados e Proféticos


No atual contexto de secularização, pode parecer estranho que jovens se interessem pela consagração da própria vida a Deus. Mas é o que está acontecendo de forma crescente em muitos lugares. Realidades culturais do interior e das grandes cidades verificam uma nova tendência no campo das vocações. Não é difícil encontrar em seminários, movimentos, congregações e novas comunidades eclesiais jovens estudantes, mas também engenheiros, pedagogos, publicitários, advogados e até médicos. Gente trabalhadora que se sentiu chamada a deixar tudo para se doar totalmente a Deus no serviço à humanidade, especialmente aos que mais sofrem.
Numa análise imediata esses jovens podem ser considerados loucos e ilógicos. Indo mais a fundo na avaliação dessa tendência, com certeza, serão vistos como apaixonados e proféticos. Afinal, essa é uma decisão que vai além do simples fato de romper com o meio ou nível de vida em que estão inseridos. É, na verdade, uma ruptura visceral e profunda com o próprio eu, muitas vezes propenso socialmente a dominar, para assumir um estilo de vida simples, longe de vaidades. Um jeito de viver na gratuidade da entrega do que se é e do que se tem para fazer a pessoa humana ser mais feliz na Igreja e na sociedade.
A visão do papa João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, que fala sobre a formação sacerdotal, define claramente quem são esses jovens. São “portadores dos ideais que fazem caminho na História” através da “sede de liberdade, reconhecimento do valor incomensurável da pessoa, necessidade de autenticidade e transparência, novo conceito e estilo de reciprocidade nas relações entre homem e mulher, procura sincera e apaixonada de um mundo mais justo, solidário e unido, abertura e diálogo com todos, empenho a favor da paz”, explica o papa.
E é bem esse o perfil encontrado em grande parte daqueles que estão hoje nos ambientes de formação à vida consagrada. Numa sociedade onde se valoriza o poder e a posse, há jovens preferindo a pobreza evangélica, apostando viver a comunhão dos bens, a exemplo dos primeiros cristãos que “possuíam tudo em comum”. Num contexto de fortes estímulos sexuais, há jovens que escolheram livremente uma vida disciplinada e pura em comunhão fraterna, onde os corações tem sede da virgindade que trona possível a liberdade de amar sem desejar possuir nada nem ninguém. Diante dos conflitos de autoridade, há jovens que decidiram aceitar ir para qualquer lugar ou assumir qualquer trabalho.  Isso vai desde dormir com os pobres nas ruas da metrópole de São Paulo, ou partir para o Haiti e ajudar na reconstrução social e cristã do país, após a tragédia do terremoto. Passa pelo dedicado profissionalismo de digitalizar a programação evangelizadora de uma TV, ou pelo silêncio do claustro de um mosteiro, onde rezará durante toda a vida em profunda solidariedade com os problemas do mundo. Ou ainda pela missão de ser envidado para ser construtor da unidade em um país marcado pelo comunismo ou em outro com necessidades especiais de diálogo entre culturas e religiões.
Espontâneos, dóceis e fortes são esses jovens. Esquecendo-se de si mesmos, comprometem-se até as últimas consequências. Amam além das palavras e estão decididos a nunca trair. Afinal, por sonharem deixar a marca de Deus na História estão fazendo a diferença na Igreja e restituindo a muitos o encanto por ela. Indiscutivelmente, isso leva a pedir: “Envia-nos, Senhor, mais jovens apaixonados e proféticos. Amém”!

Por Pe. Ricardo Antônio Pinto

Nenhum comentário:

Postar um comentário