Caminhar alimentado
Popularmente se diz: “Saco vazio
não para em pé”, ou seja, para se caminhar ou realizar algo é preciso
alimentar-se. Foi o que um anjo falou para Elias, que estava desanimado e sem
força para caminhar: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a
percorrer” (1 Reis 19,7). Depois de comer pela segunda vez o profeta andou
quarenta quilômetros para realizar a missão indicada pelo anjo.
Todo ser humano tem sua missão a
cumprir, inerente à sua dignidade, isto é, a de se realizar já aqui na terra,
com a perspectiva do eterno. Para isso, deve ajudar a conseguir suporte para
uma vida de sentido, com meios materiais, culturais e espirituais para sua
caminhada realizadora. O cultivo da terra e dos dons é indispensável para o
serviço a cada um. Ninguém é uma ilha autossuficiente. Cada um tem compromisso
de promover a vida e a dignidade do semelhante para ter um resultado positivo
também para si. Quem acumula possibilidades em detrimento ou com o que seria
dos outros não desenvolve a missão de contribuir com a caminhada existencial de
todos. Por isso é que temos injustiças, fome, miséria, guerras , todo tipo de
desordem social e degradação do meio ambiente. Quando falta solidariedade há
inanição, quebra da possibilidade de muitos cumprirem a própria missão de
atingir seu objetivo realizador na vida.
Com as virtudes humanas e
sobrenaturais a pessoa se desenvolve com alegria e benignidade. S. Paulo lembra
tais virtudes: “Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos
mutuamente… Sede imitadores de Deus… Vivei no amor” (Efésios 4, 32; 5,1.2).
Cada um é marcado pelo Espírito Santo para a própria libertação (Cf. Efésios
4,30).
Mas só o alimento material não é
suficiente para o ser humano se realizar plenamente. É preciso o alimento consistente
da graça de Deus. Mais: alimentar-se do próprio Deus é possível e necessário,
como Jesus fala e realiza. Ele se faz alimento para nós: “Eu sou o pão vivo
descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é
a minha carne dada para a vida do mundo”. Nem todos comem desse alimento. Daí a
missão de fazê-lo conhecido, aceito e utilizado por quem quer viver a vida
diferenciada do Cristo. Mas Ele desafia quem O segue para uma vida de sentido,
assumindo a missão de também dar vida aos outros, no amor e na justiça
compartilhados.
Não basta comungar da Eucaristia.
É preciso aceitar seguir o que o divino hóspede indicar. É importante receber o
alimento, mas a finalidade dele é para termos força suficiente para caminharmos
e levarmos a termo nossa missão de transformar a convivência humana e
realizadora para todos, com os novos critérios de fraternidade. A grande
caminhada existencial exige ser abastecida com o alimento suficiente e
adequado. Temos o grande desafio de implantar os critérios de convivência sadia
para todos: formar famílias de real base de formação integral; fazer da
política um instrumento de implantação da cidadania para todos; utilizar os
frutos do desenvolvimento para um real serviço à pessoa humana… Para tanto, os meios
de subsistência material, espiritual e cultural devem ser democratizados, a
ponto de todos os terem acessíveis.
Por Dom José Alberto Moura –
Arcebispo de Montes Claros (MG)

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