Na parábola da semente Jesus fala
de vários tipos de terreno. A semente tem oportunidade de nascer e
desenvolver-se quando a terra é adequada para isso (Cf. Marcos 4,26-34). O
terreno de nosso eu, além do DNA, tem os condicionamentos do meio, a partir da
própria família e do meio ambiente. Temos de trabalhar com todos os dados para
nossa personalidade se firmar com possibilidade de dar bons frutos para nós
mesmos e os outros. O dado da fé permeia todo nosso ser e pode dar consistência
de cultivo melhor, mesmo nos diversos fatores que compõem e formam nossa
realidade de ser e nosso agir. Por isso, com a graça de Deus, qual água
benfazeja, podemos ser fecundados desde o berço e em toda a nossa trajetória
vivencial. A formação de nosso caráter, trabalhado com boa orientação e boa
vontade, pode ser gratificante quando tomamos consciência de nosso ser
relacionado com Deus e com o semelhante. Buscamos, assim, o ideal de plena
realização, com a efetivação do projeto de Deus. Ele nos ensina a conviver na
fraternidade e na ajuda da promoção do bem comum.
Quando deixamos Deus agir em nós,
tornamo-nos amoldáveis à sua graça: “Estamos cheios de confiança” (2 Coríntios
5,8). Mesmo imperceptivelmente vamos crescendo no amor, quando nos colocamos
dóceis à sua ação : “O reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na
terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e
crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Marcos 4, 26-27). Para tanto,
é preciso ter-se atitude consciente de se fazer e dar o melhor de si para não
impedir, qual ramo seco, a atuação da seiva do amor de Deus. Aliás, mesmo tendo
falhas, a pessoa de cooperação com a ação divina procura sempre amoldar-se aos
ditames de sua palavra, tentando corrigir o que não se afina com o Evangelho.
Mas a identificação com o projeto
de Deus nos faz relacionar a fé com sua ação conseqüente. Tudo é feito na ótica
do amor e serviço ao outro. Os temperamentos, bem trabalhados com a vontade de
prestar o melhor auxílio possível às pessoas e comunidades, são sempre
revisados para não destoarem desse objetivo. O trabalho contínuo com a própria
terra ou personalidade faz o indivíduo usar continuamente o espírito crítico em
relação ao próprio comportamento para acertar melhor com a causa abraçada
dentro dessa visão e desse ideal. A pessoa, então, une-se a movimentos de
promoção da vida digna, da boa política, de ações que melhor façam justiça para
com os mais frágeis…
A pessoa humana, qual árvore
frutífera, depois de bem cultivada, espalha a semente do bem em todas as
situações e todos os lugares e ambientes onde se situa. Leva a sério o
compromisso ético de respeito aos valores inerentes à dignidade da vida, bem
como dos direitos e deveres de promoção da cidadania. Dá de si para beneficiar
as pessoas e a sociedade. Não se conforma com desmandos, injustiças e lesão do
bem social. Une-se a causas que ajudem a superar a inércia de quem é eleito
para servir ao bem comum e não o faz. Torna-se pessoa de iniciativa para a
superação de qualquer tipo de infidelidade à vocação humana de tornar este
planeta bem cuidado para o benefício de todos.
Por Dom José Alberto Moura –
Arcebispo de Montes Claros (MG)
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