ONDE ESTÃO OS JOVENS?
“A cultura de massa dá forma à
promoção dos valores juvenis e assimila uma parte das experiências
adolescentes. Sua máxima é “sejam belos, sejam amorosos, sejam jovens”.
Historicamente, ele acelera o vir-a-ser, ele mesmo acelerado de uma
civilização. Sociologicamente, ela contribui para o rejuvenescimento da
sociedade. Antropologicamente, ela prolonga a infância e a juventude junto ao
adulto. Metafísicamente, ela é um protesto ilimitado contra o mal irremediável
da velhice.” (Edgar Morin)
Diante de tantos desafios,
convites, atividades que propomos e com a constatação do esvaziamento de nossos
grupos aos jovens, além das inúmeras respostas negativas que recebemos,
constantemente nos perguntamos: Onde estão os jovens? Ou ainda: o que
precisamos fazer para compreender as novas juventudes? Essas são questões que
em certos momentos podem nos provocar certo desânimo.
Ao se fazer essas interrogações e,
em seguida, buscar soluções a partir de reflexão e com planejamento, já seria
uma boa dica para onde deveríamos concentrar nossos esforços.
Porém, isso não é tão simples como
nos parece, haja visto que esses lugares, mudam constantemente, assim como
mudam também as preferências juvenis. No entender do sociólogo Bauman (2001), a
atualidade é um tempo marcado pela flexibilidade, fluidez e maleabilidade que
provocam a fragilização das relações. Além disso, esse processo de liquefação
leva a dissolução das instituições – família, estado, relações de trabalho,
escola, etc – que na modernidade eram consideradas bases para unificação entre
as pessoas. A consequência disso é o
surgimento acelerado de transformações sociais, nas quais se dissolvem os laços
afetivos que, por sua vez, leva a um processo de individuação e subjetividade.
E disso os jovens não são isentos!
O que muitas vezes dificulta a
nossa ação pastoral é a fato que “procuramos” os jovens da mesma forma que anos
atrás, esquecendo, portanto que os mesmo são as primeiras “vítimas” e, ao mesmo
tempo, protagonistas dessa sociedade líquida.
Outro ponto que devemos levar em
conta em nosso trabalho pastoral é a realidade de “nomadismo”. Esse é um dos
elementos que sobressaem na caracterização do perfil das juventudes na
contemporaneidade, ou seja, a sua condição de mobilidade. Essa palavra pode ser
entendida em seu sentido literal (deslocamento espacial e geográfico ou mesmo
“des-centramento, des-espacialização), como também o significado se amplia a
uma mobilidade temporal (viver tempos de passagem, alternância momentânea,
simultaneidades) ou ainda, supor a existência de um nomadismo de percepção
(absorver fluxos, filtrar, aparar, assimilar, equacionar ou inúmeros “chocs”
(Benjamin, 1989, pp 109-113). Todos esses fatores resultam de uma vida
cotidiana tensa e intensa, permeada pela relação com a cidade e conectada com
as velhas e novas mídias.
É interessante observar que os
jovens inseridos em outros lugares, que não nas grande cidades, também
experimentam essa mobilidade temporal e espacial, propiciada, por exemplo, pelo
contato com a televisão ou internet. A imersão no contexto das variadas mídias
permite que o distante se torne próximo e seja incluído em seu cotidiano
doméstico e familiar. A informação passa ser apropriada quase em tempo real,
fazendo com que haja entrelaçamento de papéis e funções entre os produtores e
usuários, os quais vivenciam de forma permanente os ambientes de migração
digital (Vilches, 2003)
Com tudo isso, podemos constatar
que encontraremos os jovens nas mais diversas MÍDIAS SOCIAIS. O grande problema
é que não desenvolvemos uma linguagem apropriada para lidar com esses novos
ambientes e, por isso, temos imensas dificuldades em adentrar no espaço e na
vida dos jovens.
Lugares onde podemos
encontrar/educar os jovens?
Não podemos descartar nossos grupos
– embora muitos com estruturas e pensamentos arcaicos – como espaços autênticos
de educação e presença edificante das juventudes. São ambientes privilegiados
para acompanhar, orientar e trabalhar com os jovens. No entanto, os grupos não
devem e não podem constituir-se em lugares aparte, ou seja, retirando dos
outros espaços. Antes é função dos grupos oferecer um duplo movimento de
distanciamento e de inserção das juventudes no mundo e na sociedade. No momento
em que estão sob a influência direta da pastoral, os jovens podem afastar-se de
outros espaços de vida para submetê-los a uma reflexão crítica à luz da fé
(distância). E depois ao voltarem aos seus cotidianos poderão encarar os
problemas e alegrias da vida com um novo ânimo e nova clareza (inserção).
Dentro de vários espaços que
poderíamos citar, quero destacar três (além das mídias sociais):
1. Família: A família exerce influência
benéfica e maléfica, oscila entre os extremos de um desastre total e um paraíso
terrestre. Misturam-se doses diferenciadas de elementos construtores da
personalidade do jovem e fatores patogênicos. Essass medida que diferencia as
famílias permitem juízos mais positivos ou negativos. (Libânio, 2004).
Os nossos trabalhos pastorais
esbarram fortemente nessa problemática. Nos grupos de jovens e nas orientações
pessoais, debatem-se frequentemente tais dificuldades, uma vez que a situação
familiar ultrapassa o nível pessoal e interpessoal. Constitui-se aqui uma
questão cultural que envolvem os laços familiares.
2. Escola-Trabalho: Queremos encontrar jovens?
É só irmos à escola, afinal de contas, os jovens estudam! E nesse sentido,
existem duas forças que exercem poder de coerção junto às juventudes: o
trabalho e o estudo. Esses dois compromissos conseguem arrancar os jovens da
comodidade de suas camas, fazê-los enfrentar frio ou calor, coloca-los em
trânsitos horríveis e impor-lhes cansaços acumulados. Impressiona ver os jovens
se movimentando em busca de trabalho e de estudo.
As nossas estruturas eclesiais
que até pouco tempo conseguiam movimentar os juventudes tanto quanto as
estruturas citadas e, assim exerciam seu poder coercitivo. Com a aparente
liberdade que os jovens adquiriram na atualidade, a religião buscou atrair essa
parcela da sociedade por outros meios. Infelizmente não são propostas
motivadoras e, por vezes, distantes das realidades juvenis.
Por isso, é inegável a força
coativa da escola. Ela exercer um controle social pela obrigação da frequência.
Liga o êxito com a presença física. Por exemplo: existe a figura da reprovação
por ausência, mesmo que o aluno demonstre ter apreendido até melhor que os
colegas que frequentam assiduamente às aulas. Tal lógica não visa a garantia do
aprendizado, já que este poderia ser assegurado de outra maneira. Muitos
analistas suspeitam de uma vontade social de manter os jovens alheios à vida
adulta e sob a guarda vigilante de adultos. Sendo assim, não podemos descartar
de forma nenhuma a escola como um espeço privilegiado de jovens.
3. Diversos grupos ou tribos juvenis
(urbanas): Estamos acostumados a ver jovens “normais” em nossas comunidades
e/ou cidades. O máximo do diferente é alguém com um corte de cabelo não comum,
ou com uma calça jeans toda rasgada, ou ainda, jovens com roupa de cor exótica
e cheios de correntes, pulseiras, botons, anéis etc. Isso não parece preocupar.
No máximo, causa espanto ou é motivo de gozação. Nos grandes centros urbanos (e
o mundo se urbaniza cada vez mais), o diferente já se organiza, tem normas,
leis, códigos, adeptos... Este fenômeno da juventude moderna já chegou até nós.
É importante que conheçamos as razões de tal fenômeno para sabermos agir diante
dele. E o nosso agir é pensar seriamente como se aproximar, aproximando-se
cativar, e depois acolher esses jovens, dentro de nossa estrutura muitas vezes
moralista e engessada.
Portanto, precisamos pensar
seriamente como tornar a nossa pastoral mais eficaz no ponto de vista de
atingir os jovens a partir de sua realidade e não cair na tentação de achar que
temos que trazer os jovens para dentro dos nossos “muros”. Só poderemos avançar
pastoralmente quando verdadeiramente aceitarmos que a nossa pastoral é
extra-eclesia, portanto, fora dos muros da Igreja, e reconhecendo os lugares
onde a juventude está, como lugares autênticos de Evangelização, afinal Jesus
passava por todos os lugares e onde ele passava “Ele fazia bem todas as coisas”
(Mc 7,37).
Frei José Neto, OSJ
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