QUANDO O SILÊNCIO É COMUNICAÇÃO
Hoje assistimos a um silêncio que
oprime e que deve ser rompido com a
coragem profética para que a cadeia das injustiças institucionalizadas não continue a silenciar milhões de pessoas
que gritam no deserto.
Este silêncio de morte que vemos por ai
desde o silêncio do medo que a máfia de todas as matizes espalham ao seu redor e o “não sei não
vi, não escutei”, ao silêncio dos
trabalhadores que diante de salários injustos não podem reclamar pelo medo de ficar sem trabalho e ter uma vida pior. Do silêncio das crianças abortadas que não podem nem
gritar e nem defender-se ao silêncio dos presos e torturados que
devem calar para que outros não
sofram injustamente. Estes silêncios
invadem os meios de comunicação
que, a serviço de poderosos, falsificam
a verdade e se colocam do lado do poder
para ter cada vez mais um posto mais
alto.
Há o silêncio do diabo que está
ao lado dos justos e dos santos e com
sua presença silenciosa invade o
temor e insegurança, gerando o medo coletivo. Não é este o
silêncio que deve ser mantido. Este silêncio deve ser rompido para que a voz da
verdade possa ser ouvida em todos os
lados e que nasça no coração das pessoas
o silêncio da esperança que está para nascer. O silêncio é útero da sabedoria a
verdade. É no mais profundo de si mesmo que o ser humano necessita descer não para escutar a si mesmo, as suas lamúrias e fracassos ou
sonhos idealizados, mas sim para escutar
a voz de Deus que o chama a assumir corajosamente a sua identidade de pessoa de
cristão sem ter medo de nada e de
ninguém.
O Papa, na sua catequese sobre o
silêncio, nos recorda citando Santo Agostinho, “que na medida que o
Verbo crescer, a palavra do homem diminui”.
Aliás diante de Cristo verdade caminho e
vida somente tem espaço para o silêncio. O caminho que deve ser percorrido é fugir do “barulho”, seja qual for, quer seja visivo com as imagens que as TV, internet e outros meios jogam com
abundância dentro de nós e que
nos impedem de refletir, de avaliar, não nos dão o tempo de avaliar os fatos porque quando você começa a
pensar é outra imagem que vem e leva longe a primeira. O barulho auditivo
que nos persegue todos os dias e sentimos que sempre mais é necessário gritar mais forte para que
possa ouvir o barulho distante do outro, mas não escutá-lo.
É um burburinho que chega até
nós, sons convulsivos, mas não
inteligíveis. São músicas, são palavras
que impedem o ser humano de saber
“escutar-se e escutar aos demais”; recuperar o silêncio exterior é
fundamental. Criar pelo menos uma vez por semana um “oásis de silêncio exterior”, onde
possamos permanecer “a sós” duas ou três
horas para ouvir a doce
brisa que chega até nós e na qual o Deus
da vida está escondido( 1 Rs 19, 12) Quando o silêncio é fuga se torna não comunicação, nervosismo, mal estar e espalha ao seu redor um clima de desconfiança e de tristeza.
Quando o silêncio é comunicação é
como o perfume que faz sentir sua
presença embora não seja palpável. É
neste silêncio que devemos entrar
novamente para compreender o que diz o místico João da
Cruz “Uma palavra falou o Pai, que foi
seu Filho, e a fala sempre em eterno silêncio e, em silêncio, há de ser ouvida
pela alma.” Os místicos não são pessoas anti-sociais, mas exemplos de comunicação. Cada palavra que
eles pronunciam é palavra de vida, de esperança, de alegria e de amor. E quando
a palavra “é como espada a dois gumes
que penetra até o miolo dos ossos” é para que
seja operadora de conversão e de salvação. Somente quando o ser humano redescobrir a necessidade do silêncio para se medir
consigo, com os outros e com Deus, saberá que a força do testemunho não é palavra, mas
o silêncio, o doce silêncio. Dando a
palavra ainda a João da Cruz:
A noite sossegada,
Quase aos levantes do raiar da
aurora;
A música calada,
A solidão sonora,
A ceia que recreia e que
enamora.(C 15)
É o momento de praticar o que Jesus nos ensina se queremos
rezar, falar com Deus e escutar seu Filho bem amado: “desce em você, fecha a
porta e fala ao Pai.” (Mt 6)
Frei Patricio Sciadini, ocd
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