O compromisso de um líder nasce
da sua visão da realidade, do modo como ela fala à sua consciência e afeto. São
José Marello, Padre, depois Fundador dos Oblatos de São José e por fim Bispo do
norte da Itália sentiu as necessidades de seu tempo e respondeu a elas com a
coragem de um homem de fé.
José Marello foi jovem e como
qualquer jovem teve suas crises, buscas e tensões, próprias da fase da
juventude e muito influenciadas pelo meio circundante de seu tempo. Talvez a
grande diferença da situação de José Marello em relação àquela dos jovens e
adolescentes de hoje é que ele tinha princípios humanos e cristãos. Foram
elementos fundamentais de sua educação religiosa e familiar. É notório que a
sociedade hoje não valoriza estes princípios. Mas esta afirmação não implica
que no tempo do Marello a sociedade tivesse seus valores mais marcados pelo
cristianismo. Não! A sociedade italiana daqueles tempos, especialmente nas
cidades grandes, estava muito marcada pelo positivismo, uma espécie de modo de
ser que descarta a necessidade da fé e da adesão a qualquer forma de religião.
José Marello teve família e ela
tinha a experiência de fé, algo fundamental para o crescimento da
personalidade. Ele nasceu em Turim, norte da Itália. Ainda menino foi levado
para São Martinho Alfieri, na região do
norte da Itália chamada Piemonte. Lá ele teve contato com a vida simples e
cheia de afazeres e dedicação dos pobres trabalhadores rurais. Por estar neste
ambiente ele teve mais horizontes humanos, e não apenas comerciais, políticos
ou de negação dos valores religiosos.
Depois de entrar no seminário
houve uma crise vocacional, ampliada ou motivada por questões políticas que
geraram conflitos armados naquelas regiões onde ele vivia. Nesta situação ele
saiu do seminário e, no contato com a sociedade de seu tempo, especialmente na
grande cidade de Turim, pensou em responder às necessidades de seu tempo com os
recursos políticos, econômicos e sociais à disposição. Não era este o caminho
para ele, contudo. Foi preciso uma doença que o prostrou de cama e lhe deu
muitas dores para que ele percebesse que o caminho que trilhava não era o
melhor.
Ter opinião é um desafio e há
sempre um enorme contingente de coisas e pessoas que desejam influenciar nossa
opinião. No caso de José Marello havia os estudos de economia, o movimento da
cidade de Turim, provavelmente algum afeto, especialmente o desejo do pai de
que ele continuasse como leigo. Mas o jovem José teve a coragem de retomar seu
primeiro amor, seu primeiro chamado: ser Padre, seguir os passos do Mestre e
não ter receio de dedicar a vida a Jesus Cristo.
Mudar de opinião ou corrigir a
rota da vida é algo que exige coragem, ânimo, despojamento e decisão. José
Marello mudou sua rota de vida, retomou o caminho do sacerdócio e voltou a
encontrar a felicidade. Ela existiria se ele soubesse responder ao que ouvia e
via à sua volta: a ausência de Deus e dos valores religiosos era uma situação
gritante, um convite a corresponder com uma vida fiel e com o trabalho de
presença e ação concretas. E ele respondeu a tudo isto se envolvendo com Fé.
A resposta do Marello foi assumir
a vida no seminário em função da futura vida de Padre. A coragem que ele
demonstrou foi a de quebrar correntes, condutas e reassumir o compromisso com o
Senhor. Quando foi Padre ele terá outra coragem: a de criar um grupo de
“oblatos”. Originalmente esta era a palavra que identificava as pessoas que,
não podendo ser religiosas por algum motivo, assumiam apenas o “espírito” da
vida religiosa. Assim, os Oblatos de São José nasceriam como simples cristãos
que desejavam ser plenamente fieis, dedicados a Deus na Igreja, especialmente
com vistas aos mais simples e humildes. Nem religiosos de uma Ordem seriam:
deviam ser servidores, gente que se oferece a Deus na Igreja — isto é,
“oblatos”
A criação dos Oblatos de São José
corresponde à experiência interior de São José Marello: experiência de visão da
realidade e de compromisso em transformar o que for possível à luz da graça de
Jesus Cristo.
Antes porém de criar os Oblatos,
São José Marello viveu como Padre de uma Diocese e teve os seus problemas,
desafios e compromissos que um Padre daqueles tempos devia ter e viver. O que é
interessante no Marello é que as soluções encontradas para os desafios que ele
enfrentou não foram impostas sobre os outros, como um ocorre normalmente com um
modelo político ou econômico. Ele solucionou os problemas e respondeu aos
desafios primeiramente ouvindo a voz de Deus e seguindo o caminho que lhe
parecia o correto. De fato, ele foi ao seminário e foi ordenado Padre. Depois,
vendo as necessidades de apoio humano, de socorro médico e fraterno, bem como
de educação da fé e humana, ele criou os Oblatos de São José.
Outra grandeza do Marello era a
de observar e corresponder à sua realidade com força, propondo que outros o
acompanhem, sem medo de errar.
Por Pe. Mauro Negro OSJ
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