sábado, 1 de junho de 2013

“Não sou digno de que entres em minha casa” (Lc 7,6)

Um oficial romano, um pagão,  e ao mesmo tempo, homem bom e justo, recebe um  elogio de Cristo pela sua fé: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” (Lc 7, 9). Detalhes no caminho de fé nesta perícope: a) o amor do oficial pelo empregado; b) ouviu falar de Jesus e brota a confiança no seu coração por Ele; c) envia alguns anciãos dos judeus a Jesus, seja por não se achar digno, seja por estimar o povo e o ajudar; d) confiou nos anciãos intercessores (v. 4-5); e) o testemunho e a insistência dos anciãos (v.4); f) o envio de outros amigos com a mensagem de humildade: “não te incomodes”..”não sou digno de que entres em minha casa nem mesmo de ir pessoalmente ao teu encontro” (v.6-7); g) a certeza da cura (v. 7-8). Uma sequência, uma mistura de humildade, confiança, fé, certeza e amor impressionantes. Fé e humildade casam muito bem, com amor e confiança, verdade e simplicidade. Neste ano da fé uma lição e tanto!

O texto do Evangelho: Lc 7,1-10
“Oficial romano” (v.2)
Trata-se de um centurião (chefe de uma centúria formada por 80 soldados legionários), um pagão favorável aos hebreus. Com ele inicia a passagem do Reino aos pagãos e lembra outro centurião em Atos 10-11. O relato com nuances diferentes encontra-se também em Mt 8,5-13 e Jo 4,46-54.
“Alguns anciãos” (v.3).
Eram os chefes da sinagoga local e isto fica claro pelo v 5. Já se vislumbra Israel como intermediário para com os pagãos. Jo escreve: “a salvação vem dos judeus” 94,22
Não sou digno de que entres em minha casa” (v. 6)
O Centurião provavelmente sabe que Jesus como hebreu não pode entrar em sua casa (Cfr. At 10,28), mas ao mesmo tempo mostra sua modéstia e humildade.
“Uma palavra” (v. 7).
Sabe que uma palavra do homem de Deus é eficaz (Cf Is 55,11) como sabe da importância de sua palavra e ordem que é executada sem pestanejar pelos soldados seus subalternos.
“Jesus ficou admirado” (v.9)
Jesus mesmo se admira da fé do centurião e anuncia a entrada da fé dos pagãos. (ver também Mt 15,28).
“Nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé” (v.9).
Lucas, um pagão convertido usa a expressão “nem mesmo em Israel” que valoriza muito os pagãos e os coloca até numa certa superioridade ao povo eleito.
“Encontraram o empregado em perfeita saúde” (v. 10)
Note-se: pela fé e humildade deste pagão  seu servo, quem sabe outro pagão, é curado.
Ruminando o texto: fé e missão
A fé
Este texto apresenta entre outras, duas reflexões claras e em primeiro lugar aquela  fé. Bom parar um pouco neste ano da fé. Este estrangeiro torna-se um paradigma de fé evangélica, ou seja, uma fé humilde que se transforma em vida e ação. O Catecismo da Igreja Católica fala da fé professada, fé celebrada,  fé vivida, fé interiorizada na oração cristã, cujo resumo se encontra no Pai-nosso. Já S. Agostinho falava de três aspectos da fé. A) O primeiro credere in Deum é o subjetivo: eu creio. É a fé que impregna toda a nossa existência. Crer em Deus marca um antes e um depois na nossa vida: as nossas relações familiares, sociais, econômicas, políticas, etc. B) O segundo aspecto da fé, o que eu creio, é o objetivo: Credere Deum. Cremos em um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo, cremos que Deus fez-se homem para a nossa salvação e o Filho Único do Pai eterno fez-se carne, pela ação do Espírito Santo, nas entranhas puríssimas da Virgem Maria, morreu e ressuscitou e fundou a Igreja. C) O terceiro aspecto é o motivo pelo qual cremos que é a autoridade de Deus que se revela: Credere Deo.  Não acreditamos porque estudamos ou temos muitos argumentos racionais, nem mesmo porque nos sentimos bem, e nem muito menos porque a nossa família sempre foi católica. Cremos porque Jesus Cristo nosso Senhor falou: a certeza da fé se baseia nEle.  Jesus é o “autor e consumador de nossa fé” (Hb 12,2), a verdadeira razão de nossa fé e na palavra fé estão também embutidas a perseverança, a confiança, a dependência de Deus e a entrega nEle, o testemunho alegre de nossa vida, sabendo que “caminhamos na fé não na visão clara” (2 Cor 5,7)

 Missão
Lucas narra a cura do servo do centurião e o apresenta  como alguém que “merece” (v.4)  porque ama com os fatos. Uma verdadeira abertura do Reino a todos os povos.  Israel foi sempre marcado pela experiência espiritual que Ele era propriedade de Deus e 23 vezes encontra-se a frase: “Vós sereis o meu povo e Eu serei o vosso Deus”. Só aos poucos o AT se abriu ao universalismo e foi aceitando a ideia que o Senhor era também Deus dos outros povos e os amava todos, como, por exemplo, lemos na primeira leitura de hoje: “Senhor, escuta então do céu onde moras e atende a todos os pedidos desse estrangeiro, para que todos os povos da terra conheçam o teu nome e o respeitem como faz o teu povo Israel” (1 Rs 8, 41-43) e no Salmo responsorial 116.  Não temos o nome do centurião, mas conhecemos sua fé e ainda hoje suas palavras são oradas antes de comungar. Precisamos evitar dois erros: pensar que toda religião é boa e pensar que só nós estamos certos. O caminho: buscar o que nos une, no respeito de todos e na oração sincera.
Viver a fé, a oração e a missão.
a)Hoje, somos ensinados, a viver a fé unida à oração - intercessão como fez Salomão (primeira leitura 1 Rs 8,41-43) e como fez o centurião que orou a partir de sua vida e da realidade do servo doente. A oração autentica é como a fé: é proporcional à qualidade de nosso amor, mas, nunca proporcional ao mero nosso esforço humano: é graça.
b) Fé e oração exigem humildade profunda. Saboreie nesta semana a oração humilde do centurião: “'Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente ao teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado”. (Lc 7,1-10). Nesta oração, o centurião encontrou a si mesmo em sua humanidade, encontrou a comunidade que o apoiou e encontrou Jesus. Fé é, na verdade, deixar todas as seguranças da vida: dinheiro, poder, carreira, prazer, culturas, bem-estar...  e se confiar (= entregar) em Deus. Plenamente!
c)A fé deve ser anunciada, mas, sem fazer media: “Será que eu estou buscando a aprovação dos homens ou a aprovação de Deus? Ou estou procurando agradar aos homens?”  (Gl 1,1-2.6-10 ). Como vivemos nossa vida ministerial? Cuidado: agradar aos homens não é ser “servo de Cristo” (Gl 1,10)

O Salmo 116, responsorial, nos ajuda a viver uma fé missionária e a proclamar o Evangelho a toda criatura cantando o louvor a todas as gentes. Qual garantia? “Comprovado é seu amor para conosco,
para sempre ele é fiel!”
Então fé oração e missão se entrecruzam na garantia do amor de Deus por nós e por toda a humanidade.

Nós falamos sempre da fé em Jesus, mas, qual era a fé de Jesus? No que acreditava o homem Deus Jesus? Assim como nós, pessoas humanas, temos e precisamos de fé, também Jesus como homem tinha uma profunda fé. Podemos contemplar e extrair alguns sonhos de Jesus dos evangelhos:  a)o Pai, o Abbá (Mc 14,36); b)o Reino de Deus (Mt 6,31-33); c)o amor (Jo 15,12); d)os pequeninos (Lc 10,21-22). Durante esta semana, aprofunde estes pontos, ore com eles, e, sobretudo, preencha com eles a tua vida diária.

Grave estes dois textos no coração e  na vida. 1) “Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” *1 Jo 5,4); 2) “A fé sem as obras está totalmente morta
 (Tg 2,17): Fé e vida vivem ou morrem juntas amigos\as!

 Padre Mário Guinzoni OSJ





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