Vocação no nosso DNA
Um dos resultados da alta tecnologia de hoje é a descoberta do DNA da pessoa. Esta descoberta abriu horizontes infinitos sobre pesquisas científicas e interessantes aprofundamentos sobre o que a pessoa era antes do seu nascimento e o que será até o fim da sua vida.
Nesta perspectiva, ulteriores pesquisas estão sendo feitas e com relativas hipóteses. Uma vez conhecida, com antecedência, certa predisposição de alguém para certas doenças, “modificando” o seu DNA, segundo estes estudos, seria possível evitar doenças e garantir um grau de subsistência satisfatório, sem muitos sofrimentos e com uma vida longa e harmoniosa.No caminho vocacional poderia se apresentar o mesmo enigma: Como é possível prever o que serei? Existem “receitas” que me fazem prever se a minha maneira atual de viver é garantia de um futuro isento de problemas e defecções particulares?
Em suma, me pergunto: Como posso conhecer o meu DNA vocacional de tal maneira a conhecer, com certeza, qual será o meu futuro, tendo a possibilidade de “corrigi-lo”e assegurar-me assim um futuro FELIZ?
“O que não é Deus, é um sonho”. Ou Deus se torna de verdade a nossa opção fundamental, ou é algo que nós construímos à nossa imagem e semelhança.
A VIDA: UM DESAFIO
Colocado assim o problema, parece-me importante observar que o axioma “viver a vida entre o agora e o ainda não” condensa em si todo um programa de vida de qualquer tipo de vocação. De fato, é a experiência do cristão que deve investir, em cada instante de sua vida, todas as suas escolhas presentes e futuras sobre um dado de fé que, no entanto, tem o sabor de “segurança zero”.
Empenhar hoje a minha vida num futuro que não possuo, torna-se cada vez mais um “desafio” e, se não tomar cuidado, pode-se cair no risco de correr a vida inteira atrás de dúvidas e questionamentos obsessivos que, aos poucos, me levam a fugir da decisão.
Certa vez perguntei a um jovem, recém entrado no seminário, como via o seu futuro. Fiquei surpreso quando me respondeu que via a vida como uma “cascata de felicidade”. É este mesmo o resultado que os médicos querem alcançar através das pesquisas. Mas, será que é este, na realidade, o ideal que deveria perseguir quem começa um caminho de discernimento e de procura vocacional?
VIVER O “AGORA”
Viver o agora não pode prescindir do conhecimento objetivo do que somos: a nossa história, o nosso passado, tomando consciência das alegrias e feridas que marcaram a nossa existência. Muitas vezes os ideais altos demais, o querer ser um certo tipo de pessoa com tantas qualidades, aberta, extrovertida, alegre e todos os adjetivos “bonitos” que poderiam ser acrescentados, quando se deparam com o “agora”, com aquilo que uma pessoa é de fato, podem diminuir o potencial e o entusiasmo face a uma doação.
Uma vida pobre não pode ser doada! É a conclusão a que pode chegar uma pessoa: uma falsa conclusão! De fato, a carta aos Hebreus afirma que também as pessoas escolhidas para o serviço do Reino são “sujeitos à fraqueza humana” (7,28). Só em Cristo encontra-se a perfeição!
Fixar o olhar sobre nós mesmos deveria nos levar automaticamente a fixar os olhos em Deus, como escrevia aquele jovem ao seu amigo: “quanto mais penso em Deus... assim sinto poder esperar tudo por Ele”. Esperar tudo de Deus não significa fechar-se na passividade, mas desencadear uma luta, a luta de quem sabe que pertencer a Deus significa renunciar a algo de si.
EDUCADOS À RENÚNCIA
Mas isso, hoje, não é fácil. À mulher e ao homem de hoje, preocupados em procurar “símbolos de imortalidade” como o dinheiro, o poder, o sucesso, etc, a palavra renúncia ecoa como uma nota desafinada numa orquestra que está tocando maravilhosamente. Por outro lado, não aceitar renúncias em nossa vida é viver “fora da realidade”, fechar-se num pensamento mágico e ficar no mundo dos desejos.
Toda decisão, para um jovem que quer levar a sério a própria vida, implica
Renunciar aos desejos pré-constituídos para o futuro custa muito sacrifício e, freqüentemente, cai-se no erro de escolher “o mais fácil”, ou aquele “que custa menos”. Em todo caso, quem na vida foi educado à renúncia, sabe bem que, embora ela seja fonte de sofrimento, é, sem dúvida, um momento precioso através do qual o jovem pode viver, em sua existência, o Mistério pascal, associando-se à cruz de Cristo: “Tome a sua cruz”.
A renúncia pode ainda ter um significado “existencial”, tornando-se ocasião ou estímulo de conversão. Pode também ter um significado “evolutivo”, pois aumenta a liberdade do jovem na escolha e na prática dos valores evangélicos da pobreza, da castidade e da obediência, que deverá testemunhar em sua vida futura.
A ESCOLHA DE DEUS
Renunciar por renunciar, sem dúvida, não ajuda em nada, aliás, poderia ser considerado um fanatismo superficial. As pequenas e grandes renúncias se tornam significativas se forem feitas em vista de uma escolha: a escolha de Deus.
Deve estar bem claro, para quem inicia um caminho de discernimento vocacional, que a escolha de Deus é o pano de fundo de toda caminhada existencial. Deus é mais importante do que todas as minhas decisões e a própria vocação que vou escolher e seguir. Deus é o tudo da nossa vida!
Um santo afirmou: “O que não é Deus, é um sonho”. Ou Deus se torna de verdade a nossa opção fundamental, ou é algo que nós construímos à nossa imagem e semelhança. Sendo assim, é destinado a se acabar como um sonho que, mesmo bonito, acaba.
Escolhendo Deus, voltaremos às origens de nossa vida, lá onde um dia Deus nos chamou, onde planejou também a nossa história a ser assumida na liberdade. Portanto, não será necessário modificar ou corrigir o nosso DNA, já que, com certeza, a nossa felicidade consistirá em ter encontrado a fonte desta felicidade e do amor, que sempre quer o nosso bem.
José Negri - PIME
Sacerdote e Psicólogo
Fonte: http://www.pime.org.br/
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