sexta-feira, 20 de abril de 2012

TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA-B “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. (Lc 24, 48)



O texto que nos é proposto para este  III domingo de Páscoa é a continuação do relato dos discípulos de Emaús e nos apresenta a terceira  aparição  em Lucas, que com o texto da Ascensão  (Cfr.24,49-53), conclui o seu Evangelho. Estamos então no contexto de continuidade com a perícope precedente, e podemos observar também certa ligação com Jo 20,19-29 de domingo passado. O nosso texto, portanto, repropõe a verdade da Ressurreição de Jesus, segundo as Escrituras e a missão de testemunhar confiada aos apóstolos que, nesta aparição, vivem sentimentos e experiências intensas e contrastantes.
Entendendo o texto (Lc. 24,35-48)
Neste texto os onze apóstolos não falam, melhor dizer não conseguem falar, e passam de sentimentos de medo (v. 37), à alegria ao testemunho (v. 48): como que  um caminho interior e espiritual.
É a terceira aparição em Lucas: a) às mulheres (24,1-12), aos dois de Emaús, (24, 13-35) e, a nossa de hoje.
As três aparições são marcadas, neste evangelista, pelo fio condutor das Escrituras. De fato Jesus fala de “cumprimento” das mesmas (v.44), que exige sempre “abrir a inteligência” (v.45) que no verbo original deve ser traduzido por “juntar” “sintetizar”, ou seja, convida os apóstolos a fazer um trabalho de “inteligência”=intus legere (latim) “ler dentro no profundo” “recolher- juntar”.
                Os apóstolos não tem com certeza este dom de síntese  e é o mesmo  Jesus que escancara (assim diz o grego) a cabeça deles (v. 45) - e sabemos que Jesus faz isto e continua fazendo-o através do seu Espírito (Jo 14,26) - e os torna “testemunhas” (v. 48)
                Talvez por isso que Jesus se introduz oferecendo a paz (v. 36) para que eles abandonem as preocupações e raciocínios (v. 36) que emperram o passo da fé e impedem de reconhecer Jesus vivo ressuscitado.
A mensagem do texto para nossa vida
Hoje os apóstolos somos nós e somos convidados a fazer este itinerário interior que, bem entendido, pode durar um bocado de tempo. Vejamos.
1)Primeiro é preciso superar o susto, o medo, os fantasmas (coitado de Jesus confundido com um fantasma!)  que temos por dentro. Quem sabe imagens falsas de Jesus que introjetamos ao longo da vida ou simplesmente o medo de encarar Jesus e seu mistério pascal e fazer sua vontade! Numa comparação: os apóstolos nestas aparições todas ficaram- e nós hoje quem sabe ficamos- com uma foto desfocada de Jesus, onde ainda não se entende e nem se conhece e se percebe o rosto claro dele. Uma fotografia tremida sem “alta definição”, como diríamos hoje.
2)O “fotógrafo” Jesus se encarrega de limpar a foto e tira as dúvidas e os fantasmas dos apóstolos – e nossas- em três maneiras pedagógicas:
a)mostra as mãos e os pés, manda que o toquem o vejam... é Ele mesmo vivo de novo puxa! b) come na frente deles pão e peixes (lembrar que são símbolos de Cristo no NT). Pergunta marota: será que os apóstolos não tinham vontade de acompanhar Jesus neste banquete? c) abre as mentes com a compreensão das Escrituras e mostra como elas se cumprem nele.
Nós hoje podemos “ver” tocar Jesus na Eucaristia, comer seu Corpo e Sangue, podemos ler aprofundar as Escrituras. No fundo é o mesmo caminho dos 11 apóstolos que se repete todos os tempos.
3)Agora sim: o medo se transforma em alegria e descobrimos o verdadeiro rosto de Cristo. Mesmo nas dificuldades da vida a Palavra e a Eucaristia nos iluminam e nos fazem ver Jesus mesmo como um ícone russo que através de uma  imagem que tem a finalidade de mostrar a realidade divina escondida.
4) Com a alegria vem junto no pacote o perdão (= “conversão dos pecados  segundo o  texto e sua consequente misericórdia) e até o testemunho de vida na comunidade (“começando em Jerusalém”) e no mundo. Missionariedade: partir de Jerusalém para o mundo: mundo da família, do trabalho, da sua comunidade, da escola, da política....
Bem as outras leituras  do dia tem algo mais  a nos dizer e muito importante.
Na Primeira Leitura (Atos 3,13-15.17-19) Pedro anuncia com coragem o Kerigma essencial da fé: Cristo ressuscitou e a necessidade de profunda conversão a esta verdade.
A II Leitura (1 Jo 2,1-5)  frisa a necessidade de guardar os mandamentos e a palavra para viver o amor de Deus em  Jesus: Para saber que o conhecemos, vejamos se guardamos os seus mandamentos. Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele.” (v. 3-4). Aqui temos  um convite claro para unir a fé à vida.
 Orar  com a Palavra
Salmo 4: Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
“Quando eu chamo, respondei-me, ó meu Deus, minha justiça!/ Vós, que soubestes aliviar-me nos momentos de aflição,/ atendei- me por piedade e escutai minha oração!\ Compreendei que nosso Deus faz maravilhas por seu servo,/ e que o Senhor me ouvirá quando lhe faço a minha prece! \Muitos há que se perguntam: “Quem nos dá felicidade?”/ Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face! 
Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço,/ pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!”


O salmo é uma oração de confiança em tempos duros, e a confiança está fundamentada na fidelidade de Deus aprendida não na sinagoga, mas, na luta do dia do salmista. Deus na vida sempre mostrou ao salmista – e a nós hoje- o seu rosto, ou seja, seu amor e carinho que é como luz nas trevas. Esperar no Senhor é tudo e Ele é o  esteio sempre, portanto, nenhum íncubo noturno, nenhum medo. A única surpresa na vida é Ele! Avante! (Leia atentamente o salmo, reze com calma, e saboreie o gosto de Deus).

Bom fim de semana para todos e todas.

Padre Mário Guinzoni OSJ

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