O texto que nos é proposto para
este III domingo de Páscoa é a
continuação do relato dos discípulos de Emaús e nos apresenta a terceira aparição
em Lucas, que com o texto da Ascensão (Cfr.24,49-53), conclui o seu Evangelho. Estamos
então no contexto de continuidade com a perícope precedente, e podemos observar
também certa ligação com Jo 20,19-29 de domingo passado. O nosso texto,
portanto, repropõe a verdade da Ressurreição de Jesus, segundo as Escrituras e
a missão de testemunhar confiada aos apóstolos que, nesta aparição, vivem
sentimentos e experiências intensas e contrastantes.
Entendendo o texto
(Lc. 24,35-48)
Neste texto os onze apóstolos não falam, melhor dizer não
conseguem falar, e passam de sentimentos de medo (v. 37), à alegria ao
testemunho (v. 48): como que um caminho
interior e espiritual.
É a terceira aparição em Lucas: a) às mulheres (24,1-12), aos
dois de Emaús, (24, 13-35) e, a nossa de hoje.
As três aparições são marcadas, neste evangelista, pelo fio
condutor das Escrituras. De fato Jesus fala de “cumprimento” das mesmas (v.44), que exige sempre “abrir a inteligência” (v.45) que no
verbo original deve ser traduzido por “juntar” “sintetizar”, ou seja, convida
os apóstolos a fazer um trabalho de “inteligência”=intus legere (latim) “ler
dentro no profundo” “recolher- juntar”.
Os apóstolos não tem com certeza
este dom de síntese e é o mesmo Jesus que escancara
(assim diz o grego) a cabeça deles (v. 45) - e sabemos que Jesus faz isto e
continua fazendo-o através do seu Espírito (Jo 14,26) - e os torna “testemunhas” (v. 48)
Talvez
por isso que Jesus se introduz oferecendo a
paz (v. 36) para que eles abandonem as preocupações e raciocínios (v. 36)
que emperram o passo da fé e impedem de reconhecer Jesus vivo ressuscitado.
A mensagem do
texto para nossa vida
Hoje os apóstolos somos nós e somos convidados a fazer este
itinerário interior que, bem entendido, pode durar um bocado de tempo. Vejamos.
1)Primeiro é preciso superar o susto, o medo, os fantasmas
(coitado de Jesus confundido com um fantasma!) que temos por dentro. Quem sabe imagens falsas
de Jesus que introjetamos ao longo da vida ou simplesmente o medo de encarar
Jesus e seu mistério pascal e fazer sua vontade! Numa comparação: os apóstolos
nestas aparições todas ficaram- e nós hoje quem sabe ficamos- com uma foto desfocada de Jesus,
onde ainda não se entende e nem se conhece e se percebe o rosto claro dele.
Uma fotografia tremida sem “alta definição”, como diríamos hoje.
2)O “fotógrafo” Jesus se encarrega de limpar a foto e tira as dúvidas e os fantasmas dos apóstolos
– e nossas- em três maneiras pedagógicas:
a)mostra as mãos e os pés, manda que o toquem o vejam... é
Ele mesmo vivo de novo puxa! b) come na frente deles pão e peixes (lembrar que
são símbolos de Cristo no NT). Pergunta marota: será que os apóstolos não tinham
vontade de acompanhar Jesus neste banquete? c) abre as mentes com a compreensão
das Escrituras e mostra como elas se cumprem nele.
Nós hoje podemos “ver” tocar Jesus na Eucaristia, comer seu
Corpo e Sangue, podemos ler aprofundar as Escrituras. No fundo é o mesmo
caminho dos 11 apóstolos que se repete todos os tempos.
3)Agora sim: o
medo se transforma em alegria e descobrimos o verdadeiro rosto de
Cristo. Mesmo nas dificuldades da vida a Palavra e a Eucaristia nos iluminam e
nos fazem ver Jesus mesmo como um ícone russo que através de uma imagem que tem a finalidade de mostrar a
realidade divina escondida.
4) Com a alegria vem junto no pacote o perdão (= “conversão dos pecados” segundo o texto e sua consequente misericórdia) e até o testemunho de vida na
comunidade (“começando em Jerusalém”)
e no mundo. Missionariedade: partir de Jerusalém para o mundo: mundo da
família, do trabalho, da sua comunidade, da escola, da política....
Bem as outras leituras
do dia tem algo mais a nos dizer
e muito importante.
Na Primeira Leitura (Atos 3,13-15.17-19) Pedro anuncia com
coragem o Kerigma essencial da fé:
Cristo ressuscitou e a necessidade de profunda conversão a esta verdade.
A II Leitura (1 Jo 2,1-5)
frisa a necessidade de guardar os mandamentos e a palavra para viver o amor de Deus em Jesus: “Para saber que o conhecemos, vejamos se
guardamos os seus mandamentos. Quem diz: “Eu conheço a Deus”, mas não guarda os
seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele.” (v. 3-4). Aqui
temos um convite claro para unir a fé à
vida.
Orar com a Palavra
Salmo 4: Sobre
nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
“Quando eu chamo,
respondei-me, ó meu Deus, minha justiça!/ Vós, que soubestes aliviar-me nos
momentos de aflição,/ atendei- me por piedade e escutai minha oração!\
Compreendei que nosso Deus faz maravilhas por seu servo,/ e que o Senhor me
ouvirá quando lhe faço a minha prece! \Muitos há que se perguntam: “Quem nos dá
felicidade?”/ Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço,/ pois só vós, ó Senhor Deus,
dais segurança à minha vida!”
O salmo é uma oração de confiança em tempos duros, e a
confiança está fundamentada na fidelidade de Deus aprendida não na sinagoga,
mas, na luta do dia do salmista. Deus na vida sempre mostrou ao salmista – e a
nós hoje- o seu rosto, ou seja, seu amor e carinho que é como luz nas trevas.
Esperar no Senhor é tudo e Ele é o esteio sempre, portanto, nenhum íncubo
noturno, nenhum medo. A única surpresa na vida é Ele! Avante! (Leia atentamente
o salmo, reze com calma, e saboreie o gosto de Deus).
Bom fim de semana para todos e todas.
Padre Mário Guinzoni OSJ
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