Fieis ao compromisso...
ABRINDO O JOGO
Antigamente quando não existiam
documentos assinados, papéis de escritório e certificados autenticados, as
pessoas se baseavam na “palavra” e ela funcionava como garantia, não precisava
de muitos carimbos. Cada uma das partes interessadas era “fiel à palavra” dada
e honrava.
Hoje, mesmo que as várias
instituições tenham inventado contratos e mais contratos, juramentos, etc., com
facilidade extrema se volta atrás depois de uma promessa feita. É normal,
portanto, que duas pessoas que declararam fidelidade para a vida inteira,
depois de pouco tempo decidam se separar. Isso acontece até com sacerdotes que,
descobrindo depois de um certo tempo que a promessa feita a Cristo e à sua
Igreja perdeu a intensidade, decidem deixar o sacerdócio.
Em lugar de fazer aqui uma
análise detalhada sobre os “porquês” e as causas de tantos “abandonos”, pois
muitos sociólogos já estão pensando nisto, gostaríamos de suscitar algumas
provocações ou perguntas que, auxiliados por alguns dados psicológicos,
poderiam nos ajudar a entender mais o valor da fidelidade.
É POSSÍVEL SER FIEL?
Podemos afirmar que sim. Os fatos
demonstram: existiram e existem pessoas que fizeram e fazem esta opção,
provando que a fidelidade é possível. Foi por isso que Santo Agostinho, olhando
para os santos, chegou a afirmar: “Se estes conseguiram chegar à santidade,
porque não posso chegar lá também eu?”.
É claro que a pessoa pode sempre
rever ou modificar o seu compromisso, mas as mudanças não significam que a
fidelidade é impossível ou que a pessoa não esteja conseguindo ser fiel.
Significa que ela é livre para assumir o compromisso “por toda a vida” e, ao
mesmo tempo, livre para voltar atrás.
Por exemplo, na vida matrimonial,
os adultérios, com suas atitudes, demonstram que a fidelidade é fruto de uma
decisão que permanece livre mesmo depois da decisão tomada.
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA
A psicologia diz que a pessoa é o
conjunto de “ser” (o que é) e “devir” (mudança). Se fosse somente “ser”, não
haveria mais crescimento, e se fosse somente “devir”, haveria somente mudanças,
mas sem melhoras de algo que já existia. Ficou difícil? Então vamos explicar
melhor.
Na pessoa existe algo que
permanece, um “fio de ouro” que permanece mesmo com o passar do tempo e o mudar
das situações. Este elemento é o seu “eu” que quer afirmar-se sempre mais através
dos compromissos assumidos.
Na pessoa este “eu” pode se
comprometer com o futuro, desde que, nas mudanças, permaneça fiel a si mesmo,
consolidando-se e empenhando-se por valores objetivos.
Para ser mais concretos, vamos
ver um pouco como isso acontece na vida de quem é chamado para uma vocação de
consagração.
O consagrado é chamado a viver
alguns valores como: união com Deus, seguimento de Cristo através de uma vida
pobre, casta e obediente, doação da própria vida ao serviço dos irmãos... Se a
vida do consagrado não se comprometer com estes valores, aos poucos ela se
torna sem sentido, o seu “eu” se fragmenta, a pessoa perde a própria identidade
e se dissolve nos vários acontecimentos do dia-a-dia.
A pessoa pode, portanto, ser
fiel, pois o seu “eu” pode se comprometer e apostar nos valores “para sempre”.
Uma pessoa consagrada que aos poucos vai perdendo o gosto pela oração, que não
procura mais a vida sóbria como caminho para as próprias escolhas, que quer ser
dona da própria vida e não confia mais nas mediações que a Igreja lhe oferece,
que favorece um certo aburguesamento, distanciando-se do povo, com o tempo
corre o sério perigo de comprometer a sua fidelidade ao próprio chamado e à
própria vocação. A vida dela começa a perder significado e surgem as perguntas:
Por que estou fazendo tudo isso? Por que enfrentar um desafio tão difícil para
mim? Nesta altura do campeonato, a pessoa não está mais lançada em viver o
valor, mas tenderá sempre mais a reduzir a sua importância.
O QUE DIZ A FÉ?
A pessoa pode ser fiel porque
Deus é fiel! Toda promessa que a pessoa faz é uma resposta e não uma decisão
autônoma. Se a iniciativa da promessa viesse da pessoa, então ela poderia rever
a sua promessa. No entanto, na vocação cristã, quem toma a iniciativa é Deus, e
como Deus é fiel, também a promessa da pessoa pode e deve ser fiel.
Devemos reconhecer continuamente
este fato primário em todo o momento da fidelidade do cristão, e ainda mais da
pessoa consagrada que é chamada a doar-se por meio de valores que vão além da
situação momentânea e merecem que a pessoa se consagre a eles por toda a vida.
“Se estes conseguiram chegar à
santidade, porque não posso chegar lá também eu?” (Santo Agostinho)
Pe. José Negri - PIME
Psicólogo e Sacerdote
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