terça-feira, 11 de setembro de 2012


Na linguagem do amor, o Piauí fica logo ali…

Há 30 dias atrás estávamos chegando de uma das experiências mais marcantes em nossas vidas..
A Congregação dos Oblatos de São José (Josefinos) respondendo aos apelos da Igreja que convida a avançar para águas mais profundas e ir ao encontro dos irmãos; tem um projeto missionário há mais de 10 anos onde anualmente se reúnem sacerdotes, religiosas e leigos para um trabalho missionário, Projeto Marízia.
E neste ano, nosso desafio foi logo ali… no Piauí, em Bom Jesus, no período de 11 a 24/07. Atendendo a uma solicitação do Pe, José Valdo, Pároco da Matriz Bom Jesus da Boa Sentença e da Catedral N.Sra. das Mercês e Pe. Anísio, Pároco da Paróquia Menino Jesus de Praga, fomos distribuídos em 5 Comunidades Rurais e 3 Bairros da periferia iniciando na segunda-feira e concluindo na sexta-feira e na Paróquia Menino de Jesus de Praga no sábado, juntamente com os missionários da casa.
De um grupo de 44 Missionários entre sacerdotes e leigos, Ourinhos (Paróquias N.Sra. de Guadalupe 16 e São João Batista 6) teve 22 representantes, tudo isso graças ao despertar ocorrido com as Santas Missões Populares. Nosso ônibus saiu de Cascavel (PR), passando por Apucarana, Londrina, Ourinhos e em São Paulo recebemos o  envio para as Missões no Piauí. Todos numa grande expectativa, que reunia: ansiedade, medo do desconhecido, costumes diferentes, diversas culturas, idades… mas uma coisa tínhamos em comum: o sim dado ao convite de Jesus “vem e segue-me” e “ide e evangelizai…”.
Tivemos um contratempo com nosso ônibus que nos manteve parados por 12 horas; porém aproveitamos esse tempo para nos conhecer melhor, para nos aprofundar nos temas que trabalharíamos lá, para brincadeiras e para oração. E após uma longa espera, tínhamos terminado de rezar o terço e estávamos abraçados cantando uma música dedicada à Nossa Senhora, eis que chega de mansinho o nosso ônibus, já consertado. Foi um momento forte, de emoção e de alegria! Pudemos constatar a proteção carinhosa da mãe Maria para com seus filhinhos; e após 60h para os que iniciaram a jornada em Cascavel/PR, chegamos a Bom Jesus/PI.
Após a acolhida pelo Pároco José Valdo e pelo Bispo, Dom Ramón Lopes Carrozas, fomos distribuídos em grupos de 4 a 9 missionários, para as Comunidades onde iríamos trabalhar; sendo que uma das Comunidades rurais, a mais longe, distava a 38km da cidade.
Um dos grandes desafios que tivemos foi superar o calor de quase 38º que nos afligia; pois saímos de um inverno para enfrentar um sol muito forte, além do que onde fizemos as visitas, eram ruas de terra e uma grande parte sem árvores, principalmente na cidade. Os missionários que foram para as Comunidades Rurais, já tinham um pouco mais de verde sob suas vistas.
A realidade que encontramos foi irmãos vivendo com pouca estrutura necessária a uma vida plena, mas com uma vontade de viver e uma alegria muito grande. Foram muito receptivos às visitas, à palavra de Deus e ao convite para os encontros noturnos. Em algumas Comunidades, por falta de um lugar para reuniões, esses encontros para estudos, partilha e orações, foram feitos nas áreas das casas, com apenas um bico de luz para iluminar todos os presentes.
Fiz a missão num Bairro de nome Chapadinha, onde uma parte do bairro foi “tomada” pelos moradores, que lá chegaram, delimitaram seu terreno, construíram suas casas (bem simples, somente levantaram as parede e cobriram: sem portas internas, piso, reboco…) e para lá se mudaram. Uma grande parte não tem água todos os dias e a energia que chega não é suficiente para resfriar a água. Uma das moradoras que mora num lugar mais plano tem um freezer, enche as garrafas pet’s de água e congela, disponibilizando para os outros moradores do Bairro (eles levam um garrafa com água normal, e pegam a congelada). Aquele que tem partilha com o outro que não tem… Como as famílias da Chapadinha são bem carentes, para as nossas refeições (6 missionários), as famílias se juntaram e cada dia, a refeição era servida numa casa. As mulheres se reuniam para fazer nossas refeições e todos comíamos (nós e as famílias). Sentimos o quanto o amor e a partilha podem saciar a fome. Como todos se reuniam, após as refeições aproveitávamos para conversar um pouco mais com eles, para brincar com as crianças (que não eram poucas e estavam em período de férias), para ensaiar os cantos da noite e para rezar o terço. Nos bairros da periferia da cidade, em virtude de não terem ainda uma Comunidade formada e um local para os encontros, a devoção é o que ainda move as pessoas. As missas são realizadas em longos espaços de tempo (as vezes, demora-se 2 meses) e a distância para ir nas missas dificulta a participação, além de existirem trajetos longos que não tem iluminação. As pessoas utilizam-se muito do farolete e saem a noite apenas quando tem algum homem para acompanhar. Com isso, a reza do terço e as práticas devocionais são o que mantém acesa a chama do amor e da fé. Uma das nossas “tarefas”, foi ensinar a reza do terço para as crianças, e alguns missionários  puderam dar testemunho do quanto foi gratificante ver que após os primeiros dias, as crianças já estavam rezando o terço junto com os adultos. Uma outra dificuldade enfrentada com paciência e amor pelos missionários, foi a distância entre as casas que nos acolheram para dormir e os bairros que seriam visitados. A maioria saia da casa de manhãzinha e retornava apenas já noite adentro; sempre caminhando… e com o sol que não dava trégua. Como tínhamos várias missionárias de 50, 60, 70 anos… as vezes ficávamos preocupados em como estariam se sentindo: estavam com dores, estavam conseguindo ir e vir (havia muitas ruas com subidas…)??? Porém qual não foi nossa surpresa quando nos encontramos no domingo, e cada um pode partilhar que não sentiu nada, que as dores, os medos, a preocupação com a alimentação, tudo… tudo tinha sido ofertado e que Jesus havia tirado todas essas preocupações dos nossos corações. Cada missionário se lançou no colo de Maria e deu o seu “faça-se”. E com isso Deus pode operar em cada um, despertando a fé em tantos adormecida e em outros, incandescente. Não fomos lá para levar Jesus, pois Jesus já estava entre eles. Fomos apenas para mostrar que temos um Pai que nos ama, um Irmão que deu a sua vida por nós e um Espírito que nos santifica e nos move a cada dia para vivermos a santidade, à qual todos fomos chamados. Em algumas Comunidades, quando iniciamos os trabalhos havia pouca participação; aos poucos a chama interior de cada um foi reacendendo e no final da semana, toda a Comunidade estava reunida e motivada para celebrar o Deus da vida. E nos Bairros da periferia da cidade, procuramos deixar pessoas comprometidas a levar adiante a proposta para se organizarem, se reunirem para orar e refletir a palavra de Deus e também para organizar uma missa mensal/bi-mensal, afim de que dêem continuidade aos trabalhos e motivação iniciada com a Semana Missionária.

Voltamos com um novo ardor, agradecidos a Deus por ter-nos escolhido e por ter nos dado a oportunidade de conhecer novos amigos e novos irmãos da fé. Deixamo-nos moldar por Jesus e nos tornamos homens e mulheres novas. Obrigada Senhor, por nos mostrar que o amor rompe todas as barreiras e todas as distâncias!

 Maria Tereza V. da Silva

Pastoral Missionária – P.N.Sra. de Guadalupe

Nenhum comentário:

Postar um comentário