Na linguagem do amor, o Piauí
fica logo ali…
Há 30 dias atrás estávamos
chegando de uma das experiências mais marcantes em nossas vidas..
A Congregação dos Oblatos de São
José (Josefinos) respondendo aos apelos da Igreja que convida a avançar para
águas mais profundas e ir ao encontro dos irmãos; tem um projeto missionário há
mais de 10 anos onde anualmente se reúnem sacerdotes, religiosas e leigos para
um trabalho missionário, Projeto Marízia.
E neste ano, nosso desafio foi
logo ali… no Piauí, em Bom Jesus, no período de 11 a 24/07. Atendendo a uma
solicitação do Pe, José Valdo, Pároco da Matriz Bom Jesus da Boa Sentença e da
Catedral N.Sra. das Mercês e Pe. Anísio, Pároco da Paróquia Menino Jesus de
Praga, fomos distribuídos em 5 Comunidades Rurais e 3 Bairros da periferia
iniciando na segunda-feira e concluindo na sexta-feira e na Paróquia Menino de
Jesus de Praga no sábado, juntamente com os missionários da casa.
De um grupo de 44 Missionários
entre sacerdotes e leigos, Ourinhos (Paróquias N.Sra. de Guadalupe 16 e São
João Batista 6) teve 22 representantes, tudo isso graças ao despertar ocorrido
com as Santas Missões Populares. Nosso ônibus saiu de Cascavel (PR), passando
por Apucarana, Londrina, Ourinhos e em São Paulo recebemos o envio para as Missões no Piauí. Todos numa
grande expectativa, que reunia: ansiedade, medo do desconhecido, costumes
diferentes, diversas culturas, idades… mas uma coisa tínhamos em comum: o sim
dado ao convite de Jesus “vem e segue-me” e “ide e evangelizai…”.
Tivemos um contratempo com nosso
ônibus que nos manteve parados por 12 horas; porém aproveitamos esse tempo para
nos conhecer melhor, para nos aprofundar nos temas que trabalharíamos lá, para
brincadeiras e para oração. E após uma longa espera, tínhamos terminado de
rezar o terço e estávamos abraçados cantando uma música dedicada à Nossa
Senhora, eis que chega de mansinho o nosso ônibus, já consertado. Foi um
momento forte, de emoção e de alegria! Pudemos constatar a proteção carinhosa
da mãe Maria para com seus filhinhos; e após 60h para os que iniciaram a
jornada em Cascavel/PR, chegamos a Bom Jesus/PI.
Após a acolhida pelo Pároco José
Valdo e pelo Bispo, Dom Ramón Lopes Carrozas, fomos distribuídos em grupos de 4
a 9 missionários, para as Comunidades onde iríamos trabalhar; sendo que uma das
Comunidades rurais, a mais longe, distava a 38km da cidade.
Um dos grandes desafios que
tivemos foi superar o calor de quase 38º que nos afligia; pois saímos de um inverno
para enfrentar um sol muito forte, além do que onde fizemos as visitas, eram
ruas de terra e uma grande parte sem árvores, principalmente na cidade. Os
missionários que foram para as Comunidades Rurais, já tinham um pouco mais de
verde sob suas vistas.
A realidade que encontramos foi
irmãos vivendo com pouca estrutura necessária a uma vida plena, mas com uma
vontade de viver e uma alegria muito grande. Foram muito receptivos às visitas,
à palavra de Deus e ao convite para os encontros noturnos. Em algumas
Comunidades, por falta de um lugar para reuniões, esses encontros para estudos,
partilha e orações, foram feitos nas áreas das casas, com apenas um bico de luz
para iluminar todos os presentes.
Fiz a missão num Bairro de nome
Chapadinha, onde uma parte do bairro foi “tomada” pelos moradores, que lá
chegaram, delimitaram seu terreno, construíram suas casas (bem simples, somente
levantaram as parede e cobriram: sem portas internas, piso, reboco…) e para lá
se mudaram. Uma grande parte não tem água todos os dias e a energia que chega
não é suficiente para resfriar a água. Uma das moradoras que mora num lugar
mais plano tem um freezer, enche as garrafas pet’s de água e congela,
disponibilizando para os outros moradores do Bairro (eles levam um garrafa com
água normal, e pegam a congelada). Aquele que tem partilha com o outro que não
tem… Como as famílias da Chapadinha são bem carentes, para as nossas refeições
(6 missionários), as famílias se juntaram e cada dia, a refeição era servida
numa casa. As mulheres se reuniam para fazer nossas refeições e todos comíamos
(nós e as famílias). Sentimos o quanto o amor e a partilha podem saciar a fome.
Como todos se reuniam, após as refeições aproveitávamos para conversar um pouco
mais com eles, para brincar com as crianças (que não eram poucas e estavam em
período de férias), para ensaiar os cantos da noite e para rezar o terço. Nos
bairros da periferia da cidade, em virtude de não terem ainda uma Comunidade
formada e um local para os encontros, a devoção é o que ainda move as pessoas.
As missas são realizadas em longos espaços de tempo (as vezes, demora-se 2
meses) e a distância para ir nas missas dificulta a participação, além de
existirem trajetos longos que não tem iluminação. As pessoas utilizam-se muito
do farolete e saem a noite apenas quando tem algum homem para acompanhar. Com
isso, a reza do terço e as práticas devocionais são o que mantém acesa a chama
do amor e da fé. Uma das nossas “tarefas”, foi ensinar a reza do terço para as
crianças, e alguns missionários puderam
dar testemunho do quanto foi gratificante ver que após os primeiros dias, as
crianças já estavam rezando o terço junto com os adultos. Uma outra dificuldade
enfrentada com paciência e amor pelos missionários, foi a distância entre as
casas que nos acolheram para dormir e os bairros que seriam visitados. A
maioria saia da casa de manhãzinha e retornava apenas já noite adentro; sempre
caminhando… e com o sol que não dava trégua. Como tínhamos várias missionárias
de 50, 60, 70 anos… as vezes ficávamos preocupados em como estariam se
sentindo: estavam com dores, estavam conseguindo ir e vir (havia muitas ruas
com subidas…)??? Porém qual não foi nossa surpresa quando nos encontramos no
domingo, e cada um pode partilhar que não sentiu nada, que as dores, os medos,
a preocupação com a alimentação, tudo… tudo tinha sido ofertado e que Jesus
havia tirado todas essas preocupações dos nossos corações. Cada missionário se
lançou no colo de Maria e deu o seu “faça-se”. E com isso Deus pode operar em
cada um, despertando a fé em tantos adormecida e em outros, incandescente. Não
fomos lá para levar Jesus, pois Jesus já estava entre eles. Fomos apenas para
mostrar que temos um Pai que nos ama, um Irmão que deu a sua vida por nós e um
Espírito que nos santifica e nos move a cada dia para vivermos a santidade, à
qual todos fomos chamados. Em algumas Comunidades, quando iniciamos os
trabalhos havia pouca participação; aos poucos a chama interior de cada um foi
reacendendo e no final da semana, toda a Comunidade estava reunida e motivada
para celebrar o Deus da vida. E nos Bairros da periferia da cidade, procuramos
deixar pessoas comprometidas a levar adiante a proposta para se organizarem, se
reunirem para orar e refletir a palavra de Deus e também para organizar uma
missa mensal/bi-mensal, afim de que dêem continuidade aos trabalhos e motivação
iniciada com a Semana Missionária.
Voltamos com um novo ardor,
agradecidos a Deus por ter-nos escolhido e por ter nos dado a oportunidade de
conhecer novos amigos e novos irmãos da fé. Deixamo-nos moldar por Jesus e nos
tornamos homens e mulheres novas. Obrigada Senhor, por nos mostrar que o amor
rompe todas as barreiras e todas as distâncias!
Maria Tereza V. da Silva
Pastoral Missionária – P.N.Sra.
de Guadalupe
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