IVº DOMINGO DO
ADVENTO-C
A viagem de Maria
“Maria se levantou e
foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá”
(Lc 1,39).
(Lc 1,39).
Assim inicia o
Evangelho de hoje querendo apresentar não uma “pressa agitada e ansiosa”, mas
uma pressa cheia de amor! É o sentido que
sugerem o original grego e a tradução latina. Como já tinha feito
Abraão, Moisés, como fará Jesus e a Igreja: uma viagem- peregrinação de fé.
Mas, Maria não caminhava sozinha: tinha a companhia de Jesus no seu ventre e,
segundo alguns autores, provavelmente a companhia silenciosa de José, ainda que
o texto nada fale sobre isso. Isabel estava grávida de João e grávida de
séculos de espera e o encontro das duas mulheres é o encontro do Eterno com a
história, de Deus com o seu povo. Uma linda frase de Paul Endokimov (teólogo
ortodoxo 1901-1970) afirma: “O mundo é cada vez mais um mundo sem Deus, porque
é um mundo sem Mãe, e, portanto Deus não pode nascer”. Neste Natal viajamos
misticamente com Maria para Ain Karin e para dentro de nós, para que Jesus
nasça nas famílias, na Igreja e na sociedade.
O Evangelho (Lc
1,39-45)
“Foi às pressas às
montanhas” (v.39).
Claramente Maria não
quer constatar pessoalmente o que o Anjo
lhe tinha falado! Ela quer amar e honrar Deus: o discípulo\a é sempre atento à
ação de Deus. Vai sem medo e sem duvidar, como vão os pastores a Belém (Lc
2,16) ou os discípulos de Emaús a Jerusalém (Lc 24,33).
“Saudou Isabel” (v.
40).
Provavelmente usou a
palavra “Shalom” que produziu um efeito estupendo no coração e no ventre de
Isabel que “ficou cheia de ES” (v. 41). E tinha sido escrito que João estaria cheio de ES já no ventre da mãe
(Lc 1,15).
“Bendita entre as
mulheres” (v. 42).
É um grito de fé de
Isabel pelo ES que ela recebeu através da saudação de Maria. O ES comunicado à
Igreja vem de Jesus em Maria e através de Jesus, do Pai. É a teologia de Lucas.
Isabel aqui é profetiza e fala em nome de João e podemos reconhecer o AT que
encontra o Novo em Maria. As profecias se cumprem nestas duas mulheres e nestes
dois filhos. Israel com Isabel se abre ao Evangelho e a Igreja, com Maria, indo
às montanhas de Judá encontra suas raízes históricas e bíblicas. É muito lindo!
“Bem-aventurada tu
que creste” (v. 45).
A fé é a grandeza de Maria. (Lc 8,21; 11,28). Maria
será sempre a peregrina na fé.
Meditando com as
Leituras
1)“No presépio
pequenino..” se canta de Norte ao Sul do Brasil. É evidente neste domingo a
escolha e o gosto de Deus pela “pequenez”. a)A pequenez de Belém, “tão pequena
entre os clãs de Judá”,(Mq 5,1): apesar de ter sido a cidade de Davi e da
monarquia davídica permaneceu sempre pequenina e humilde; b) a pequenez de
Maria (“olhou para a humildade de sua serva”
(Lc 1,47) e de e de Isabel, mulheres do povo; c) a pequenez das duas crianças sendo gestadas. O que é simples, o que é humilde e insignificante é o que Deus gosta, bem na contramão de nossa sociedade. Pare e pense: “gestação de Deus”: é algo extremamente simples e grandioso! ...
(Lc 1,47) e de e de Isabel, mulheres do povo; c) a pequenez das duas crianças sendo gestadas. O que é simples, o que é humilde e insignificante é o que Deus gosta, bem na contramão de nossa sociedade. Pare e pense: “gestação de Deus”: é algo extremamente simples e grandioso! ...
2) Na segunda leitura
Hb 10,5-10 o autor coloca na boca de Cristo as palavras que já se encontravam
no salmo 39,5-7: “Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está
escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade”. Jesus faz
um gesto de obediência radical ao Pai e à humanidade, um gesto de pobreza
extrema e de desapego e de amor casto e infinito. É o amor radical de Jesus!
Nós dizemos: “Seja feita a vontade de Deus!” “Se Deus quiser”: são expressões
que todos nós já pronunciamos alguma vez na vida! Nos momentos de dificuldade,
de dor, de imprevistos, de sonhos desfeitos, de situações sem saída, acabamos
aceitando a Vontade de Deus, sem entender o que dizemos ou suspiramos. Mas, é
mesmo Vontade de Deus, ou mera resignação, ainda que cristã? Aceitar o
inevitável, ou desejar algo de bom, pode ser bom senso, sabedoria humana, certo
jeito “filosófico” de encarar a vida, mas certamente ainda não é aceitar a
Vontade de Deus. No Pai Nosso dizemos: “Seja feita vossa vontade”: aqui vontade
“telema”, indica o desígnio salvífico de
Deus que é sempre o nosso bem, mas, que se realiza sempre com a contribuição
humana. Fazer a vontade é um “Amém” de filho (a) e não submissão amedrontada de
um servo (a). Somente em Cristo, Filho Unigênito do Pai Celeste, e como Cristo,
pode subir a Deus o nosso Amém de culto, vida e amor... E, como Maria, o
cristão\ã de todos os tempos, carrega, pelo batismo, Deus no coração e no
sangue, na alma, no espírito, na vida!
3)No relato da
Visitação podemos avaliar nossa vida, na normalidade de nosso encontros.
Encontramos continuamente pessoas no trabalho, na comunidade paroquial, na
família e até casualmente... Maria nos ensina que cada encontro não é banal e
superficial, mas um sinal de Deus e deve ser sempre um encontro com Jesus.
Basta uma saudação para Isabel sentir que é amada por Deus. Como seria bonito o
mundo assim!
Resumindo: a) um
convite para viver a pequenez o serviço de Maria; b) fazendo a vontade de Deus,
c) na acolhida e nos encontros e “desencontros da vida!”. Um Natal e tanto
amigo\a!
E agora vamos viver -
orar
a)No Evangelho de
hoje tem também uma palavra no original grego que não pode passar sem mais nem
menos. Diz o texto: “Maria se levantou” (v. 39) = “anastasa”: mesma raiz de
“anástasis” que evoca a ressurreição de Jesus! Como Lucas escreve a “Infância”
a partir da Páscoa, esta palavra sugere que Maria é símbolo da Igreja Nova,
ressuscitada, e é lícito pensar que Lucas queria mostrar a missionariedade da
Igreja a partir da discípula Maria que leva Jesus consigo, dentro dela. Um
compromisso então neste Advento-Natal: sermos “ressuscitados e missionários”! (Cfr. “Il vangelo di Tonino Bello, San Paolo,
Cinisello, 2011).
b) O Salmo
responsorial 79 apresenta o Povo eleito que pede a Deus de estar com aqueles
que a Ele se confiam. Usa as imagens do rebanho e do pastor que é Deus e da
vinha escolhida, plantada e cultivada por Deus. E por fim a oração passa à
imagem do Pai que cuida de seu filho e do filho que se compromete a caminhar
com o Pai. Meu amigo\a: ore este salmo e se veja nele como ovelha, como vinha
e, sobretudo, como filho\a querido\a e verá que beleza!
c)Fazer a vontade de
Deus, como Jesus que se ofereceu em “Oblação” (Segunda leitura v.10)pois Deus
não queria mais sacrifícios e holocaustos, queria o coração, ou seja, queria
tudo! Na raiz da verdadeira escuta, submissão, obediência tem sempre, quer nas
coisas grandes, quer nas pequenas e quotidianas um “Amém”, um “Eis - me aqui”
. “Escutar” e fazer a Vontade de Deus
combina e muito, com oração. Faça nesta
semana esta oração:
“Diga ao Senhor: ‘Eu
sou toda vosso\a, e nada mais desejo senão que se cumpra a vossa santa vontade,
mesmo a custo de sacrifícios, também privado\a
de consolações e cheia de aflições; estou pronto\a a tudo, ó Senhor: fazei de mim o que vos
aprouver” (S. José Marello).
d) Olá meu Jesus: você começou a viajar bem cedo ,
no ventre de tua mãe! Sabe, perdoe-me, Jesus trecheiro da vida, pelas vezes que
tive preguiça em viajar que tive medo da peregrinação e que cansei de ser teu
discípulo de Belém ao Calvário! Mãe vem caminhar comigo, pois, me canso á toa nos trilhos da fé, preciso de
tua ternura a partir de hoje até o Natal
eterno na plenitude da Vida!
Um Santo Natal para
todas as famílias, comunidades, para quem sofre e para quem é feliz, para quem,
sobretudo, vive a solidão. Jesus Maria e José nos abençoem a todos.
Padre Mário Guinzoni
OSJ
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