sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

“Bem-aventurada tu que creste”


IVº DOMINGO DO ADVENTO-C
                               A viagem de Maria


“Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá” 
(Lc 1,39).
Assim inicia o Evangelho de hoje querendo apresentar não uma “pressa agitada e ansiosa”, mas uma pressa cheia de amor! É o sentido que  sugerem o original grego e a tradução latina. Como já tinha feito Abraão, Moisés, como fará Jesus e a Igreja: uma viagem- peregrinação de fé. Mas, Maria não caminhava sozinha: tinha a companhia de Jesus no seu ventre e, segundo alguns autores, provavelmente a companhia silenciosa de José, ainda que o texto nada fale sobre isso. Isabel estava grávida de João e grávida de séculos de espera e o encontro das duas mulheres é o encontro do Eterno com a história, de Deus com o seu povo. Uma linda frase de Paul Endokimov (teólogo ortodoxo 1901-1970) afirma: “O mundo é cada vez mais um mundo sem Deus, porque é um mundo sem Mãe, e, portanto Deus não pode nascer”. Neste Natal viajamos misticamente com Maria para Ain Karin e para dentro de nós, para que Jesus nasça nas famílias, na Igreja e na sociedade. 
O Evangelho (Lc 1,39-45)
“Foi às pressas às montanhas” (v.39).
Claramente Maria não quer constatar pessoalmente  o que o Anjo lhe tinha falado! Ela quer amar e honrar Deus: o discípulo\a é sempre atento à ação de Deus. Vai sem medo e sem duvidar, como vão os pastores a Belém (Lc 2,16) ou os discípulos de Emaús a Jerusalém (Lc 24,33).
“Saudou Isabel” (v. 40).
Provavelmente usou a palavra “Shalom” que produziu um efeito estupendo no coração e no ventre de Isabel que “ficou cheia de ES” (v. 41). E tinha sido escrito que  João estaria cheio de ES já no ventre da mãe (Lc 1,15).
“Bendita entre as mulheres” (v. 42).
É um grito de fé de Isabel pelo ES que ela recebeu através da saudação de Maria. O ES comunicado à Igreja vem de Jesus em Maria e através de Jesus, do Pai. É a teologia de Lucas. Isabel aqui é profetiza e fala em nome de João e podemos reconhecer o AT que encontra o Novo em Maria. As profecias se cumprem nestas duas mulheres e nestes dois filhos. Israel com Isabel se abre ao Evangelho e a Igreja, com Maria, indo às montanhas de Judá encontra suas raízes históricas e bíblicas. É muito lindo!
“Bem-aventurada tu que creste” (v. 45).
A fé é  a grandeza de Maria. (Lc 8,21; 11,28). Maria será sempre a peregrina  na fé.

Meditando com as Leituras
1)“No presépio pequenino..” se canta de Norte ao Sul do Brasil. É evidente neste domingo a escolha e o gosto de Deus pela “pequenez”. a)A pequenez de Belém, “tão pequena entre os clãs de Judá”,(Mq 5,1): apesar de ter sido a cidade de Davi e da monarquia davídica permaneceu sempre pequenina e humilde; b) a pequenez de Maria (“olhou para a humildade de sua serva” 
(Lc 1,47) e de e de Isabel, mulheres do povo; c) a pequenez das duas crianças sendo gestadas. O que é simples, o que é humilde e insignificante é o que Deus gosta, bem na contramão de nossa sociedade.  Pare e pense: “gestação de Deus”: é algo extremamente simples e grandioso! ...
2) Na segunda leitura Hb 10,5-10 o autor coloca na boca de Cristo as palavras que já se encontravam no salmo 39,5-7: “Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade”. Jesus faz um gesto de obediência radical ao Pai e à humanidade, um gesto de pobreza extrema e de desapego e de amor casto e infinito. É o amor radical de Jesus! Nós dizemos: “Seja feita a vontade de Deus!” “Se Deus quiser”: são expressões que todos nós já pronunciamos alguma vez na vida! Nos momentos de dificuldade, de dor, de imprevistos, de sonhos desfeitos, de situações sem saída, acabamos aceitando a Vontade de Deus, sem entender o que dizemos ou suspiramos. Mas, é mesmo Vontade de Deus, ou mera resignação, ainda que cristã? Aceitar o inevitável, ou desejar algo de bom, pode ser bom senso, sabedoria humana, certo jeito “filosófico” de encarar a vida, mas certamente ainda não é aceitar a Vontade de Deus. No Pai Nosso dizemos: “Seja feita vossa vontade”: aqui vontade “telema”,  indica o desígnio salvífico de Deus que é sempre o nosso bem, mas, que se realiza sempre com a contribuição humana. Fazer a vontade é um “Amém” de filho (a) e não submissão amedrontada de um servo (a). Somente em Cristo, Filho Unigênito do Pai Celeste, e como Cristo, pode subir a Deus o nosso Amém de culto, vida e amor... E, como Maria, o cristão\ã de todos os tempos, carrega, pelo batismo, Deus no coração e no sangue, na alma, no espírito, na vida!
3)No relato da Visitação podemos avaliar nossa vida, na normalidade de nosso encontros. Encontramos continuamente pessoas no trabalho, na comunidade paroquial, na família e até casualmente... Maria nos ensina que cada encontro não é banal e superficial, mas um sinal de Deus e deve ser sempre um encontro com Jesus. Basta uma saudação para Isabel sentir que é amada por Deus. Como seria bonito o mundo assim!

Resumindo: a) um convite para viver a pequenez o serviço de Maria; b) fazendo a vontade de Deus, c) na acolhida e nos encontros e “desencontros da vida!”. Um Natal e tanto amigo\a!

E agora vamos viver - orar
a)No Evangelho de hoje tem também uma palavra no original grego que não pode passar sem mais nem menos. Diz o texto: “Maria se levantou” (v. 39) = “anastasa”: mesma raiz de “anástasis” que evoca a ressurreição de Jesus! Como Lucas escreve a “Infância” a partir da Páscoa, esta palavra sugere que Maria é símbolo da Igreja Nova, ressuscitada, e é lícito pensar que Lucas queria mostrar a missionariedade da Igreja a partir da discípula Maria que leva Jesus consigo, dentro dela. Um compromisso então neste Advento-Natal: sermos “ressuscitados e missionários”!           (Cfr. “Il vangelo di Tonino Bello, San Paolo, Cinisello, 2011).
b) O Salmo responsorial 79 apresenta o Povo eleito que pede a Deus de estar com aqueles que a Ele se confiam. Usa as imagens do rebanho e do pastor que é Deus e da vinha escolhida, plantada e cultivada por Deus. E por fim a oração passa à imagem do Pai que cuida de seu filho e do filho que se compromete a caminhar com o Pai. Meu amigo\a: ore este salmo e se veja nele como ovelha, como vinha e, sobretudo, como filho\a querido\a e verá que beleza!
c)Fazer a vontade de Deus, como Jesus que se ofereceu em “Oblação” (Segunda leitura v.10)pois Deus não queria mais sacrifícios e holocaustos, queria o coração, ou seja, queria tudo! Na raiz da verdadeira escuta, submissão, obediência tem sempre, quer nas coisas grandes, quer nas pequenas e quotidianas um “Amém”, um “Eis - me aqui” .  “Escutar” e fazer a Vontade de Deus combina e muito, com  oração. Faça nesta semana esta oração:

“Diga ao Senhor: ‘Eu sou toda vosso\a, e nada mais desejo senão que se cumpra a vossa santa vontade, mesmo a custo de sacrifícios, também privado\a  de consolações e cheia de aflições; estou pronto\a  a tudo, ó Senhor: fazei de mim o que vos aprouver” (S. José Marello).

d) Olá  meu Jesus: você começou a viajar bem cedo , no ventre de tua mãe! Sabe, perdoe-me, Jesus trecheiro da vida, pelas vezes que tive preguiça em viajar que tive medo da peregrinação e que cansei de ser teu discípulo de Belém ao Calvário! Mãe vem caminhar comigo, pois,  me canso á toa nos trilhos da fé, preciso de tua ternura a partir de hoje  até o Natal eterno na plenitude da Vida!

Um Santo Natal para todas as famílias, comunidades, para quem sofre e para quem é feliz, para quem, sobretudo, vive a solidão. Jesus Maria e José nos abençoem a todos.

Padre Mário Guinzoni OSJ

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