sábado, 8 de dezembro de 2012

"Veio a palavra do Senhor no deserto a João” (Lc 3,2)


SEGUNDO DOMINGO DE ADVENTO

O“protagonista”(por assim dizer, pois, na verdade é sempre o ES!) deste segundo Domingo de Advento  é João Batista que entra em cena como o primeiro grande personagem evangélico do Advento (os outros são José, Maria e, claro, Jesus). As palavras chaves de hoje são: profeta, Jordão, deserto, batismo de conversão, endireitar caminhos... Veja amigo\a, não são palavras justapostas, mas palavras que formam juntas um itinerário de fé, válido também para nós. O cenário do deserto é introdução à vida pública de Jesus e João Batista, convoca o povo no deserto (lugar de muitas vicissitudes e também experiências espirituais para os Hebreus) para fazer uma conversão decidida, realizar uma nova história, já profetizada no AT (Cfr. primeira leitura Br 5,1-9). Neste domingo somos convidados a  “construir de rodovias”; bem, não serão novas BR, mas, serão caminhos humanos, sociais, comunitários e pessoais, espirituais para preparar o “caminho do Senhor” (Lc. 3,4) e “ver a salvação do nosso Deus” (Lc. 3,6) no fim do Advento. Vamos aprender esta engenharia? 


O Evangelho (Lc  3,1-6)
“No ano décimo quinto” (v. 1).
Lucas une o relato evangélico  com  a história profana e quer enquadrar a salvação num contexto bem concreto. Estamos no ano 782 da fundação de Roma e aqui são listados os poderosos da época seja religiosos como políticos.  Ituréia,  Traconitide e Abiline, são territórios pagãos  da província romana da Síria. O Império todo está nas sólidas mãos de Tibério Cesar e estamos  num mundo dominado e centralizado por Roma e o evangelista, com isso, afirma que este mundo precisava de libertação.
“Veio a Palavra do Senhor” (v.2)
A época de Jesus parecia ser  morta, sem profetas, sem personagens de destaque. Eis então que a Palavra volta a ser ecoada e ouvida. É como um anúncio de um mundo novo.
“Percorria toda a região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados” (v. 3)
O lugar parece ser nos arredores de Jericó, onde Josué introduziu o povo na Terra Prometida. Um lugar altamente simbólico e cheio de vida para o povo. Aqui João prega como arauto de Deus o primeiro querigma, (vem de keryx- trombeta especial que anunciava os grandes acontecimentos) da salvação. Conversão (metanoia) quer dizer mudança de mentalidade, mudanças de rumo simbolizado pelo batismo ou imersão, que numa leitura pós- pascal simbolizava a paixão de Jesus.
“Uma voz clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo vale será aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o que estiver torto, e os caminhos escabrosos serão aplainados”(v. 4-5)
Deserto era para os hebreus experiência de Deus, de libertação, de Aliança, de Promessas cumpridas por Deus. Só que no texto de hoje, o deserto era  cheio de multidão (Cfr. v. 7.10.15.18.21 e Mc 1,5). O texto de Isaías a que se refere é  40,3 ss. Marcos e Mateus param em Is 40,3, mas, Lucas vai além na citação (40,4-5) evocando um caminho  onde  o Senhor poderá avançar sem vales, montes e caminhos escabrosos.
Meditando a Palavra
Apenas três momentos
a) Preparar o caminho do Senhor
Preparai o caminho do Senhor,...” (Lc 3,4-5). É fácil entender intelectualmente o Evangelho e aplicá-lo teoricamente à nossa vida, mas, passar mesmo o Evangelho para a vida concreta de família, de comunidade, exige muito trabalho duro, planejamento, e, seja comunitariamente como pessoalmente, requer uma “decidida” conversão, uma mudança de estilo de vida para deixar-se tomar por Deus, pelo Reino e pelo Evangelho! Como fazer? Veja o segundo momento.
b)Discernir
“Que a vossa caridade se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério, com que possais discernir o que é mais perfeito e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo” é o convite da segunda leitura de Fl 1 nos v. 9 e 10. O critério único de discernimento para a santidade é a caridade e a palavra mais” é importante! Entre duas escolhas qual nos aproxima mais  de Deus? Qual é aquela que me compromete mais? Segundo os mestres da vida cristã, normalmente a mais difícil é sempre a vontade de Deus que devemos escolher! E o que fazer para viver mesmo o discernimento?  Siga em frente!
c)Vestir-se de Deus: a festa da libertação.
“Tira, Jerusalém, a veste de luto e de miséria; reveste, para sempre, os adornos da glória divina(Br 5,1). Baruc era o secretário de Jeremias, e o livro que tem o seu nome,  parece que foi escrito durante o desterro da Babilônia e enviado a Jerusalém para ser lido nas assembleias, mas, a data mais certa, segundo alguns autores,  seria a metade do I século a. C. O texto é um convite do profeta que anuncia como que um novo Êxodo para o povo desanimado; para nós hoje é um convite a viver o Êxodo do nosso Batismo, viver nossa dignidade cristã sem pestanejar. Leremos no dia de Natal este texto de S. Leão Magno, no Ofício das Leituras: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não te esqueças de que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus” (São Leão Magno, Sermão 21, 3)

Viver
a) A nível pessoal
Não basta somente meditar o texto, mas, de honestamente cada um\a  reconhecer que temos caminhos tortos, vales a serem  aterradas, e até caminhos escabrosos para serem  aplainados. Este é um tempo bom para um tipo de retiro, um exame de consciência mais profundo, para tomar uma decisão firme e sair de nossa mediocridade.
Este Advento é mais uma ocasião que não podemos perder.
b)A  nível de Igreja
Neste segundo domingo (e também no terceiro) a liturgia apresenta  a pessoa de João Batista.  O que tem a dizer este profeta, de certa forma estranho, para o nosso tempo, para a nossa Igreja do Brasil? Não se trata de viver no deserto, vestir pele de camelo e comer gafanhotos e mel silvestre, mas, de interiorizar vivenciar o estilo profético de João. E como precisamos!

A Igreja e o mundo precisam de profetas no campo social, político, educacional, familiar, no campo da saúde... João Batista nos ensina a viver nossa vocação profética batismal de anunciadores do Reino; nos incentiva a retomar o nosso caminho de conversão e santidade  com suas virtudes que são muito necessárias hoje: zelo, coragem, testemunho de vida; sinceridade, seriedade, defesa destemida da fidelidade do matrimônio e da vida; nos ajuda a tomar consciência que cada um\a de nós é dom de Deus. 

Orar
“Maria, hoje não sabemos esperar estamos com falta de esperanças na vida. As fontes delas secaram. Sofremos uma crise profunda de desejo, pois nos contentamos com desejos falsos e nem esperamos mais as promessas do além, assinadas pelo sangue de teu Filho. Maria, dona - nos uma alma vigilante para não sentirmo-nos como filhos do crepúsculo, dona -nos a graça de sermos filhos do advento, sentinelas da manhã, dai-nos um coração jovem para acordar a aurora. Torna-nos, com tua cumplicidade ministros da Esperança, ó Virgem do Advento!”(Dom  Tonino Bello)

Bom final de semana para todos (a)

Padre Mário Guinzoni OSJ

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