SEGUNDO DOMINGO DE ADVENTO
O Evangelho (Lc 3,1-6)
“No ano décimo quinto”
(v. 1).
Lucas une o relato evangélico
com a história profana e quer
enquadrar a salvação num contexto bem concreto. Estamos no ano 782 da fundação
de Roma e aqui são listados os poderosos da época seja religiosos como
políticos. Ituréia, Traconitide e Abiline, são territórios
pagãos da província romana da Síria. O
Império todo está nas sólidas mãos de Tibério Cesar e estamos num mundo dominado e centralizado por Roma e
o evangelista, com isso, afirma que este mundo precisava de libertação.
“Veio a Palavra do
Senhor” (v.2)
A época de Jesus parecia ser
morta, sem profetas, sem personagens de destaque. Eis então que a
Palavra volta a ser ecoada e ouvida. É como um anúncio de um mundo novo.
“Percorria toda a
região do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão dos
pecados” (v. 3)
O lugar parece ser nos arredores de Jericó, onde Josué
introduziu o povo na Terra Prometida. Um lugar altamente simbólico e cheio de
vida para o povo. Aqui João prega como arauto de Deus o primeiro querigma, (vem
de keryx- trombeta especial que anunciava os grandes acontecimentos) da
salvação. Conversão (metanoia) quer dizer mudança de mentalidade, mudanças de
rumo simbolizado pelo batismo ou imersão, que numa leitura pós- pascal
simbolizava a paixão de Jesus.
“Uma voz clama no
deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo vale
será aterrado, e todo monte e outeiro serão arrasados; tornar-se-á direito o
que estiver torto, e os caminhos escabrosos serão aplainados”(v. 4-5)
Deserto era para os hebreus experiência de Deus, de
libertação, de Aliança, de Promessas cumpridas por Deus. Só que no texto de
hoje, o deserto era cheio de multidão
(Cfr. v. 7.10.15.18.21 e Mc 1,5). O texto de Isaías a que se refere é 40,3 ss. Marcos e Mateus param em Is 40,3,
mas, Lucas vai além na citação (40,4-5) evocando um caminho onde o
Senhor poderá avançar sem vales, montes e caminhos escabrosos.
Meditando a Palavra
Apenas três momentos
a) Preparar o
caminho do Senhor
“Preparai o caminho
do Senhor,...” (Lc
3,4-5). É fácil entender intelectualmente o Evangelho e aplicá-lo teoricamente
à nossa vida, mas, passar mesmo o Evangelho para a vida concreta de família, de
comunidade, exige muito trabalho duro, planejamento, e, seja comunitariamente
como pessoalmente, requer uma “decidida” conversão, uma mudança de estilo de
vida para deixar-se tomar por Deus, pelo Reino e pelo Evangelho! Como fazer? Veja
o segundo momento.
b)Discernir
“Que a vossa caridade
se enriqueça cada vez mais de compreensão e critério, com que possais discernir
o que é mais perfeito e vos torneis puros e irrepreensíveis para o dia de
Cristo” é o convite
da segunda leitura de Fl 1 nos v. 9 e 10. O critério único de discernimento
para a santidade é a caridade e a palavra “mais” é importante! Entre duas
escolhas qual nos aproxima mais de Deus?
Qual é aquela que me compromete mais? Segundo os mestres da vida cristã,
normalmente a mais difícil é sempre a vontade de Deus que devemos escolher! E o
que fazer para viver mesmo o discernimento?
Siga em frente!
c)Vestir-se de Deus:
a festa da libertação.
“Tira, Jerusalém, a
veste de luto e de miséria; reveste, para sempre, os adornos da glória
divina” (Br 5,1). Baruc era o secretário de Jeremias, e o
livro que tem o seu nome, parece que foi
escrito durante o desterro da Babilônia e enviado a Jerusalém para ser lido nas
assembleias, mas, a data mais certa, segundo alguns autores, seria a metade do I século a. C. O texto é um
convite do profeta que anuncia como que um novo Êxodo para o povo desanimado; para
nós hoje é um convite a viver o Êxodo do
nosso Batismo, viver nossa dignidade cristã sem pestanejar. Leremos no dia
de Natal este texto de S. Leão Magno, no Ofício das Leituras: “Reconhece, ó
cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina,
não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembra-te de que
cabeça e de que corpo és membro. Não te esqueças de que foste libertado do
poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus” (São Leão
Magno, Sermão 21, 3)
Viver
a) A nível pessoal
Não basta somente meditar o texto, mas, de honestamente cada
um\a reconhecer que temos caminhos
tortos, vales a serem aterradas, e até
caminhos escabrosos para serem
aplainados. Este é um tempo bom para um tipo de retiro, um exame de
consciência mais profundo, para tomar uma decisão firme e sair de nossa
mediocridade.
Este Advento é mais uma ocasião que não podemos perder.
b)A nível de Igreja
Neste segundo domingo (e também no terceiro) a liturgia
apresenta a pessoa de João Batista. O que tem a dizer este profeta, de certa forma
estranho, para o nosso tempo, para a nossa Igreja do Brasil? Não se trata de
viver no deserto, vestir pele de camelo e comer gafanhotos e mel silvestre,
mas, de interiorizar vivenciar o estilo profético de João. E como precisamos!
A Igreja e o mundo precisam de profetas no campo social,
político, educacional, familiar, no campo da saúde... João Batista nos ensina a
viver nossa vocação profética batismal
de anunciadores do Reino; nos incentiva a
retomar o nosso caminho de conversão e
santidade com suas virtudes que são
muito necessárias hoje: zelo, coragem,
testemunho de vida; sinceridade, seriedade, defesa destemida da fidelidade do
matrimônio e da vida; nos ajuda a tomar consciência que cada um\a de nós é dom de Deus.
Orar
“Maria, hoje não sabemos esperar estamos com falta de
esperanças na vida. As fontes delas secaram. Sofremos uma crise profunda de
desejo, pois nos contentamos com desejos falsos e nem esperamos mais as
promessas do além, assinadas pelo sangue de teu Filho. Maria, dona - nos uma
alma vigilante para não sentirmo-nos como filhos do crepúsculo, dona -nos a
graça de sermos filhos do advento, sentinelas da manhã, dai-nos um coração jovem
para acordar a aurora. Torna-nos, com tua cumplicidade ministros da Esperança, ó
Virgem do Advento!”(Dom Tonino Bello)
Bom final de semana para todos (a)
Padre Mário Guinzoni OSJ
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