“Todos
ficaram cheios de Espírito Santo” (At 2,4)
“Nem sequer ouvimos dizer que existe um Espírito
Santo”
(At 19,2) foi a resposta que os discípulos de Éfeso deram a Paulo. Os
discípulos\as que somos nós hoje com certeza já ouvimos falar do ES, mas, muitas
vezes o consideramos sim uma pessoa da SS. Trindade, mas, “de segunda” ou
vivemos tranquilamente sem Ele, mesmo tendo-o recebido no Sacramento da Crisma.
Mais do que escrever, falar, cantar sobre o Espírito Santo, é importante fazer
dEle e com Ele uma real experiência, viver uma vida toda segundo o Espírito (Gl
5,16-26). Os Padres da Igreja compararam o Espírito Santo à água e ao sol: como
estes dois elementos da natureza produzem seus efeitos benéficos sobre todos os
seres, mas, cada um os recebe conforme sua capacidade, assim o E.S desce sobre
todos, mas, em cada um produz efeitos diferentes segundo suas capacidades e,
sobretudo sua abertura do coração. O convite desta solenidade, è deixar-se
embalar pelo Espírito Santo para darmos uma arrancada naquilo que de verdade
conta mais na vida que é a santidade que se nutre de paz, de perdão (Evangelho)
e da partilha dos dons (segunda leitura).
O que o texto diz (Hoje a primeira leitura At 2,
1-11)
“Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos
reunidos” (v. 1)
O texto original diz “estava para se cumprir o dia
de Pentecostes” e sugere o fim de um itinerário que iniciou na Páscoa: neste
dia se completa, portanto, o que na Páscoa se iniciou. “Reunidos” tem um
sentido rico de união orante e não apenas de união física, como encontramos
também em At 1,14 e Lc 24,49. Este grupo
unido, com Maria, (1,14) é ícone da
Igreja que espera o Espírito Santo.
“De repente veio do céu um ruído, como de um vento
impetuoso, que encheu toda a casa..” (v.2)
“De repente veio do céu” =algo de inaudito,
imprevisível, que só pode vir de Deus e que é difícil explicar e por isso o
texto fala “como de um vento” =semelhante, mais ou menos, algo indefinível.
Espírito em hebraico diz-se “Ruah”, que significa “vento”, “aragem”. O Ruah Javé
é o Hálito que sai da boca de Deus como Vida (Gn 2,7). Note-se que em hebraico
é substantivo feminino: a divina Ruah! Em grego Espírito também quer dizer
vento. O vento, um dos símbolos do E. Santo, atua sem ser visto, sem se
conseguir agarrar, “sopra onde quer, ninguém sabe de onde vem nem para onde
vai, mas todos escutam a sua voz” (Jo 3, 8). (Cfr.1Rs 19, 12-13). Também Jesus
Ressuscitado “soprou sobre os Apóstolos, dizendo-lhes: Recebei o Espírito
Santo!” em Jo 20, 22, que é um dos Evangelhos que podem ser lidos no dia de hoje..
“Apareceram línguas como de fogo...”(v.3)
O autor mais
uma vez não sabe explicar e diz “como de fogo”. Eram línguas distintas e, -
sempre no original grego- tomaram posse de cada um deles, mas, de forma
pessoal, como uma presença definitiva e total.
Fizeram morada neles!
“Encheram-se todos de Espírito Santo e começaram a
falar em línguas
Um sentido de plenitude de Deus que ocupa os
corações, e plenitude da Páscoa. Aqui se diz que falavam línguas estrangeiras,
mais para frente (v.8) cada um entende
em sua língua nativa. Lucas quer fazer dois paralelos com o AT e basta ler os
textos para conferir e ver as coincidências. O primeiro é Êxodo 19,1-20,21,
quando da entrega da antiga lei e o segundo é Gn 11 com o relato da torre de Babel
invertendo o sentido. Notar, mais uma vez, como o ES repeita cada
individualidade: “conforme o Espírito os inspirava” (v. 47).
“Moravam em Jerusalém, judeus piedosos vindos de
todo o mundo... Partos, medos, elamitas...” (v. 5.9-11)
A lista dos povos indica e simboliza a Igreja, os
povos que são convocados para pertencer-lhe. Vem a mente as assembleias do AT
em Js. 24; Is 49, 22ss; Is 60,4-9; Zc 8, 7-9, Joel 3,1-3. É a linguagem de
Deus, o Amor, que “chega aos confins do
mundo” (Sl 19,5) e nos confins do coração humano.
A Palavra ilumina nossa vida
Quem conduz a Igreja é Ele!
Pentecostes é o tempo da Igreja é a festa da Igreja,
e, portanto, nosso aniversário. Parabéns para nós! Mas temos que lembrar o que Endokimov
(1901-1970, teólogo russo) dizia: “A Igreja não é um barco a remo que avança
pela força e destreza dos braços, dos que estão dentro, mas um barco a vela que
avança, segundo o vento, que o impele do alto: o vento do Espírito Santo”.
Portanto colocar bem claro em nossa cabeça que protagonista da missão é o
Espírito e não você, eu. Os dons e ministérios que temos são “manifestação do
Espírito Santo para o bem comum” (1 Cor 12,7), são para o serviço e para
construir “um único corpo” (v. 13). Em qualquer lugar antes de nós chegou o
Espírito! Com o E. S. a antiga Babel se transforma hoje em Igreja corpo de
Cristo e povo de Deus.Os sete dons do Espírito se resumem no único dom do Amor
que é o mesmo ES.
Realizar o milagre das línguas. Vamos sonhar!
Hoje é urgente que você eu, nós, com a graça do
Espírito realizemos o milagre das línguas. Já: quantas línguas, nós, sabemos
falar? Melhor: quantas línguas, nós, testemunhamos? Deveríamos falar todas as
línguas possíveis: a fé, a coragem, o perdão, a acolhida, o serviço...Todas se
resumem na grande língua do AMOR! O amor é o verdadeiro fogo que aquece o mundo
e que muda as pessoas por dentro. Que tal este milagre das línguas, e viver uma
família- pentecostes, uma política- pentecostes, uma comunidade – pentecostes,
uma VRC pentecostes...? Mas, muitas vezes, o mais fascinante, mas também, mais
difícil é conhecer e interpretar a língua do irmão\a que vive ao meu lado!
Unidade, amigos, quer dizer= saber perder, o meu eu morrer por causa de Jesus
não apenas para viver em paz, mas, por amor a Jesus. Renúncia pela renúncia não
tem sentido. Isto é “beber de um único
espírito”( 1 Cor 12, 13).
“Enviai o vosso Espírito Senhor e da terra toda a
face renovai” (Sl 103).
Só com o Espírito podemos viver divinizados. O NT
usa expressões fortes para dizer isso: “prisioneiro do Espírito” (At 20,
22),“movido pelo Espírito” (Lc 2,25- 27), “imbuído pelo Espírito” (Mt 4,1),
“cheios de Espírito Santo” (Ef. 5,18)”,
“andar segundo o Espírito” (Rm 8,1 ss.) ”templos do Espírito Santo”
(1 Cor
6,19).. Ora, viver segundo o Espírito Santo, quer dizer viver uma vida guiada e iluminada, conduzida, pelos
mesmos sentimentos de Jesus, pois o Espírito nos guia a Cristo. Precisamos
deixar de lado um “cristianismo de salão” (Papa Francisco) em nossa vida e nas
pequenas escolhas do cotidiano! Isso sim é entristecer o Espírito Santo!(Ef.
4,30) Afinal:“acima de Jesus nada é estável, tudo passa como o vento!”(S. João
Maria Vianney)”. Claro que este vento não é o Vento do Espírito que é ação,
mudança, conversão.
Eis com clareza a ação do ES.
“Sem o Espírito Santo, Deus fica longe; Cristo
permanece no passado; o Evangelho é letra morta; a Igreja é uma simples
organização; a autoridade é um poder; a missão é propaganda; o culto, uma
velharia; e o agir moral, um agir de escravos. Mas, no Espírito, o cosmos é
enobrecido pela geração do Reino; Cristo Ressuscitado torna-se presente; o
Evangelho faz-se poder e vida; a Igreja realiza a comunhão Trinitária; a
autoridade transforma-se em serviço; a liturgia é memorial e antecipação; o
agir humano é divinizado’. (Atenágoras, Patriarca de Constantinopla 1886 –
1972)
Para viver e orar
Pedir o Espírito Santo (Lc 11,13)
Pedir com insistência o E. Santo, é como ir ao
coração dos problemas é pedir o máximo, não contentar-se do pouco! Por exemplo,
dizer: “Pai te entrego aquela pessoa... dá-lhe o E. Santo!” Outros exemplos:
“Pai não quero o sucesso, mas o Espírito; não coisas materiais, mas o Espírito;
não consolações humanas, mas o Espírito; não quero vitórias espetaculares na
vida, mas o Espírito!”... (Pe Gasparino)
Perceber as marcas do Espírito Santo em nossa vida
Você pode nesta semana (até para começar bem o Tempo
Comum da liturgia e em preparação para a festa da SS. ma Trindade!) perceber em
sua vida as marcas do Espírito Santo, as presenças silenciosas do “doce hóspede
da alma” e viver em companhia dele. Quantas graças, quantas luzes, quanta luta
vencida, quanta vida que este Amor colocou em nós...! E no mínimo, meu amigo\a,
agradecer!
Pneumatologia ou contemplação?
O Espírito de Cristo é que realiza a profunda união
entre Deus e a pessoa humana. De fato Deus enviou o Espírito Santo nos corações
(Gl 4,6), nos assiste (Fl 1,19) e realiza no Batismo em cada pessoa uma
profunda mudança. “Incorporados a Cristo pelo Batismo” (Rm 6,5), os cristãos
estão “mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus” (Rm 6,11),
participam assim da vida do Ressuscitado(Cl 2,12) e se tornam “templos de
Deus”,“templo do Espírito Santo” pois, o “Espírito Santo habita em nós”
( 1Cor
3,16; 6,19;), e, mais ainda, nos tornamos “morada de Deus no Espírito”(Ef
2,22). Assim o cristão (ã) que se torna uma “casa espiritual”
(1 Pd 2,5) vive
na comunhão do Espírito Santo e na unidade com Ele (Ef 4,3). O Espírito Santo
dá a vida em nós (Jo 6,63), e vida é sobretudo o “amor que foi derramado nos
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Seus frutos (Gl
5,22) produzem todas as coisas boas em nós (Ef 5,9), e também trazem a
“liberdade” (2 Cor 3,17). E o Espírito Santo até “perscruta as profundezas da
divindade” (1 Cor 2,10) que está em nós. É como que o guardião de Deus em nós!
Que a Divina Ruah possa sacudir nossos corações,
nossas famílias, nossas comunidades religiosas, as paróquias, a Igreja toda e o
mundo. Vem Espírito Santo!
Padre Mário Guinzoni OSJ
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