quarta-feira, 25 de julho de 2012

Vida consagrada e nova criação

A Bíblia diz que no início Deus disse “fiat” (faça-se) e aconteceu a criação do universo, com os seres vivos, inclusive o ser humano. Este, porém, Deus fez à sua imagem e semelhança. Por orgulho do ser humano houve a degradação e o pecado, ferindo a imagem divina na criatura humana.
Deus não abandonou a obra prima da criação. Em Cristo se inclinou até a pessoa humana, assumiu a natureza humana, reparou pela vida, morte e ressurreição o pecado e houve a nova criação. “Eis que venho para fazer a tua vontade”, disse o Filho de Deus ao Pai Eterno. Jesus, no horto das oliveiras, suou sangue de pavor. Mas disse de novo: “Fiat”, faça-se. E houve a redenção.


Maria disse também ao anjo: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E houve a encarnação do Filho de Deus.
Um dos primeiros escritores leigos do cristianismo – Orígenes – quando foi batizado o filho, arrancou a camisa dele, ajoelhou-se e beijou-lhe o peito, dizendo: “Eu te adoro Trindade santa, presente no coração de meu filho”. Esta é a nova criação. O “sim” de cada pessoa humana atualiza a nova criação, o projeto de Deus na Igreja. Entre tantas maneiras de seguir a Cristo, está a “vida religiosa”, ou vida de especial consagração. É a vocação que recordamos no terceiro domingo de agosto, o mês vocacional.

É uma atração especial, um encantamento por Cristo, para viver como ele, assumir o estilo de vida próprio dele. Viver só para ele, desprendido dos bens que passam e dizer pela vida o “sim” de Cristo, o “sim” de Maria.
Encontrei um jovem que me chamou a atenção. Perguntei: quem é você? E Ele: “Sou aprendiz de cristão”. Perguntei mais: casado, enamorado? Resposta: “Enamorado pelo Reino, celibatário por opção, só a serviço de Cristo e do povo”. Isto acontece hoje, numa periferia urbana.


Lembra o salmista: “O homem, mesmo de fé, é como um sopro; ele passa como a sombra que se esvai; ele se agita e se preocupa inutilmente, junta riquezas sem saber quem vai usá-las” (Sl 38, 7). O religioso não amontoa riquezas, faz voto de pobreza.
Maximiliano Kolbe, o padre que morreu num campo de concentração em lugar dum pai de família, escreveu: “A Sagrada Escritura resumiu a longa permanência de Cristo em Nazaré com estas palavras: E era-lhes submisso” (Lc 2, 51).
Faz eco ao Apóstolo Pedro: “Deus resiste aos soberbos, dá a sua graça aos humildes. Lançai sobre ele toda a vossa preocupação, pois é ele quem cuida de vós” (1 Pd 8, 5-7). O religioso faz voto de obediência.
O Apóstolo Paulo fala do “coração dividido”. Ele mesmo optou totalmente por Cristo: “Para mim, viver é Cristo”. Novamente cito Maximiliano Kolbe: “Não conhecemos, para progredir no amor a Deus, livro mais sublime que Jesus Cristo crucificado” (extraído de uma carta). O religioso faz voto de castidade.
Obrigado, mulheres e homens, que optaram pela vida de especial consagração. Obrigado pelo exemplo de vida, obrigado pela dedicação ao povo e a glória de Deus. O compromisso do povo cristão é orar pelos religiosos, apoiá-los na sua vocação e olhar com ternura para as novas vocações à vida religiosa.

Dom Sinésio Bohn
Bispo da diocese de Santa Cruz do Sul (RS)

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