A Bíblia diz que no início Deus
disse “fiat” (faça-se) e aconteceu a criação do universo, com os seres vivos,
inclusive o ser humano. Este, porém, Deus fez à sua imagem e semelhança. Por
orgulho do ser humano houve a degradação e o pecado, ferindo a imagem divina na
criatura humana.
Deus não abandonou a obra prima
da criação. Em Cristo se inclinou até a pessoa humana, assumiu a natureza
humana, reparou pela vida, morte e ressurreição o pecado e houve a nova
criação. “Eis que venho para fazer a tua vontade”, disse o Filho de Deus ao Pai
Eterno. Jesus, no horto das oliveiras, suou sangue de pavor. Mas disse de novo:
“Fiat”, faça-se. E houve a redenção.
Maria disse também ao anjo:
“Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E houve a encarnação do Filho de Deus.
Um dos primeiros escritores
leigos do cristianismo – Orígenes – quando foi batizado o filho, arrancou a
camisa dele, ajoelhou-se e beijou-lhe o peito, dizendo: “Eu te adoro Trindade
santa, presente no coração de meu filho”. Esta é a nova criação. O “sim” de
cada pessoa humana atualiza a nova criação, o projeto de Deus na Igreja. Entre
tantas maneiras de seguir a Cristo, está a “vida religiosa”, ou vida de
especial consagração. É a vocação que recordamos no terceiro domingo de agosto,
o mês vocacional.
É uma atração especial, um
encantamento por Cristo, para viver como ele, assumir o estilo de vida próprio
dele. Viver só para ele, desprendido dos bens que passam e dizer pela vida o
“sim” de Cristo, o “sim” de Maria.
Encontrei um jovem que me chamou
a atenção. Perguntei: quem é você? E Ele: “Sou aprendiz de cristão”. Perguntei
mais: casado, enamorado? Resposta: “Enamorado pelo Reino, celibatário por
opção, só a serviço de Cristo e do povo”. Isto acontece hoje, numa periferia
urbana.
Lembra o salmista: “O homem,
mesmo de fé, é como um sopro; ele passa como a sombra que se esvai; ele se
agita e se preocupa inutilmente, junta riquezas sem saber quem vai usá-las” (Sl
38, 7). O religioso não amontoa riquezas, faz voto de pobreza.
Maximiliano Kolbe, o padre que
morreu num campo de concentração em lugar dum pai de família, escreveu: “A
Sagrada Escritura resumiu a longa permanência de Cristo em Nazaré com estas
palavras: E era-lhes submisso” (Lc 2, 51).
Faz eco ao Apóstolo Pedro: “Deus
resiste aos soberbos, dá a sua graça aos humildes. Lançai sobre ele toda a
vossa preocupação, pois é ele quem cuida de vós” (1 Pd 8, 5-7). O religioso faz
voto de obediência.
O Apóstolo Paulo fala do “coração
dividido”. Ele mesmo optou totalmente por Cristo: “Para mim, viver é Cristo”.
Novamente cito Maximiliano Kolbe: “Não conhecemos, para progredir no amor a
Deus, livro mais sublime que Jesus Cristo crucificado” (extraído de uma carta).
O religioso faz voto de castidade.
Obrigado, mulheres e homens, que
optaram pela vida de especial consagração. Obrigado pelo exemplo de vida,
obrigado pela dedicação ao povo e a glória de Deus. O compromisso do povo
cristão é orar pelos religiosos, apoiá-los na sua vocação e olhar com ternura
para as novas vocações à vida religiosa.
Dom Sinésio Bohn
Bispo da diocese de Santa Cruz do
Sul (RS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário