Como se sabe, a vocação
matrimonial é um chamado à santidade, assim como o chamado à vida
sacerdotal e à vida consagrada. Mas por razões ainda muito
desconhecidas, poucos são os que realmente entendem a vida conjugal como
caminho de santidade, que possui características específicas. E por que é
um caminho para Deus,não faltam dificuldades. Mas como as pessoas não
entendem que o matrimônio é algo tão excelso, não se dedicam a compreender suas
fases, muito menos prever suas dificuldades. O objetivo dessa reflexão é lançar
luzes sobre uma etapa fundamental do matrimônio: o namoro.
O QUE É NAMORO?
É preciso reafirmar que o namoro
é uma etapa do sacramento do matrimônio. É momento forte de conhecimento de si
e do outro, é hora de pôr em prática as virtudes aprendidas na infância. De
fato, está mais bem preparado para a vida (matrimonial ou consagrada) quem
aprende a amar desde o berço, quem recebe no colo materno a lição da generosidade. Por
isso, a preparação para o matrimônio não começa propriamente no namoro, mas
inicia-se, antes, na família. Contudo, é no namoro a etapa da vida em que
a própria paciência é testada (na família, geralmente, testamos a
paciência de outros); no namoro, a ordem é mais exigida; a
pontualidade, maximamente treinada. Todas essas e outras virtudes são
necessárias para o matrimônio e vão sendo exercitadas no namoro, para serem
levadas a seu cumprimento máximo na vida conjugal.
Namoro, tempo de diálogo...
Fonte: google imagens |
Quem entende o matrimônio à luz
dessa perspectiva compreende muito bem que o namoro, que é preparação para o
casamento, não é um momento sem importância. Pelo contrário, é já um
primeiro tempo para o exercício de virtudes próprias da vida conjugal. Por
isso, o namoro não é útil para quem pensa que o matrimônio é resto, para quem
acredita que o matrimônio é uma vocação de segunda categoria. Não, o
matrimônio é uma vocação excelsa e, portanto, o namoro não é sinônimo
de falta de vocação. Quem inicia um namoro tem já alguma noção da vocação
a que se sente chamado, ainda que não seja raro que namoros terminem para darem
lugar a vocações consagradas a Deus. Com efeito, a vocação matrimonial exige
dos namorados uma fidelidade tal que já é algo da fidelidade que é exigida dos
consagrados. Por esse motivo, não é incomum que namoros terminem por causa de
chamados à vida consagrada. Contudo, a condição para o bom êxito desses casos é
a fidelidade, a si mesmos e a Deus, que as partes precisam
possuir a fim de ouvirem com clareza a Voz de Deus, que “não engana e nem se
engana”.
Portanto, o namoro é uma etapa
específica da vocação ao matrimônio. Assim como essa vocação, o namoro também é
chamado à santidade, mas de modo análogo ao matrimônio. Há atos de amor
próprios do matrimônio, que tornam o amor conjugal agradável a Deus. Ora, os
atos próprios, que tornam o namoro agradável a Deus, são também atos de amor,
mas são distintos daqueles que são próprios dos que se casaram. Os atos de
conhecimento de si e do outro, além de atos de carinho recíproco, são capazes
de santificar o namoro, enquanto etapa do sacramento do matrimônio.
Com efeito, no documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio,
do Conselho Pontifício para a Família, de 1996, apresenta-se a etapa
anterior ao noivado (o namoro, portanto) como momento forte de:
Formação de Caráter (“viver na verdade e no amor”) § 22, 23, 27
Autoconhecimento (“desde a infância”) § 10, 22, 23, 26
Domínio e Estima de Si
(“dom de si”) § 16, 22, 23, 24, 25, 26
Respeito aos irmãos(“convivência comunitária”) § 22, 28, 29
Formação Espiritual e
Doutrinal (“valores humanos e cristãos”) § 22, 23, 24, 25, 30
Ora, se a fidelidade (caráter) é
condição para o matrimônio, é igualmente condição para o namoro cristão;se a
comunhão de vida e sentimentos é condição para o matrimônio (dom de si), o
namoro é já antecipação desse momento, com o conhecimento de si e do outro; se
a dignidade pessoal é ponto fundamental do matrimônio (respeito), a sacralidade
do corpo do outro precisa ser recuperada; se no matrimônio encontra-se a
“igreja doméstica” (formação espiritual e doutrinal), o namoro precisa ser
lugar de oração e conhecimento das Leis de Deus. Sempre, contudo, com
intensidade e frequência menores que os atos próprios do matrimônio.
Por ser uma vocação, todo
namoro possui muitas cruzes. Contudo, apesar dessas diversas dificuldades, o
matrimônio cristão reserva algumas recompensas, que superam em muito suas
dificuldades e que minoram os sofrimentos do namoro:
1. O casal cristão de fato
coopera santamente e de modo único para a santificação do mundo. Por
desígnio de Deus, os pais cristãos colaboram com a geração de novos
filhos de Deus, ato próprio e exclusivo apenas aos pais e mães. Essa
verdade de fé deve alegrar os corações dos namorados e fazê-los anelar por seus
filhos.
2. O matrimônio é um dos lugares
onde se pode viver com mais intensidade e frequência a parábola doBom Samaritano, pois
não há ninguém mais próximo de nós que um estranho, que ao mesmo tempo é nossa
própria carne. Se no mundo se pode esconder por detrás dos deveres
cotidianos para fugir do dever de cuidar do doente que atrapalha o caminho, no
matrimônio isso é impossível, pois ele mora em nossa própria casa.
3. Se a vida do cristão
nessa terra é uma “caminhada de feridos”, uma “procissão de doentes”, a
vida do casal cristão é um verdadeiro pronto-socorro, pois cada dia está
repleto de momentos de verdadeiras curas espirituais, revelando mazelas e
realizando melhoras, pelo simples fato de serem descobertas por olhares atentos
e amorosos.
Há mais motivos, mas só por essas
razões o namoro cristão ganha nova luz aos olhos dos que pretendem fazer de sua
vida um grande hino de louvor, um poema de agradecimento a Deus por
ter-nos criado e, depois, por convidar-nos a viver sua Vida com Ele, sem que
merecêssemos e sem que fôssemos capazes de desejá-la sem sua Misericórdia. Namoro
é isto: resposta ao amor de Deus, que chama os homens a amá-Lo no
matrimônio, gerando novos filhos para o Céu e perdoando-nos todos os dias, nos
sanatórios de nossos lares.
Por Robson Oliveira
Fonte:http://humanitatis.net/?p=7668
Nenhum comentário:
Postar um comentário