“Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra” (Ap 21,1): esta é a profecia deste domingo, um sonho de toda a humanidade desde sempre, a começar do povo da Bíblia (Cfr Is 65,17 ss.), e com certeza, é também o sonho do meu e teu coração, afinal, todos nós sonhamos um mundo feito de relacionamentos diferentes e de qualidade de vida humana e espiritual. Para conseguir este objetivo, o Evangelho mostra hoje um caminho esplendido: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34): o mundo novo começa do amor mútuo, aquele que Jesus deu para nós. Assim construímos a “Nova Jerusalém” (Ap 21,2) e teremos a “morada de Deus entre os homens” (Ap 21,4). Tudo bonito, mas, tem seus custos que a leitura de Atos apresenta: uma fé firme, saber passar por sofrimentos, confiança em Deus, jejuns e orações. O preço do Reino de Deus pode custar, mas convenhamos, compensa bem mais de outros reinos humanos efêmeros.
O Evangelho: Jo 13, 31- 35
“Agora foi glorificado o Filho do Homem” (v.31)
Com a saída de Judas do cenáculo começa o relato do discurso da última ceia e da paixão. Jesus declara a sua glorificação sintetizando o seu mistério pascal. A glória é atributo divino que se reflete também na morte de Jesus. É bom prestar bem atenção na palavra “agora”: começa a “hora” definitiva de Jesus!
“Filhinhos” (v. 33)
A palavra grega, usada somente nesta passagem no Evangelho tem um valor de diminutivo cheio de carinho e ternura. Irá aparecer muitas vezes na primeira carta de João (2, 1;12,28...)
“Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (v. 34).
O mandamento de Jesus é novo não no sentido de inédito, mas de inaudito, ilimitado. Trata-se não só de amar o próximo como a si mesmo (Lv 19,18; Mc 12,31), mas, de amá-lo como Jesus mesmo o amou.
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (v. 35)
A igreja tem a missão de ser uma revelação de Jesus. Por meio da caridade dos seus membros se manifestará a sua semelhança e a sua união com Jesus.
Meditando a Palavra
O DNA de Deus.
O DNA de Deus é o AMOR. “Deus é Amor” (1 Jo 4,8.16) é a afirmação mais conhecida do NT e sintetiza tudo o que Deus é e faz. Tem como ponto alto o envio do Filho (Jo 3,16-17; Jo 3,16) para salvar o mundo. É um amor sem fim, que - Bíblia na mão- nunca se cansou da humanidade e foi até à Cruz. Jesus crucificado e ressuscitado é assim a máxima revelação do amor de Deus. Não tem nada de filosofia ou teologia nisso: tem vida, ação de Deus, paixão pela humanidade. Deus, por assim dizer, é movido a amor para com os homens sejam eles bons ou maus. Deus ama e basta! Faz “SÓ ISSO”!
O amor fraterno
Claro que, se Deus é amor, a humanidade deve decidir-se e optar para um mundo onde reine o amor. Jesus no Evangelho hoje o afirma claramente quando diz: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros” (v. 34). De fato, o mesmo João nãon se contenta com a afirmação que Deus é Amor, mas na sua primeira carta, une Amor de Deus com amor fraterno: E o amor fraterno leva à comunhão, irradia o testemunho, cura as pessoas, gera sabedoria.
Viver o amor.
A vida cristã, a santidade e o amor não necessariamente são tecidos de milagres estrondosos, de êxtases, de experiências místicas especiais, mas, de um único milagre ao nosso alcance: o milagre das pequenas coisas ensopadas de amor. Em outras palavras: praticar a dica da leitura de Atos 21,5: “Eis que faço novas todas as coisas”: novo o nosso trabalho, nova nossa vida familiar e comunitária, novo nosso encontro com Deus, novo nosso jeito de encarar o que é difícil... Novo= impregnado de amor!
A Nova Jerusalém
O discípulo, batizado, é necessariamente comunitário. Jesus propõe uma comunhão de vida aos seus discípulos: entre Ele e eles e entre eles. Discípulos e irmãos de uma mesma imprescindível fraternidade, ou um corpo, na teologia Paulina (1 Cor 12, 12-27) que se torna também missionária como natural consequência e servidora como Jesus que “não veio para ser servido mas para servir” (Mt 20,28). Os presbíteros designados por Paulo na primeira leitura já deviam estar ao par disso: doar todo o amor a todos. Depois, podemos lembrar o grande Agostinho: “ama e faça o que quiser”! Amemos sem mediocridades e Jesus estará no meio de nós e formará em nossas famílias, paróquias, comunidades religiosas, escritórios, hospitais... uma NOVA JERUSALÉM.
Pequenas dicas para viver o novo
Como viver concretamente esta bonita enxurrada de “novo” deste domingo? Parece fácil, algo empolgante, revolucionário. Sim é revolucionário, mas, exigente.
a)Viver o novo nas miudezas do dia - dia .
- Esforce-se para que a mesma ação repetida muitas vezes ao dia possa ser sempre nova “dentro”, e nunca se torne uma rotina.
- Tente extinguir o fogo do “eu” e seja um dom para os outros, pois “um cristão que se fecha em si mesmo e não partilha o que Deus lhe deu não é um cristão” (Papa Francisco). Verá como algo muda ao seu redor.
- “Onde não há amor coloque amor e encontrarás amor” (S. João da Cruz).
- Apresente-se diante de cada irmão\ã com um coração vazio e um coração aberto = misericórdia, perdão...
- Distribua ao longo do dia porções de amor a todos: uma palavra, uma e-mail, um telefonema, um elogio, uma visita...
- Quando mesmo precisa falar: amar falando. Mas, muitas vezes precisar apenas amar calando! Só as palavras que são grávidas de amor e silêncio são cheias, intensas, quentes.
- Escutar o outro até o fim, ou seja, ser um com ele\a antes de responder... Fazer vazio perante o irmão (ã). Quando se ama, se quer escutar outro (a) sem que outras vozes atrapalhem. Se o outro\a é Jesus, isto quer dizer escutar Jesus.
- O que Jesus faria com este irmão\a, nesta situação concreta, no meu lugar?
- Eis umas dicas simples, mas, bastante concretas de Chiara Lubich para amar: a) ama a todos, mas, todos mesmo, sem distinções; b) ama por primeiro, ama porque è amado por Ele; c) procure ver Jesus em todos; d) ame concretamente e não de forma platônica e apenas com o desejo!
- Amar é partilhar o bem e espalhar a vida de Deus. Como Paulo e Barnabé fizeram na primeira leitura: “Chegando ali, reuniram a comunidade. Contaram-lhe tudo o que Deus fizera por meio deles” (At 14,27).
b) Viver o novo na oração
O novo não acontece com passe de mágica e, sabemos que, mesmo para amar se requer luta interior, ajuda e graça de Deus..
- O próprio Evangelho de hoje acontece num contexto de serviço (lava pés) e de intimidade, oração e fraternidade de Jesus com os apóstolos.
- A primeira leitura nos fala de “orações e jejuns” (v. 23) da comunidade e afirma que Paulo e Barnabé eram “entregues à graça de Deus” (v. 26). A vida, como um todo e até o trabalho pastoral exigem esta confiança em Deus, esta entrega. Assim acontece o novo na Igreja: não a busca da produtividade, mas da fecundidade do ES!
- “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda criatura” Esta primeira estrofe do Salmo responsorial, orada com o coração nos ajude a viver o amor de Deus em nossa vida.
- E diante destes novos céus e nova terra não se assuste. Faça, apenas, toda a sua parte! Veja e medite:
O sol ao se pôr atrás dos montes disse; “Vou embora, mas, quem me substituirá?” Uma humilde lamparina respondeu: “farei o melhor que puder”.
(Rabindranath Tagore, poeta indiano 1861-1941).
Padre Mário Guinzoni OSJ.
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