QUARTA F. DA XXX ª SEMANA DO TEMPO
COMUM.
“Esforçai-vos para entrar pela porta
estreita” (Lc 13,22-30)
Será que o Ibope já existia no tempo de
Jesus? A pergunta deste “alguém”
(v.23) anônimo parece andar nesta direção. Desde sempre a humanidade esteve mais
ligada ao exterior, ao rótulo, sem ir ao essencial: quantos, onde, como,
quando... Jesus várias vezes foi abordado nesta direção. O Mestre, que está a
caminho de Jerusalém, não responde com números, com a preocupação do exterior,
mas, com a “qualidade” com o
essencial da salvação. Pare Ele o mais importante era entrar “pela
porta estreita” (v. 24), ou seja, viver o discipulado no caminho da
cruz. De fato, no evangelho segundo João, Jesus se apresenta como a porta das
ovelhas: “Eu sou a porta. Quem entrar por
mim será salvo” (Jo 10,9). É por Jesus que se alcança a salvação. A
humanidade inteira é destinatária da salvação de Deus em Jesus Cristo: “Virão muitos do oriente e do ocidente, do
norte e do sul, e tomarão parte à mesa do Reino de Deus” (v. 29).
Como
viver este ideal de Cristo? Seguir Jesus
Cristo implica também a cruz. Os bispos, na V Conferência disseram: “Hoje
se considera escolher entre caminhos que conduzem à vida ou caminhos que
conduzem à morte (cf. Dt 30.15). Caminhos de morte são os que levam a dilapidar
os bens que recebemos de Deus através daqueles que nos precederam na fé. São
caminhos que traçam uma cultura sem Deus e sem seus mandamentos ou inclusive
contra Deus, animada pelos ídolos do poder, da riqueza e do prazer efêmero, a
qual termina sendo uma cultura contra o ser humano e contra o bem dos povos
latino-americanos. Os caminhos de vida verdadeira e plena para todos, caminhos
de vida eterna, são aqueles abertos pela fé que conduzem à plenitude de vida
que Cristo nos trouxe: com esta vida divina, também se desenvolve em plenitude
a existência humana, em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural. Essa
é a vida que Deus nos participa por seu amor gratuito, porque “é o amor que dá
a vida”. Estes caminhos frutificam nos dons de verdade e de amor que nos foram
dados em Cristo, na comunhão dos discípulos e missionários do Senhor” (DAp 13).
Aprofundando
mais, podemos perceber que antes de tudo é importante frisar bem aquele “fazei
todo o esforço possível” (v.24): evitar a todo custo o perfeccionismo e
lembrar que somos limitados e Deus contenta-se com nosso esforço e com a nossa
luta. Depois, devo perguntar-me concretamente: quais são estas portas estreitas
que de verdade me fazem entrar na “casa-coração” de Jesus? Precisaremos sempre discernir,
mas, normalmente são as mais difíceis. Pode ser uma cruz repentina, uma
incompreensão, um problema econômico e familiar, uma doença, um imprevisto...
São tantas as chances de entrar por esta porta cada dia! Temos que fazer toda a
nossa parte para resolver e superar estas dificuldades, mas, quando não é
possível, não resta que aceitar por amor,
esta porta como chance de salvação na
fé. Pois, não vai valer um dia ter comido e bebido “diante” (v.26) de Jesus, mas sim, ter aceitado sua vontade com
amor. E é bom saber que isto não será prerrogativa apenas nossa, pois, ”virão homens do oriente e do ocidente, do
norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus” (v.29).
Na primeira leitura de hoje (Rm 8,26-30) Paulo
faz duas afirmações muito lindas: “o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que
pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que
intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis” (v. 26) e, “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam
a Deus“ (v.28).
Estas certezas vêm a completar nossa reflexão, pois, mesmo com as cruzes
da vida, com as portas estreitas difíceis de atravessar sabemos
que estas nos fazem crescer na vida
cristã e na santidade e que podemos contar com a assistência do Divino
Espírito Santo. Então amigos\as coragem!
Cantinho de S. José
S. José passou, junto com
Maria, por uma porta estreita e esta passagem durou toda sua vida. Seus
projetos “comuns” a todo homem deste mundo se cruzaram com o Projeto de Deus
sobre ele e teve que assumir uma paternidade e uma esponsalidade deveras
especiais, para amar e defender Jesus. Viveu a sua “kénosis”
pessoal, mas, sem aceitar as coisas com fatalidade ou com mero obedientismo,
pois, tudo nele era fruto de discernimento, de coragem e de acolhida interior
de Deus. A sua porta estreita o levou
a viajar, a fugir, a enfrentar os poderosos, a buscar segurança para sua
família, a viver no anonimato numa fé e que podemos chamar quase “impossível”
humanamente, pois, o que ele via era um menino, um jovem comum diante de si, e
nada mais! Com certeza a sua missão foi vivida com todo “o esforço possível”, deu
tudo de si com as graças que
recebeu de Deus. Soube perceber a presença de Deus em sua vida. Foi um “último” na sua pequenez humana, mas, se
tornou, junto com Maria, “primeiro”
no amor e na santidade. (Cfr. v. 30).
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