O texto Lc 19,11-28
A parábola do Evangelho de hoje era para corrigir o pensamento que na
chegada de Jesus a Jerusalém o Reino de Deus aconteceria logo e seria iminente.
Jesus fundiu, na verdade, duas parábolas distintas: aquelas das moedas de prata
e do pretendente ao trono. Esta última seria tirada de um fato muito concreto,
conhecido, do tempo em que Jesus era criança. Arquelau (23 a. C-18 d. C) filho
de Herodes o Grande (73 a. C. —1 a.C. ), depois da
morte do pai foi para um “país distante”(v.12), ou seja em Roma para
receber a investidura real pelo senado romano. Os Judeus enviaram também uma
delegação para pedir que não fosse ele o escolhido para ser rei por ser muito
cruel. O resultado foi que Arquelau voltou só com o título de etnarca e
governou apenas sobre uma parte da Palestina, mas, se vingou de seus inimigos
com um banho de sangue. Acabou sendo deposto pelos romanos pela sua crueldade
dez anos mais tarde, pois, nem os romanos o aguentavam!
A parábola do rei que viajou para um lugar distante e deu as cem moedas de prata aos 10 servos tem um paralelismo com a parábola dos talentos (cf. Mt 25,14-30). Mas de qual pessoa nobre está falando Jesus? Este rei que na sua volta mesmo rejeitado pelos seus concidadãos foi nomeado rei e pediu conta do dinheiro é claramente ele mesmo, Jesus. Está falando, de sua morte e ressurreição de sua realeza conquistada na cruz e rejeitada pelo povo. Jesus quer dizer claramente que o Reino de Jesus será inaugurado, mas, antes, haveria a revolta contra ele com a sua Paixão e cruz. O v. 27 fala da matança dos inimigos e de forma figurada lembra o que mais tarde se seguirá: a destruição de Jerusalém pelo imperador Tito em 70 d. C.
O que o texto diz para nós
Hoje somos convidados a construir este Reino
com os dons (moedas) que Deus nos deu. Poderíamos sonhar com uma Igreja um
mundo em que cada um (a) faz frutificar os dons que recebeu para construir
justiça, fraternidade, em outras palavras a globalização do amor. Deus para
isto dá um tempo que é a nossa história, dentro da qual temos que viver. Este é
tempo em que se decide o nosso futuro. O além se decide no “agora”, o futuro no
presente. Do jeito que usamos e trabalhamos os dons, os talentos ou moedas que
nos deu seremos reconhecidos por Ele: “Ele respondeu: 'Eu vos
digo: a todo aquele que já possui, será dado mais ainda; mas àquele que nada
tem, será tirado até mesmo o que tem” (v.26). Não se trata de
atitude mercantilista, mas de gratuidade seja do rei como dos empregados.
Granjeamos
de Deus a confiança e por isso temos que lucrar em obras boas sem preguiça e
com responsabilidade. Deus recompensará gratuitamente o que nos deu
gratuitamente! O Reino de Deus é feito de amor e gratuidade e não no lema “quem
tem mais chora menos!”
O cantinho de José
José
viveu no tempo de Arquelau, o “homem
nobre” (v.12) da parábola de Jesus. De fato, na volta do Egito, relata
Mateus, “quando ficou sabendo que
Arquelau reinava na Judéia, em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para
lá. Avisado em sonho, partiu para a região da Galileia, e foi morar numa cidade
chamada Nazaré” (Mt 2,.22-23). Um misto de abandono em Deus e de
responsabilidade e prudência. Este é o nosso José!
Ele
recebeu de Deus muitas moedas de prata, mas, duas de forma especial: JESUS E
MARIA! Estas para dizer a verdade eram de ouro!
E soube trabalhar estas moedas, no amor, no cuidado, no desvelo pela
integridade, no trabalho numa vida de silêncio, amor e dedicação. Recebeu o “governo” (v.17) da cidade- da Sagrada
Família, poderá alguém duvidar que não
foi recompensado por Deus?
Padre
Mário Guinzoni OSJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário